João Duarte, Associação Pernes Medieval e Vera Cardoso, Rotas Culturais e da Natureza

As Rotas Culturais e de Natureza de Pernes serão apresentadas ao público nos dias 25 e 26 de Julho, numa organização do Sítio Medieval e da Asso- ciação Pernes Medieval, com o apoio da Câmara Municipal de Santarém e da Junta de Freguesia de Pernes. Esta iniciativa que conta com um vasto programa, tem como objectivo divulgar a História, a Cultura e o Património de Pernes e de Santarém, para além de pretender captar visitantes e turistas para a freguesia de Pernes e para o concelho de Santarém, como forma de desenvolvimento económico, na área do Turismo Cultural. João Duarte é o responsável pela Associação Pernes Medieval e em entrevista ao Correio do Ribatejo aponta quais os objectivos e aquilo que se pretende com o novo projecto turístico.

Como é que surgiu a Associação Pernes Medieval e qual é o seu objectivo? A Associação Pernes Medieval surgiu da vontade de um conjunto de pessoas com interesse na história e no desenvolvimento de Pernes, reconhecendo a necessidade de concentrar numa instituição o riquíssimo Património Cultural. O objectivo é colocar esse património à disposição das gerações actuais e vindouras, através da pesquisa, análise e divulgação de informação relevante.

Em que consiste o projecto das Rotas Culturais e de Natureza? Este projecto consiste na criação de Percursos Pedestres, de Pequena Rota, ligados ao Património Natural, Histórico, Cultural e Etnográfico da Freguesia de Pernes.

Quais os objectivos desta iniciativa? Os nossos objectivos são dar a conhecer: A importância de Pernes a nível histórico, quer como ponto de passagem dos vários exércitos ao longo dos séculos, quer como “celeiro” nacional, concentrando o maior número de moinhos ao longo da nossa história; O seu património edificado; A sua reserva agrícola e ecológica; A sua gastronomia, com relevância para os doces conventuais; A sua fauna e flora; As plantas medicinais, crenças, lendas, mitos e tradições; E muito mais.

Porque decidiram lançar o projecto nesta altura? Existe cada vez mais uma procura deste tipo de actividades turísticas, assim como um maior interesse em conhecer as várias áreas do Património nacional. Já há algum tempo que a Associação pensava em aumentar o seu leque de actividades e de contribuir para a promoção da freguesia de Pernes. Tendo sido terminados os primeiros percursos a apresentar, e havendo interesse do público em os conhecer, decidiu-se avançar já este verão com a sua realização. Nesta altura de pandemia as actividades ao ar livre são a forma mais segura de participar em actividades culturais.

Que normas de segurança estão a ser implementadas? Neste momento, devido à situação do Covid-19, as normas restringem o número de participantes em grupos de 20, tendo cada um de levar máscara e gel desinfectante, mantendo a respectiva distância de segurança entre cada um. No entanto, estando a falar de um local localizado em reserva agrícola, as normas implicam o não fazer lume, será inclusive proibido fumar, não recolher amostras de plantas ou incomodar os animais e manter-se sempre dentro do trilho marcado, e acompanhado por um dos nossos guias.

Quais os aspectos mais relevantes de Pernes nos domínios da natureza e património? Em termos do património natural, a água é o factor primordial. Estamos perto do mais importante lençol freático da Península Ibérica e uma série de cursos de água, pequenas ribeiras e o rio Centeio, afluem no Alviela que durante anos levou a sua água até à capital portuguesa. A flora mediterrânica apresenta uma característica igualmente relevante, com plantas utilizadas ainda hoje na medicina tradicional e de cosmética. Animais como o javali, a raposa, o noitibó, o búteo, a coruja-das- -torres e muitos outros dão vida ao dia e à noite de Pernes. A passagem de D. Afonso Henriques na conquista de Santarém, os moinhos do Alviela e o seu aqueduto, o Solar dos Condes de Abrantes, o Convento de Sant’Ana com as memórias doces dos seus Santo Antónios, o Colégio Jesuíta e a coragem do Diabo são apenas algumas das muitas referências no património histórico, oral e edificado desta importante vila e sede de freguesia.

Considera que a época medieval e a sua história devia estar mais patente nesta região? Pernes é desde sempre um local de passagem. Nem a auto-estrada afastou as pessoas deste lugar. Há 800 anos atrás já o era. A passagem para o Norte ou para o Sul, onde o pagamento de transpor a cancela era obrigatório. Todas as épocas históricas estão bem enraizadas na história de Pernes. Porém, o período medieval fez crescer a sua glória como refúgio de um exército vencedor daquele que seria o primeiro Rei de Portugal. Com ele vieram os cavaleiros da Ordem do Templo, os Templários. E grandes partes dos moinhos da Ribeira de Pernes tornaram-se deles. Os moinhos que davam de comer a muitos. Os moinhos que tornavam o trigo mais valioso que as libras de ouro. Este foi o princípio da importância histórica de Pernes e é na nossa opinião algo que deve ser constantemente valorizado e passado às próximas gerações. A Conquista de Santarém em Março de 1147, e a sua inclusão no território de Portugal, até mesmo antes de Lisboa, é uma data que tem estado um pouco esquecida e que pela sua importância deve ser recuperada, interpretada e comemorada. Essa é uma das missões desta Associação.

A zona do Mouchão está subaproveitada? Se usarmos a visão de quem vem de fora, o Mouchão é algo único. As suas cataratas são muito bonitas e o local de lazer junto aos enormes plátanos é bastante acolhedor para uma tarde de piquenique. Se era possível fazer mais? Sim, claro que era. Havendo dinheiro poder-se-ia recuperar a casa do guarda, abrir a antiga passagem onde as mulheres lavavam a roupa e ver mais uma queda de água junto aos moinhos. Ajudar a recuperar as casas dos moleiros junto a ele e voltar a dar vida à sua história. Mas trata-se de um património privado e tudo isto leva tempo e decisões que não são apenas do povo de Pernes ou das entidades locais. Mas sim, poder-se-ia fazer mais.

Que falta fazer a nível turístico em Pernes? Criar mais actividades de lazer. Ter a possibilidade de construir uma zona de banhos que é algo que todo o turista procura no verão. Apoiar as associações locais para que criem mais actividades culturais, peças de teatro, concertos de música ou visitas guiadas, permitindo que possam desenvolver estruturas físicas que aportem qualidade à sua oferta. Abrir um espólio museológico local aos visitantes. Criar condições para se fazer parte da rede do Turismo de Portugal.

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