O presidente da Câmara de Constância lançou ao governo um “grito de alerta” e “de revolta”, pedindo soluções para a falta de médicos de família, que está a afectar 1.600 utentes em Santa Margarida.
“Vivemos no país um flagelo sem precedentes”, começou por dizer Sérgio Oliveira (PS) numa carta dirigida ao ministro da Saúde, enviada na quarta-feira e à qual a agência Lusa teve acesso.
Para o autarca, “em tempos modernos, é impensável que tenhamos várias extensões de saúde encerradas” e que, para obterem uma consulta, “os utentes tenham que se deslocar de madrugada ou de véspera para a porta da extensão/centro de saúde”.
O presidente daquele município foi confrontado esta semana com a saída da médica que tem estado a prestar serviço – seis horas por semana – aos 1.600 utentes da freguesia de Santa Margarida da Coutada, uma saída para a qual diz “não perceber a razão”.
A Câmara ainda fez à médica uma “proposta informal de suplemento remuneratório”, mas a clínica “não aceitou”, explicou.
“É um grito de revolta e é um grito de alerta para lançar para a discussão estes temas todos”, afirmou hoje o autarca à agência Lusa, indicando que “a maior preocupação” que tem neste momento “é a extensão de saúde de Santa Margarida não ter médico” e que “é isso que gostava de ver resolvido, a bem da população”.
Segundo o socialista, o ofício enviado ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, “foi um grito de revolta” por ver, pessoalmente e “há várias semanas”, as pessoas a irem “de véspera, não de madrugada, como noutros locais acontece, a irem de véspera, cerca das 23:00, e passarem a noite inteira à porta da extensão de saúde de Santa Margarida para que, no outro dia de manhã, possam ter uma vaga” para uma consulta médica.
“Ninguém pode aceitar uma situação destas, não é aceitável, e o ofício foi no sentido de o senhor ministro, que é quem pode e tem essa competência, ser alertado para estas situações”, frisou.
No ofício, o presidente de Constância lembra que a maioria da população em Santa Margarida “é envelhecida, com baixas pensões, logo sem recursos ou possibilidades de recorrer a seguros de saúde e aos hospitais privados” e que, “mesmo a população em idade activa, sobrevive com baixos salários, com prestações altíssimas para manter a sua habitação a par de todas as outras despesas que asseguram o mínimo da dignidade a um ser humano”.
Por outro lado, o autarca manifestou-se contra o “leilão” em que os municípios estão a participar para “ver quem dá mais” e consegue captar médicos, afirmando que isso faz com que os municípios “desafogados financeiramente consigam ter médicos e os mais pobres não”.
Nesse sentido, alertou para uma possível “escalada de concorrência entre municípios” e para a possibilidade de se estar “a criar na área da saúde um novo fosso e mais uma desigualdade territorial, a par de tantas outras”.
“Se o caminho for este, vamos abdicar de fazer obra física, e canalizamos o dinheiro para pagar um suplemento aos médicos (…) contra tudo o que defendo”, afirmou, tendo reiterado sentir-se “revoltado e indignado” cada vez que vê a população ir de madrugada/véspera para a porta do centro de saúde.
Dirigindo-se a Manuel Pizarro, pediu que haja “uma diretiva clara e objectiva se o caminho é este” e, se não for, que “se diga de forma clara – não é possível aos médicos receberem suplementos pagos pelas Câmara” Municipais.
“Não me conformo com este estado de coisas, fui eleito para defender as populações que sirvo, e peço a V. Exa., que sejam encontradas soluções para a resolução deste flagelo”, concluiu.