Gonçalo Santos Andrade, natural de Almeirim, foi reeleito para um mandato de três anos como presidente da direcção da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. O presidente da Portugal Fresh, reeleito há cerca de um mês, afirma, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, que a associação irá continuará a trabalhar em prol da valorização da origem ‘Portugal’ e das características únicas dos seus produtos. Entre 2010 e 2019, as exportações do sector mais do que duplicaram. Actualmente, a produção de Frutas, Legumes e Flores já representa 1,5% do PIB nacional, sendo que as vendas ao exterior valem mais de metade desse valor. “É nossa missão manter esta rota de crescimento, ainda que no actual contexto tenhamos diante de nós, bem sabemos, desafios acrescidos”, refere Gonçalo Santos Andrade.

Foi reeleito, recentemente, para mais um mandato de três anos como presidente da direcção da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. Qual é o plano de acção que quer seguir?
Acabámos um ciclo de grande crescimento e modernização do sector e estamos a começar um novo ciclo. Estes órgãos sociais foram eleitos para o triénio 2020-2022 e a direcção agora em funções pretende continuar a promover as frutas, legumes, plantas ornamentais e flores (FLF) a nível internacional e nacional. Os principais objectivos passam pelo aumento do consumo interno, a consolidação e crescimento das exportações e contribuir para a sustentabilidade ambiental, social e económica do sector.
Vamos continuar a apostar em missões empresariais directas (levar as nossas empresas a mercados externos) e inversas (trazer os compradores a Portugal), acções de prospecção de mercados, acções de promoção, feiras internacionais, congressos e outros eventos em que possamos promover os nossos produtos. O objectivo com estas acções é contribuir para a maximização da remuneração à produção nacional.
Temos um enorme desafio pela frente devido ao cancelamento e adiamento da maioria dos eventos internacionais no corrente ano. Alguns realizaram-se em plataformas digitais, mas o resultado não é o mesmo. Tivemos a sorte de dois dos maiores eventos mundiais, o IPM Essen e a Fruit Logistica, se terem realizado em Janeiro e Fevereiro antes do início da pandemia.
Em Outubro retomaremos as presenças internacionais com a décima presença consecutiva na Fruit Attraction, em Madrid. Esperamos retomar o plano de acção em países terceiros em 2021.

Em 2018, as vendas para os mercados externos atingiram os 1500 milhões de euros. Até 2020 o sector previa exportar 2 mil milhões de euros de frutas, legumes e flores nacionais. Qual é a realidade actual e quais são as ambições da Portugal Fresh para a actualidade?
Em 2018, foram 1.500 milhões como refere e em 2019 foram 1.605 milhões. A Portugal Fresh lançou em 2014, quando soubemos que atingimos 1.000 milhões de euros de exportação em 2013, o objectivo de duplicar o valor das exportações até 2020, ou seja atingir os 2.000 milhões de euros. Esta estratégia de comunicação permitiu captar a atenção dos órgãos de comunicação social, com uma meta atractiva e ambiciosa, e colocou uma pressão saudável no sector permitindo um enorme crescimento na cooperação empresarial a fim de aumentarmos a escala e dimensão da oferta. É importante recordar que em 2010 o sector exportava 780 milhões de euros. Em nove anos duplicámos o valor das exportações. Não vamos atingir os 2.000 milhões de euros em 2020, mas vamos continuar a crescer e mesmo com esta pandemia ambicionamos atingir os 1.700 milhões no corrente ano. No primeiro semestre do corrente ano o sector cresceu 6,2% em valor e 4,6% em quantidade.

Que estratégias estão pensadas para conseguir captar mais mercado estrangeiro?
Temos que consolidar os mercados onde já marcamos presença, no primeiro semestre de 2020 exportámos para 133 países, e em parceria com o governo e a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) estabelecer as prioridades para a abertura de novos mercados para os produtos mais exportados, ou com potencial de exportação, e que tenham condições logísticas de atingirem essas geografias. Os mercados asiáticos, principalmente a China e a India, são dois mercados em que pretendemos continuar a apostar nos próximos anos. A Ásia foi responsável por 46% das compras mundiais de frutas e legumes, em 2015, e há estudos que indicam que em 2030 será responsável por 56%. Não podemos abdicar de mais de metade do mercado global. Portugal exporta principalmente para a UE (78% do valor no 1.º semestre de 2020) e os principais países terceiros são o Reino Unido, o Brasil e Angola. Na União Europeia, os principais mercados são Espanha, França, Holanda e Alemanha. As prospecções de mercado e missões empresariais são fundamentais para crescer as exportações nos países terceiros e este ano não será viável a sua realização. O ano passado tivemos acções deste género na Índia, China e Emirados Árabes Unidos que pretendemos voltar a dinamizar em 2021.

