Candidato ao Novo Bauhaus Europeu, iniciativa da Comissão Europeia
Projecto usa engenharia natural para “reabilitar troço-a-troço” ribeiras de Santarém
O projecto Reabilitar Troço-a-Troço (RTT), nomeado para os prémios Novo Bauhaus Europeu, utiliza técnicas de engenharia natural para regenerar ribeiras e cursos de água em Santarém, capacitando a população.
“Claro que há situações a que só a parte da engenharia civil poderá dar resposta, mas não a tudo”, disse à Lusa Maria João Cardoso, engenheira do Ambiente responsável pelo projecto municipal criado há mais de 10 anos.
O vereador com o pelouro do Ambiente, Nuno Russo, confirmou que a “opção pela reabilitação ambiental, e não tanto pela reabilitação urbana, civil ou outra, tem muito a ver com um trabalho que já vem de trás”, tendo já sido reabilitados 23 troços no concelho de Santarém.
O projecto esteve nomeado para o prémio do tema “Reconectar com a Natureza” na categoria “Campeões” do Novo Bauhaus Europeu, iniciativa da Comissão Europeia lançada em 2021, tendo sido um dos seis projectos portugueses finalistas na cerimónia de atribuição dos galardões, que decorreu a 22 de Junho, quinta-feira, em Bruxelas e premiou o projecto educativo Native Scientists, que sublinha as ligações entre “cientistas e alunos das comunidades migrantes”. A Native Scientists implementa ligações entre cientistas e alunos das comunidades migrantes, promovendo a literacia científica e linguística, e combatendo as desvantagens educativas e socioeconómicas destas comunidades.
“Conservar, proteger, preservar os habitats ribeirinhos”
Já o RTT consiste na utilização de técnicas de engenharia natural na reabilitação dos cursos de água, “como o entrançado, a estacaria viva, a aplicação de bio-rolos, que se tornaram, no fundo, uma alternativa a uma engenharia pesada, muito aplicada por outra engenharia civil”, explicou Maria João Cardoso.
O processo passa também por “capacitar os proprietários dos terrenos” a aplicar estas técnicas, “recorrendo a material vegetal para conservar” as ribeiras e a “remover as infestantes, as espécies invasoras e as espécies exóticas na galeria ripícola”, adjacente ao curso de água.
Em causa estão também materiais como mantas orgânicas e prumos, havendo ainda outro material vegetal que se vai buscar “próximo da linha de água: a estacaria de salgueiro é feita com os salgueiros próximos daquela linha de água, com uma poda selectiva, evidentemente, e na altura certa”, explicou Maria João Cardoso.
“Nós queremos conservar, proteger, preservar os habitats ribeirinhos, mas também queremos aumentar a literacia ambiental das nossas populações”, justificou a responsável.
Para tal, é incentivado o envolvimento das juntas de freguesia após a tomada de iniciativa do município, que “lança um aviso” para que apresentem candidaturas “para efeitos de iniciar um processo de Reabilitar Troço-a-Troço”, explica Nuno Russo à Lusa.
“A equipa técnica da divisão de Ambiente e Sustentabilidade faz a avaliação da linha de água, procede à avaliação do projecto técnico” e escolhe a que tem melhores condições, entre as quais ser “uma linha de água visível e acessível”, ter no mínimo 50 metros lineares, possibilidade de reabilitação de ambas as margens, identificação dos proprietários, condições de sazonalidade e existência ou não de vegetação infestante, poluição ou obstrução.
Algo fundamental é “também perceber qual é o envolvimento da comunidade local”, através de “associações de jovens, eco escolas que estejam representadas naquela freguesia, associações como os escuteiros, associações recreativas, pescadores e caça, outros grupos de jovens, grupos de ‘motards’ ou clubes de futebol”, mas também já se envolveram empresas no projecto.
Segundo Maria João Cardoso, as pessoas envolvidas “antes viam espécies de peixe invasoras”, mas depois da intervenção “começaram a ver que já começou a aparecer a enguia, já começaram a aparecer alguns anfíbios, começaram a ver as libelinhas, que não viam, as borboletas”, algo que trouxe “credibilização ao projecto”.
Os galardões Novo Bauhaus Europeu visam distinguir projectos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade, acessibilidade de preços e investimento, para enquadrar a transição climática e a mudança cultural, como propõe o Pacto Ecológico Europeu, tendo este ano sido seleccionados 61 finalistas.