A professora acusada de ter matado o marido, no verão de 2018, em Abrantes, com dezenas de golpes, afirmou ao Tribunal de Santarém, que agiu em legítima defesa e que era vítima de violência doméstica.

Acusada pelo Ministério Público de homicídio qualificado pela morte do marido, também professor, em Agosto de 2018, a professora, de 43 anos, negou a versão constante na acusação de que, descontente por o marido se querer divorciar, gizou um plano para lhe tirar a vida usando um martelo, de modo a atribuir a autoria da morte a pretensos assaltantes encapuzados.

Num depoimento várias vezes entrecortado pelo choro, a mulher, que assumiu a culpa e confessou arrependimento, não conseguiu explicar a extrema violência com que agiu, afirmando que perdeu a noção do que fazia e garantindo que nunca pensou em matar o marido e “jamais” o faria com os filhos por perto.

Também não conseguiu explicar por que motivo a vítima tinha vestígios de alprazolam (ansiolítico) e mirtazapina (antidepressivo) no sangue e que a acusação afirma dever-se a medicação que ela lhe terá dado, sem ele se aperceber, para ficar sonolento e não se defender dos golpes.

Declarou ainda que foi por desespero que disse naquela noite aos vizinhos e depois aos agentes da PSP que tinha visto dois encapuzados e que tinham sido assaltados, reconhecendo que mentiu para que não pensassem que tinha sido ela, mesmo motivo que a tinha levado, antes, a tentar lavar os vestígios de sangue e a despir a roupa e as sapatilhas, ficando apenas em roupa interior.

Questionada pela juíza se em nenhum momento lhe passou pela cabeça que os dois filhos, que tinha deixado dentro do carro à porta de casa (preparavam-se para ir com uma amiga e os filhos a um parque de Abrantes), podiam entrar e ver “aquele quadro”, a arguida afirmou que teve “tanto medo” que não raciocinou.

No seu depoimento, disse que o marido a andava a ameaçar constantemente e que, naquela noite, lhe terá dito para ir ao parque e vir “viçosa” porque seria nesse dia, o que ela terá associado à concretização da ameaça de que a queria ver a fazer sexo “com outras pessoas, incluindo travestis”.

No seu interrogatório, o advogado de defesa procurou demonstrar a ocorrência de violência doméstica recorrendo a relatórios médicos, datados pelo menos desde 2012, altura em que começou a ser seguida em gastroenterologia devido a uma fissura no ânus, que a arguida associou ao facto de ser forçada a fazer sexo anal.

Foi ainda relatado um episódio de atendimento hospitalar, em novembro de 2016, por uma fratura no joelho e deslocamento num pé e outro, em outubro de 2017, por ansiedade e instabilidade emocional, o que a arguida afirmou, a chorar, ter-se devido a ter sido violada nessa noite.

A arguida foi confrontada pela acusação com transcrições de mensagens e gravações em que falava a uma amiga sobre a degradação da relação conjugal, com referências a divórcio, possibilidade que afirmou várias vezes no seu depoimento nunca ter sido colocada por “medo”.

Antes do interrogatório à arguida, o procurador do Ministério Público referiu a “forma particularmente violenta” e a “frieza de ânimo” com que praticou o crime, fazendo-o de “livre vontade e plena consciência”.

Por seu turno, o advogado de defesa criticou a forma como foi conduzido o inquérito, lamentando que a confissão sem reservas feita pela arguida antes da acusação tenha resultado em apenas um artigo e considerou uma “ofensa” o facto de o Ministério Público ter “dado os autos à imprensa antes de os facultar ao defensor”.

“Nunca tal tinha acontecido. É triste e merecia uma sindicância”, declarou António Velez.

Leia também...

Jovem de 19 anos detido por suspeita de tráfico de droga

Um homem de 19 anos foi detido pela GNR no dia 11…

Almeirim “ensaia” estudo serológico sobre prevalência da covid-19

O concelho de Almeirim disponibilizou-se para “ensaiar” um estudo serológico sobre a…

Mulher detida por violência doméstica agredia e ameaçava companheiro de morte

A GNR deteve uma mulher com 30 anos, pelo crime de violência…

Projecto “Reabilitar Troço a Troço” passou por Alcanhões

A Câmara de Santarém, em conjunto com a Junta de Alcanhões, organizou…