João d’Aldeia, poeta do Vale de Santarém” é o “primeiro filho literário” de Victor Manoel Pinto da Rocha e foi apresentado na tarde do passado domingo, 23 de Junho, na Junta de Freguesia do Vale de Santarém, terreno onde o poeta chegou a ter a sua horta.
A obra surge no âmbito das comemorações do 140º aniversário de nascimento de João Silva Nogueira que foi amplamente divulgado nas páginas deste Jornal e insere-se ainda nas comemorações do 24.º Ano de elevação do Vale de Santarém a Vila, em 1995, por iniciativa dos autarcas Alfredo Lobato e José Miguel Noras, presentes na sala, à data, presidentes da Junta de Vale de Santarém e da Câmara de Santarém, respectivamente.
O livro divide-se em três partes: ‘A Época’, ‘O Homem’ e ‘A Obra’ e nele constam “versos do Vale feitos para o Vale”, por um “poeta nato do amor”, que Victor Pinto da Rocha conhece “desde os sete anos”.
“Cerca de 90 por cento da sua poesia são poemas à mulher do Vale”, lembrou o autor da obra, destacando a presença na sala de Isaurinda Carvalho Monteiro, hoje com 97 anos de idade, “uma das musas do poeta”, a Moleirinha da Ribeira, também ela homenageada na sessão.
João Silva Nogueira (1879 – 1961) era um dos poetas ribatejanos quase esquecidos embora a sua obra seja um exemplo marcante no panorama do telurismo e do lirismo português.
Autodidacta, foi colaborador literário do jornal ‘O Mundo’ do panfletário França Borges, um dos mais lidos meios de comunicação da altura. Aí, contactou com os maiores nomes da literatura portuguesa, nas tertúlias e cafés lisboetas de começos do século XX.
A sua imensa produção literária, desde cedo amplamente divulgada pela imprensa regional, – João d’Aldeia colaborou com 28 jornais dispersos por todo o país, – encontra-se também dispersa por muitas famílias detentoras de exemplares que estão agora a ser divulgados junto da Associação Cultural Vale de Santarém – Identidade e Memória (ACVS-IM) que trabalha na recolha de todo o espólio do poeta.
Tendo cultivado todos os géneros literários em verso, deixou-nos também três obras ainda inéditas, mas com edição programada pela Junta de Freguesia de Vale de Santarém: “Poemas de um Poeta … de Papel Pardo”, “Gorjeios de minha alma” e “Pedaços de minha vida”, o que faz dele uma figura incontornável da poesia portuguesa na viragem do século XIX para o século XX, atingindo o seu clímax poético nas décadas de 40, 50 e 60.
“Para mim, João d’Aldeia começou por ser, tão só e apenas, um nome que me acostumara, ainda miúdo, a encontrar nas páginas do Jornal “Correio do Ribatejo” que o meu pai trazia, ao fim de semana, para casa,” nota Victor Pinto da Rocha no seu livro.
“Reencontrei-o, anos mais tarde, já no Vale de Santarém, em casa de um grande amigo e ex-camarada de armas nas Escolas Práticas de Mafra e de Santarém, o João Vasco Lima Oliveira, onde, na saleta da sua mãe, Maria Gertrudes Malfeito Victor Oliveira, num painel, numa das paredes, havia uma montagem de recortes do “Correio do Ribatejo” com poemas do mesmo João d’Aldeia, sobre o qual conversávamos longamente nos inesquecíveis serões passados em sua casa,” acrescenta.
“Encontrámo-nos de novo, muitos anos mais tarde, quando dei por mim na Junta de Freguesia do Vale de Santarém, por volta do ano 2000, precisamente no local onde João d’Aldeia tivera a sua horta. Decidi, então, que eram horas de procurar tudo o que houvesse sobre o poeta. Comecei pelo mais fácil e lógico: tentar localizar o mais possível da sua poesia dispersa, ao longo de una vida, pelo “Correio do Ribatejo”. Depois fui conversando com este, aquele e o outro, todos os que, de uma maneira ou de outra, haviam contactado ainda em vida com João Silva Nogueira. E fui juntando as pontas, ligando a poesia à vida do poeta, correndo caminhos e descaminhos,” testemunha Pinto da Rocha.
