A programação de verão em Santarém começa sábado, com centenas de eventos programados até setembro, numa das vertentes da política cultural para o concelho que, segundo o seu responsável, tem por preocupação central unir e dar coesão ao território.
Nuno Domingos, vereador da Câmara Municipal de Santarém com o pelouro da Cultura, disse à Lusa que a programação de verão In.Santarém, projeto iniciado em 2015 para “chamar a atenção para o centro histórico”, veio progressivamente a estender-se a toda a cidade e a incluir iniciativas que se realizam nas seis vilas do concelho e nas freguesias.
A preocupação de alargar a oferta cultural a todo o território, tanto no âmbito do In.Santarém como na atividade da Santarém Cultura, marca que herdou do anterior mandato e que assumiu como “estrutura global”, deve-se em muito à experiência vivida na primeira campanha eleitoral em que participou, confessou.
“Houve coisas que me disseram que foram absolutamente marcantes”, disse o vereador independente eleito pelo PS (partido que assinou um acordo de governação pós eleitoral com a maioria social-democrata), dando o exemplo de um morador de Alcanede, freguesia no extremo norte do concelho, que lhe pediu para fazer alguma coisa sob o risco de se tornar preferível uma ligação ao município vizinho de Rio Maior.
Comparando a forma do concelho à de “um coração um bocadinho deformado”, com a cidade “no piquinho de baixo”, portanto, “longe de tudo”, Nuno Domingos afirmou que o facto de ter percebido que as pessoas das freguesias tinham “mais histórias para contar das relações” que mantinham com municípios vizinhos, fê-lo compreender a “relevância de reforçar os laços”, de contribuir para “haver uma coesão social em torno de uma ideia de território”.
A programação cultural passou, então, a incluir um projeto que dá relevo às seis vilas do concelho – Alcanede, Alcanhões, Amiais de Baixo, Pernes, Tremês e Vale de Santarém – e o ItinerArte, que leva eventos culturais a vários espaços das 18 freguesias.
“Isto não nos pode conduzir a mandar para as freguesias coisas que não tenham qualidade ou que sejam menores. Do ponto de vista da qualidade e da acuidade e da integração de projetos, a programação que vai para as vilas tem de ter a mesma chancela de qualidade que a da cidade. Enquanto cá estiver, nem que tenha de reduzir na cidade, isso tem de se manter”, declarou.
A dispersão da programação pelo concelho não se esgota na programação de verão, disse, exemplificando com os espetáculos descentralizados que se realizam nos vários momentos do calendário anual, como Março Mês do Teatro, o AbrilArte (em abril) ou os eventos programados para outubro e novembro, que assinalam as datas de nascimento dos escalabitanos Bernardo Santareno (dramaturgo), Mário Viegas (ator) e Joaquim Luís Gomes (músico), ou para o natal.
O mesmo princípio foi seguido no âmbito da programação para o público escolar, depois de ter verificado que apenas as escolas da cidade, ou muito próximas, usufruíam dos espetáculos realizados no Teatro Sá da Bandeira.
“Mantendo a programação no Teatro com o desenho que tinha, começámos a fazer uma aposta muito forte na programação cultural e artística nas escolas”, disse, salientando o esforço para “combater o fosso, a distância, e criar oportunidades para que as crianças de Alcanede, de Amiais, de Pernes, do Arneiro das Milhariças, da Gançaria, se encontrem com formas artísticas, sejam na área da música, sejam no teatro, na dança ou em formas multidisciplinares”.
“Foi a forma que encontrámos de unir o território, dar-lhe coesão, dar-lhe identidade, fazer crescer o sentimento de pertença e de desejo de pertença, que é mais difícil”, afirmou.
Segundo Nuno Domingos, a política cultural do concelho é, neste mandato, ainda marcada por “uma lógica de trabalho integrada”, feita com os agentes culturais do concelho, num esforço para que a programação seja articulada, evitando sobreposições e criando uma agenda de ciclos trimestrais ou, não sendo possível, bimestrais.