Há sessenta anos Santarém vivia uma azáfama desusada ali para o lado do Campo da Feira, que havia sido inaugurada dez anos antes. A velhinha Praça de Toiros de Santarém, instalada nas ruínas do antigo Convento de S. Domingos, estava em acelerado processo de degradação e já se tornava exígua para acolher tantos aficionados que ali afluíam por ocasião das tradicionais feiras do Milagre, do Ribatejo e da Piedade, para além dos inúmeros festivais de amadores que ali decorriam, quase sempre com fins benemerentes.

No decurso da provedoria do Dr. António Manuel de Passos de Sousa Canavarro começou a tomar forma o projecto que veio culminar na construção da actual Praça de Touros “Celestino Graça”. Em sessão do dia 22 de Novembro de 1954 a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Santarém constatava não ser rentável a renovação da antiga Praça de Toiros, posto que, pelas condições da sua construção, pouco ou nenhum lucro produzia, pois, a sua conservação atingia custos insuportáveis.

Pelo menos desde o ano de 1961 já se desenvolviam esforços no sentido de construir uma nova praça e Celestino Graça, então secretário-geral da Feira do Ribatejo, corporizava a vontade de tantos e tão ilustres aficionados ribatejanos que assumiram esse desafio, para engrandecimento da festa tauromáquica, mas, sobretudo, para dotar a Misericórdia de Santarém de receitas financeiras que lhe permitissem zelar pelos interesses de quem não tinha condições de sobrevivência digna, nomeadamente os órfãos e os idosos.

Para o efeito foi criada uma Comissão Pró-Praça de Touros, constituída pelos ilustres aficionados António Manuel de Passos de Sousa Canavarro, João Luís de Almeida e Noronha Botelho Falcão, Luís Hilário Barreiros Nunes, João Rodrigues Trancas, António Ferreira Quintas, Rafael Cabrita Alves, Joaquim Manuel Sobral Bastos Themudo Baptista, Caetano Marques dos Santos e Celestino Pedro Louro da Silva Graça, sendo Provedor da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Santarém o Dr. António do Rosário Marques.

O projecto da nova praça de toiros foi concebido pelo Arq.º Pedro Cid, que gentilmente ofereceu o seu labor à Misericórdia de Santarém, e da construção da obra se ocupou a empresa de construção civil “Alves Ribeiro, Lda.”, que a 10 de Janeiro de 1964 deu início aos trabalhos, os quais estavam concluídos cento e quarenta e oito dias depois, ou seja, a 7 de Junho do mesmo ano estava a praça engalanada para acolher a primeira enchente da sua existência, com a realização de uma memorável corrida de toiros de gala à antiga portuguesa, a que se dignou presidir o Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomaz, na sua qualidade de Presidente da República.

Para a obtenção das verbas necessárias para fazer face aos encargos da construção da praça de toiros – “uma realização arrojada em todos os aspectos que tiveram de ser considerados, entre os quais avulta o aspecto financeiro”, como judiciosamente referiu o Provedor de então, Dr. Artur Proença Duarte – houve que promover muitas diligências, nomeadamente, através de subscrição pública publicada semanalmente no “Correio do Ribatejo”, a qual era realizada não apenas com a oferta de valores pecuniários, como ainda de materiais de construção e até de dias de trabalho, por gente modesta que não tinha possibilidades de despender qualquer montante, mas não se eximia de roubar algum tempo ao merecido descanso e aplicá-lo nas obras, com a superior e compreensiva concordância da empresa construtora.

Trabalhava-se de dia e de noite… só, assim, foi possível concretizar obra de tamanha dimensão sem atrasos nem derrapagens financeiras!

Sessenta anos volvidos muita história há para contar ratificando a importância taurina de Santarém no contexto da tauromaquia portuguesa. No tauródromo escalabitano actuaram as principais figuras do toureio a nível mundial engrandecendo este moderno e funcional imóvel de uma maneira extraordinária, ainda hoje referenciado no universo taurino à escala global.

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