Projeto foi apresentado na Escola Superior Agrária de Santarém e pretende identificar os problemas e oferecer soluções para mitigar a presença do siluro, espécie invasora que habita as águas do Rio Tejo.

Mostrar novas técnicas para a pesca do siluro, sensibilizar para a captura da espécie sem a sua libertação nos rios, criar mecanismos de mercado para a sua expedição. Foram estas algumas das soluções anunciadas pelo ‘Projeto Megapredator’, apresentado na passada quinta-feira, dia 26 de junho, no Anfiteatro 2 da Escola Superior Agrária de Santarém e que pretende combater a espécie siluro, que está a provocar a diminuição das espécies nativas da região.  

A iniciativa, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e apoiada por várias instituições como a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e o Instituto Politécnico de Santarém (IPS), foi divulgada em diversos tópicos em torno da investigação realizada sobre o siluro, uma espécie piscícola invasora. A dieta, a atividade e a reprodução do espécime foram algumas das características reveladas pelos investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e do Center for Ecology, Evolution and Environmental Changes (CE3C).

No entanto, mais do que mostrar a biologia e os comportamentos da espécie, o projeto tem como principal objetivo mudar a comunicação sobre a ameaça que este peixe constituiu para a região. “Nós queríamos fazer um projeto que aumentasse a parte da comunicação junto dos stakeholders, dos grupos de interesse, as pessoas que sofrem mais, quer os pescadores profissionais, quer os pescadores lúdico-desportivos”, apontou Felipe Ribeiro, investigador responsável pelo projeto que destacou também a necessidade de “aumentar a resolução sobre o siluro, sobre as comunidades piscícolas no Baixo Tejo, na parte lótica, porque era aí que tínhamos espécies economicamente importantes como o sável e a lampreia”.

As espécies piscícolas nativas, são as que mais sofrem com a propagação de siluros no território nacional, levando à possibilidade da sua extinção. João Gago, investigador responsável pelo projeto no IPS, revelou que quase uma unanimidade dos pescadores inquiridos, concordam ou concordam totalmente que a espécie impacta as outras espécies piscícolas. Contudo, são poucos aqueles que se dedicam à pesca do siluro sendo que, aqueles que o fazem, nomeadamente os pescadores lúdico-desportivos, 50% liberta o peixe após a sua captura. “Este tem de ser um grupo-alvo para nós comunicarmos com eles, dizer que estão a fazer algo de errado. Que podem ser eles que estão a contribuir ou poderão vir a contribuir para translocar o peixe de umas massas de água para as outras e que é aquilo que nós queremos evitar”, declarou.

As técnicas de captura do siluro, foram outro dos tópicos discutidos na apresentação do projeto. Segundo a investigação, as redes de emalhar utilizadas pelos pescadores profissionais apresentam uma menor eficácia na captura do siluro, comparativamente aos palangres. “Em média, apanha mais siluros do que a própria rede, em termos proporcionais”, constatou Rui Rivaes, um dos investigadores que esteve presente no evento. Apesar disso, este método é de utilização ilegal nos rios portugueses, sendo necessário realizar uma “sensibilização e treino das pessoas que fazem a fiscalização da pesca”, reconheceu Felipe Ribeiro.

Por último, a iniciativa tem promovido o peixe como um produto alimentar e de consumo, através de iniciativas como a degustação da espécie em provas de pesca desportiva e o ‘Projeto SPIN’, desenvolvido pelo IPS em parceria com empresas como a Vivid Foods e que desenvolveram em conjunto novos produtos alimentares a partir da espécie, como hambúrgueres e nacos de siluro. “A outra hipótese é deixar aqui o próprio mercado funcionar e temos também trabalhado nesse sentido”, acrescentou João Gago.

Originário da Europa de Leste, o silurus glanis ou peixe-gato europeu não possui predadores naturais, reproduzindo-se facilmente e atingindo vários metros de comprimento, estando entre os maiores peixes de água doce do mundo. De comportamento oportunista, a espécie alimenta-se de outras espécies nativas como a enguia, a tainha e o sável, colocando em risco a biodiversidade local.

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