Maria Rosa Gonçalves Saboga Nunes, apresenta amanhã, domingo, 17 de Setembro, às 16h00, na Escola de Azóia de Baixo, o seu livro “Família e Aldeia, Memórias”. Uma obra que reflecte a paixão da escritora pela sua família e pela sua aldeia.
O que a levou a escrever “Família e Aldeia – Memórias”?
Por vezes, quando nos reunimos em família, a nossa memória não se cala e a conversa à volta do presente alarga-se em recordações de dias de um passado já bem afastado de nós. E o pedido de meu sobrinho Paulo Jorge acontecia: “Tia, escreva essas coisas!” O apelo, tantas vezes repetido e ouvido, decidiu-me.
Que lugar ocupam elas na sua vida?
Na realidade, Família e Aldeia ocupam lugar de grande destaque na minha vida.
A Família, porque Família. Seja ela pobre ou rica, de grande saber ou de pouca instrução, a Família será sempre a instituição que maior influência exerce na formação de hábitos e, sobretudo, do carácter: aí aprendemos, por preceito e por exemplo, os valores essenciais que vão nortear a nossa vida. Por isso, a Família será sempre, e para todos, muito importante.
No que diz respeito à Aldeia, além de todos os meus antepassados mais próximos e eu própria aqui termos nascido e vivido, e além de a considerar uma das mais lindas de nosso Bairro, foi sem dúvida a saudade sentida em todos os anos que dela me ausentei que vincou em meu coração um sentir especial por este espaço.
A quem dedica o seu livro?
Sendo, essencialmente, um escrito de memórias que me ficaram de familiares que muito amei e que já não estão connosco, foi à sua memória que dediquei este meu livro.
A obra gira em redor de dois apelidos: Gonçalves e Saboga e a junção de ambos. Qual foi a maior dificuldade que encontrou na investigação profunda que produziu em redor do passado dos seus familiares?
Tendo em conta que, ao escrever este livro, tinha como objectivo único o de conservar memórias familiares para que a minha Família de hoje conhecesse alguns passos de nossos antecedentes, não tive a preocupação de realizar uma investigação tão ampla como poderia, e deveria ter sido feita.
Que método seguiu, de que documentos se socorreu e quanto tempo demorou a escrever o seu livro?
À memória, que é minha de factos relatados, juntei sobretudo dados de docu- mentos oficiais com alguma antiguidade, herdados e guardados por minha Mãe.
Leitora que sempre tenho sido, alguns conhecimentos ficam em memória e também me terão servido em alguns contextos. Sem esquecer a ajuda de um peque- no livro, pertença de minha prima Maria Áurea, na qual seu Avô paterno (Manoel Gonçalves) anotava acontecimentos de relevância na Aldeia que me ajudaram a ligar alguns dados de meu interesse. De- morei algum tempo a escrever este livro.
Dedicava-me a ele quando sentia vontade de o fazer, e quando podia. Assim, com largos intervalos, creio que terei demorado cerca de dois anos, entre 2018 e 2020.
A obra vai ser apresentada este domingo, dia 17 de Setembro, pelas 16h00, na
Escola de Azóia de Baixo. Que significa- do têm esse momento e esse local para si?
O local – a Escola Alexandre Herculano em Azoia de Baixo – tem um significado enorme para mim: O quarto onde nasci, na casa que foi de meus pais e que hoje é de meu irmão, fica-lhe em frente. Numa manhã de Outubro de 1941, quando vi meninas e meninos, com quem costumava brincar, vestidos de batas brancas a dar entrada na Escola…
Não tinha ainda a idade deles. Mas, tanto chorei e pedi que, passados alguns dias, já fazia parte das meninas da bata branca. Esta Escola foi-me sempre um lugar aprazível. Ali aprendi durante todos os anos do ensino primário bem como o de admissão ao ensino liceal. Amo esse local, amo essa Escola!
E sinto como que um arrepio ao pensar que um livro meu vai ter ali a sua apresentação. Sinto-me a criança a querer a bata branca, mas sem ter o estatuto merecido para a usar!
Durante a Jornada Mundial da Juventude, numa das suas intervenções, o
Papa Francisco sublinhou a necessidade de investirmos com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, “levando-nos a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado, mas se favoreçam os laços entre jovens e idosos”. O seu livro apela a isso?
Não o terei referido de forma explícita. Mas, ao escrevê-lo, havia implicitamente o meu desejo forte de passar aos meus a importância do valor que a Família tem, que a Família deve ter, que a Família pode ter na formação da geração seguinte.
Tendo sido professora como vê, nos nossos dias, o papel da família e da escola? Vivemos tempos de complementaridade ou de ‘divórcio’ assumido entre ambas?
Aposentada há cerca de 25 anos, a análise que pudesse fazer poderia estar pouco focada na realidade actual. Mas, tendo como base a experiência vivida, poderei dizer que a complementaridade entre a Família e a Escola é essencial no processo educativo de qualquer criança/jovem.
Certas circunstâncias poderão obstá-la. Porém, a grande sensibilidade de profes- sores e agentes escolares permite, muitas vezes, a identificação de necessidades educativas, e facilitam a que Escola e Família se complementem: situação ideal, quiçá capaz de determinar um perfil de cidadão com valores, e preparado para o mundo de trabalho para o qual a sociedade hodierna o espera.