Para o ex-governante e professor universitário Joaquim Poças Martins, “o lítio não vai ser a solução” para o armazenamento de energia, essencial para a descarbonização e “tudo aponta para que seja mais o hidrogénio do que as baterias”.

“Não se pode destruir uma montanha para tirar meia dúzia de quilos de lítio. Até porque o lítio não vai ser a solução. As baterias não vão ser a solução, não é possível, não há materiais suficientes na Terra para esse efeito. Estou a pensar mais no hidrogénio. A forma de armazenar energia, tudo aponta que seja mais o hidrogénio do que as baterias”, afirmou o ex-secretário de Estado do Ambiente.

O director da Secção de Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e secretário-geral do Conselho Nacional da Água diz que não acredita “nas baterias como solução”, porque “com meia dúzia de carros eléctricos, já não há baterias”.

“Daqui a meia dúzia de anos, vamos ter aí um problema grave, e não é o lítio que o vai resolver”.

Por outro lado, “o chamado hidrogénio verde pode ser produzido e, quando arde, o produto final é água, em vez de CO2 [dióxido de carbono]”.

“É a minha convicção que, de facto, a energia é talvez o grave problema, um dos principais problemas, que vêm aí para o futuro, mas que é certamente parte da solução. O mundo de energia abundante e segura, e barata, vai permitir que muito mais pessoas estejam na Terra, em todos os lados, e que vivam melhor. Isso não vem das soluções actuais”.

Até mesmo em relação ao hidrogénio, “a tecnologia ainda está em maturação, ou seja, o desenvolvimento industrial em larga escala de hidrogénio verde em que se usa, por exemplo, a energia solar em abundância para produzir hidrogénio, e usa-se quando não há sol”.

O especialista diz que “tudo aponta” para um recurso cada vez maior à “energia fotovoltaica e à energia eólica offshore, do género do que há em Viana do Castelo, com turbinas muito maiores, mas, sobretudo, energia do sol”.

“A ciência está lá, a tecnologia ainda não suficientemente. O carro a hidrogénio, o avião a hidrogénio, tudo a hidrogénio, ainda fica demasiado caro, porque a tecnologia ainda não está madura, mas vai estar em cinco ou 10 anos. A solução vem aí e não será a pilhas”.

Questionado sobre a intenção portuguesa de explorar os seus recursos do metal alcalino, Poças Martins considera que “usar lítio, desde que em sítios onde não tenha impactos sociais e ambientais, sim”.

“Estar a destruir montanhas inteiras, a deslocalizar pessoas, para tirar uma quantidade de lítio pequena, para uso privado, menos”, prosseguiu.

Joaquim Poças Martins é licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e doutorado pela Universidade de Newcastle, em Inglaterra.

Desde 1974 é docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde dirige a Secção de Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente.

É secretário-geral do Conselho Nacional da Água desde 2013 e foi, entre 1993 e 1995, secretário de Estado do Ambiente e do Consumidor do XII Governo Constitucional de Portugal, no último governo liderado por Aníbal Cavaco Silva.

Leia também...

Chamusca lança programa de apoio ao comércio local

A Câmara Municipal da Chamusca está a lançar um ‘Programa de Apoio à Recuperação do Comércio Local do Concelho’, para dar resposta e minimizar…

Associação empresarial oferece acções de formação gratuitas até final do ano

A NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém oferece um conjunto de acções de formação, sem qualquer custo para as entidades empregadoras, nem…

Trabalhadores do Lidl do Porto Alto em greve contestam redução de horário e salário

Trabalhadores do entreposto do Lidl do Porto Alto, no concelho de Benavente, estão esta segunda-feira, 20 de Julho, em greve, protestando contra a decisão…

Maria do Céu Antunes fecha acordo histórico para uma nova Política Agrícola Comum

O Conselho da União Europeia (UE) deu, no início desta semana, o aval político ao acordo provisório alcançado pela presidência portuguesa e o Parlamento…