“Dele resta a sua obra imensa, praticamente desconhecida, e com parte importante dispersa ainda pelas mãos de muitas das suas musas inspiradoras ou dos seus descendentes. Uma obra essencialmente repartida por três obras, duas delas manuscritas e outra de que apenas existe uma prova tipográfica, dado que o autor, por motivos vários, acabará por desistir da sua publicação, e que estão, de momento, a merecer toda a minha atenção, já que nela há, indubitavelmente, influências de tantos e tão variados dos mais reconhecidos poetas portugueses, como Almeida Garrett, Júlio Diniz, João de Deus, Guerra Junqueiro, António Nobre e Antero de Quental,” revela Victor Manoel Pinto da Rocha.
O autor, na sessão de lançamento da obra, referiu-se à capa do livro que tem impressa uma foto da ‘Fonte das Três Bicas’, supostamente tirada do 1.º andar da casa onde viveu João d’Aldeia, um observador dos costumes locais, já que essa fonte era local de encontro dos habitantes da agora vila.
O lançamento do livro contou ainda com as presenças da vereadora Cristina Casanova, em representação do Município, de Manuel João Custódio, presidente da Junta de Freguesia e de José Luís Cruz, em representação de Manuel João Sá, presidente da ACVS-IM, ausente por doença.
Para aquela Associação, o livro “vai permitir, finalmente, iniciar o conhecimento da poesia de um autor nascido na nossa terra que nunca viu publicada obra sua, para além do que foi saindo, de forma dispersa, em jornais e outras publicações,” tratando-se de um “excelente trabalho de investigação” de Victor Pinto da Rocha.
Formalmente constituída em 11 de Setembro de 2018, a ACVS-IM assumiu, ainda na fase de pró-Associação, que o poeta João d’Aldeia e a sua obra seriam um dos principais objectivos do seu trabalho, destacando com “enorme gratidão”, o contributo das netas do poeta, Maria Hélia Sá Nogueira, Cesaltina Nogueira e Maria Júlia Nogueira Pacheco, que ao Vale de Santarém ofereceram o espólio poético do seu avô, contribuindo para que a sua poesia passe a ser conhecida e estudada.
A todos os presentes na sessão, o autor da obra deixou um pedido: “sejam embaixadores do Vale de Santarém e usem como cartas credenciárias a poesia de João d’Aldeia”, afirmou o autor da obra.
Presentes na sala, as netas do poeta assinaram, no decorrer da sessão, o protocolo de cedência à Junta de Freguesia do Vale de Santarém dos direitos sobre o espólio do poeta que o presidente da Junta de Freguesia, Manuel João Custódio, quer ver “para sempre” no Vale de Santarém.
O autarca agradeceu aos familiares de João d’Aldeia a doação que tornou possível a edição da obra.
Defender a Identidade e Memória do Vale
Passou já um ano sobre a constituição da Associação Cultural Vale de Santarém – Identidade e Memória, que surgiu com o intuito de obter informação sobre a história do Vale de Santarém e das suas gentes, ao longo dos séculos, nos mais diversos campos do seu viver comum.
Há um ano, Manuel João Sá, em nome do Grupo, explicou ao Correio do Ribatejo o propósito da criação do mesmo, por ocasião da homenagem ao poeta vale santareno João da Silva Nogueira, João d’Aldeia, como era conhecido.
O Grupo reúne desde Novembro de 2015 e por decisão dos fundadores a Associação foi constituída e registada oficialmente, em 11 de Setembro de 2018, a qual teve a sua primeira reunião com o presidente da Junta de Freguesia do Vale de Santarém, no dia 14 de Setembro do mesmo ano.
Tem como fim, conforme seus estatutos: “a pesquisa e divulgação da história e da cultura do Vale de Santarém e suas gentes, desde os tempos mais remotos até à actualidade, visando a valorização do sentimento de pertença a uma comunidade e a sua transmissão às gerações vindouras”.
Os Órgãos Sociais da Associação, conforme eleição realizada na sua primeira Assembleia Geral, em 13 de Setembro de 2018, são constituídos por Victor Pinto da Rocha como presidente da Mesa da Assembleia Geral, tendo como secretário a sua esposa, Maria Regina Pinto da Rocha e como vogal Alfredo Joaquim Lobato. A Direcção é presidida por Manuel João Sá, e tem como secretário José Luís Marques da Cruz e como tesoureiro Alfredo Manuel da Silva Sá. O Conselho Fiscal é composto pelo presidente Virgílio Pereira, pelo secretário Manuel Reinaldo Ribeiro e pelo relator Arménio Gomes.