Quais são os grandes trunfos das frutas e legumes de Portugal e que vantagens competitivas tem o País?
As pessoas são e serão o maior activo das empresas. A qualidade dos nossos quadros deve marcar a diferença no serviço que prestamos aos clientes. Mas Portugal como território e com o seu clima também fazem a diferença. Portugal é o único país na latitude Sul da Europa que beneficia de uma enorme influência Atlântica permitindo um Verão mais ameno e um Inverno menos rigoroso do que os nossos concorrentes produtores de Espanha, de Itália, da Grécia e da Turquia. O “Atlantic Breeze Taste” – assinatura da Portugal Fresh nos eventos internacionais – garante-nos produtos com maior cor, aroma e sabor. Não somos o país com maior precocidade, na maioria dos produtos, mas somos os que conseguimos produzir durante mais semanas no ano e isso é muito atractivo para os compradores. A framboesa, um dos produtos mais exportados em valor, é produzida 52 semanas por ano em Portugal. Nunca vamos conseguir concorrer na dimensão da oferta, devido à limitação do nosso território, mas podemos e devemos ser imbatíveis na diferenciação a nível da qualidade e serviço.

Desde a fundação da Portugal Fresh, há cerca de uma década, como olha para a evolução do sector hortofrutícola nacional?
Os números comprovam a grande evolução que o sector registou. O volume de negócios do sector das FLF cresceu de 2.205 milhões de euros em 2010 para 3.079 milhões de euros em 2020. Em 2010 o sector exportava 35% do valor que produzia e em 2019 exportou 52% do valor total. Este sector já vale 1,5% do PIB nacional.
O investimento na modernização da produção e nas centrais de concentração de oferta, principalmente a nível das organizações de produtores, permitiu um enorme crescimento da oferta de produtos de qualidade. O sector está hoje mais preparado para competir no mercado global.
As empresas apostaram muito na qualificação e formação dos seus gestores e colaboradores. A Portugal Fresh tem uma parceria com a AESE Business School – escola com um programa de direcção de empresas agrícolas e agro-industriais – local onde têm passado nos últimos seis anos inúmeros colaboradores das empresas do sector. Há outros excelentes exemplos nesta área e o importante é que as empresas continuem a apostar na valorização e formação das suas equipas.

Durante a pandemia, a agricultura foi um dos sectores que não parou. Qual é o maior desafio que os produtores enfrentam na actualidade?
Toda a cadeia agro-alimentar não parou. Os agricultores deram um excelente exemplo e contributo. Não nos podemos esquecer das empresas de transportes, dos fornecedores do sector primário, das indústrias, dos grossistas, dos retalhistas, entre outros. A disponibilidade de água, a mão-de-obra, o apoio ao investimento e a adaptação às alterações climáticas são os principais desafios. O aumento das reservas de água superficiais é estratégico para o país e urgente nas regiões onde a precipitação é menor como o Algarve, o Alentejo, o Ribatejo e o Oeste. Estas reservas estratégicas devem ter fins múltiplos, que permitam a fixação de empresas e de pessoas nas regiões abrangidas e são uma ajuda efectiva às alterações climáticas, porque permitem uma diminuição da temperatura média nas geografias abrangidas.

Em termos de segurança alimentar, os consumidores podem estar descansados?
Este sector é altamente fiscalizado e os clientes, indústrias e retalhistas, requerem certificações muito exigentes para podermos ser seus fornecedores. Os consumidores podem estar descansados porque os produtos que têm à sua disposição cumprem todas as regras exigidas, estando garantida a segurança alimentar.

Corremos o risco de ver as prateleiras dos supermercados vazias de produtos essenciais?
Parece-me que esse cenário não se coloca. Poderá faltar pontualmente algum produto, mas que será reposto rapidamente. Há que manter alguma tranquilidade e confiança no sector agro-alimentar.

Os apoios anunciados para o sector estão ajustados à realidade ou pensa serem necessários outros?
Os apoios anunciados até ao momento ajudaram a fileira, mas não resolvem os problemas principalmente nos sectores mais afectados. O sector das plantas ornamentais e flores, onde se registaram avultados prejuízos nas duas últimas semanas de Março e três primeiras de Abril, devido ao colapso dos mercados, precisava de ajudas idênticas às dos produtores holandeses e alemães e não foi isso que se verificou. A antecipação de verbas, linhas de crédito bonificado e o layoff foram importantes, mas os produtores portugueses deveriam ter acesso às mesmas ferramentas que os concorrentes produtores da UE. Maioria das medidas são de prorrogação de prazos e de endividamento.

E em termos de mão-de-obra? Já se começam a verificar algumas dificuldades?
Neste momento existem menores dificuldades de recrutamento para trabalhos agrícolas sazonais do que havia há um ou dois anos atrás. Continuam a existir limitações, mas há mais oferta que no passado recente. A Portugal Fresh tem defendido que deve existir uma estratégia de ordenamento do território que permita uma adequada integração social dos trabalhadores sazonais, migrantes e nacionais, no território. É urgente encontrar soluções dignas de habitabilidade nos centros urbanos e rurais que permita a vinda e fixação destas pessoas que são cruciais para o desenvolvimento da actividade económica do país. A demografia no país e na Europa contínua numa tendência decrescente e temos que encontrar alternativas adequadas para suprir a curta disponibilidade de trabalhadores rurais.

Que mensagem gostaria de deixar aos seus associados?
São eles os grandes responsáveis pelo excelente desempenho do sector. A mensagem que gostaria de deixar é de agradecimento e de reconhecimento pelo enorme dinamismo e profissionalismo demonstrado nos últimos anos. Continuem a investir nas pessoas e na modernização do sector para que Portugal possa ser, cada vez mais, reconhecido como uma geografia de produtos de qualidade e de segurança alimentar, valorizada e atractiva para os compradores chave do mercado global.

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