Após dois anos de interregno, voltou a cumprir-se, em 2022, o Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo, que avançou para a sua oitava edição, a par do II Cruzeiro Ibérico do Tejo. Este ano, o percurso que levou embarcações e populações em peregrinação em honra da Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, começou no dia 4 de Junho em Rosmaninhal, e em Santiago de Alcântara, Espanha para, cerca de 280 km depois, ter terminado na Marina de Oeiras no passado domingo, dia 19. Este ano, as preces foram feitas pela saúde e pela paz no país e no mundo.
Após dois anos de interregno, a Nossa Senhora dos Avieiros voltou a descer o Tejo num cruzeiro de fé pela saúde e pela paz. O percurso “de fé e afectos” seguiu rio abaixo, numa peregrinação fluvial com cariz religioso, mas também cultural, onde se avivou a memória da Cultura Avieira, com paragens em 53 localidades ao longo de 15 dias, entre 04 e 19 de Junho, transpondo três barragens e dois açudes, dividido por nove etapas. Entre as diversas paragens, surgiram os ‘portos’ das comunidades ribeirinhas para adoração à Santa, onde as gentes prepararam recepções solenes, cerimónias e até missas de campo ou nas igrejas e capelas próximas do desembarque, tudo em louvor da padroeira.
João Serrano, um dos organizadores do Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo, disse que há uma “enorme consciência social” nas comunidades do estado em que se encontra o rio e que, se não forem tomadas medidas, pode ser “irreversível”.
“Há uma enorme consciência social que as pessoas têm para o estado em que o rio se encontra, quando começámos o cruzeiro, por exemplo em Vila Velha de Ródão, o Tejo começa a ficar no estado artificial, vê-se que tem de romper inúmeras barreiras, e com a seca ainda pior”, indicou o responsável. Segundo João Serrano o “mesmo rio que deu origem a esta enorme comunidade ribatejana”, e se não foi tido em conta o “estado em que o Homem colocou o rio”, pode ser este “mesmo rio” que os tira dali.
“Pode ser irreversível se não se tomarem medidas sérias para preservar este património natural e sabemos da preocupação que as comunidades nos transmitem e também alguns párocos”, reforçou. Este Cruzeiro é uma “ideia original”, que acontece há oito edições, e une as comunidades ribeirinhas, numa “partilha cultural e identitária”, que revela algo que está latente na comunidade do Tejo, “seja em Portugal e em Espanha”.
“Os pescadores tinham a necessidade de ter uma imagem sagrada que os pudesse representar, havia uma imagem de uma Senhora do Tejo, das águas e assim surgiu com o bispo de Santarém e também com o bispo de Portalegre a ideia de consagrar a imagem de Nossa Senhora à comunidade piscatória do Tejo”, recorda.
João Serrano lembra que o trajecto deste cruzeiro foi aumentando com o passar dos anos porque “havia recepções muito calorosas” e a ressecção da Nossa Senhora era unânime em todo o Tejo, “não só de homens ou mulheres, ou devotos, mas das comunidades ribeirinhas que se identificam”.
“Há as boas vindas, as rezas, a maneira como tocavam na Senhora com devoção, as lágrimas, isto aconteceu ao longo de todo o Tejo e há sempre a ideia de santidade, a mãe que prevalece ao longo de todas as comunidades”, indica.
O responsável explica ainda que a organização apenas “é portadora da imagem” porque o que acontece ao longo do Tejo é organizado pelas próprias comunidades, atitude que revela “o estado de espírito e grande comunidade identitária ao longo do Tejo”.