À frente da Associação Académica de Santarém, Gilberto Leandro enfrenta o desafio de dar continuidade ao crescimento sustentado que o clube tem alcançado nos últimos anos. Com um foco claro na duplicação das infra-estruturas desportivas e na formação de atletas de excelência, o presidente destaca, em entrevista ao Correio do Ribatejo, a importância de melhorar as condições de treino, especialmente no futebol e na ginástica, modalidades em franco desenvolvimento. Além disso, sublinha o papel crucial dos sócios, patrocinadores e do município para a estabilidade financeira do clube, que tem conseguido manter uma base sólida, apesar das adversidades. A aposta no desporto feminino e a expansão para áreas periféricas do concelho são outros dos desafios que marcam o seu mandato.
Como descreve o actual momento da Associação Académica de Santarém e quais são os principais desafios que enfrenta no início do seu mandato?
A Associação Académica de Santarém tem vindo a crescer de forma sustentada e progressiva ao longo dos últimos anos. Desde os tempos do presidente António Melão, passando pelo António Torres e pelo Carlos Esteves, até aos dias de hoje, todos trabalharam para consolidar a base desta instituição e, felizmente, o crescimento tem sido sempre positivo. Agora, encontramos uma fase em que o principal desafio é garantir a continuidade deste progresso, mas sem perder de vista a qualidade do trabalho que tem sido feito.
Um dos grandes objectivos é garantir que mantemos essa qualidade nos nossos programas e nas nossas equipas, ao mesmo tempo que oferecemos melhores condições de treino e aumentamos a capacidade das nossas infra-estruturas. Neste momento, temos que estar muito atentos à gestão dos recursos, especialmente nos aspectos relacionados com os nossos principais parceiros: patrocinadores, empresas locais que nos apoiam financeiramente e que têm sido cruciais para o nosso trabalho, o município, que nos tem ajudado com apoios financeiros nos últimos anos, e, claro, os encarregados de educação. Estes são essenciais, pois não só nos fornecem os nossos atletas como também contribuem financeiramente com as anuidades.
Para nós, é muito importante manter este equilíbrio entre todos os factores que sustentam o trabalho da direcção. Ao longo dos últimos dez anos, temos conseguido criar uma base sólida, mas há sempre margem para melhorar. Queremos aumentar as infra-estruturas, como referi, mas também garantir que o ambiente de trabalho dos nossos técnicos e atletas continua a ser o melhor possível.
Falou em crescimento sustentado. Pode dar exemplos concretos de como a Académica tem evoluído nos últimos anos?
Um exemplo claro desse crescimento é a modalidade de ginástica, que surgiu na Académica há cerca de dez anos. Desde então, tem vindo a crescer não só em número de praticantes, mas também em termos de visibilidade e reconhecimento. Os nossos atletas já participaram em diversos eventos a nível nacional, e alguns até tiveram a oportunidade de mostrar o seu talento em palcos internacionais, como a televisão. Este é um reflexo do trabalho árduo que tem sido desenvolvido na modalidade.
Para além da ginástica, o futebol continua a ser uma modalidade em que temos investido muito. Este ano, por exemplo, conseguimos um feito notável com a nossa equipa de iniciados, que disputou a fase de apuramento de campeão a nível nacional. Ficámos em sexto lugar, o que é um resultado honroso, especialmente quando consideramos que competimos contra clubes com orçamentos muito superiores aos nossos. Este tipo de resultados mostra que, apesar das limitações financeiras, conseguimos alcançar grandes feitos graças ao esforço e à dedicação dos nossos treinadores e dos nossos atletas.
No entanto, para que possamos continuar a evoluir e a competir ao mais alto nível, é fundamental que melhoremos as nossas infra-estruturas. Temos equipas a treinar em condições longe do ideal, muitas vezes em meio campo ou até em quarto de campo. Isto, obviamente, limita o tipo de trabalho que podemos fazer. Apesar destas dificuldades, continuamos a ver atletas nossos a saírem para grandes clubes nacionais, o que demonstra a qualidade da formação que oferecemos.
Quais são os seus objectivos principais para este mandato e que estratégias tem em mente para os atingir?
Um dos objectivos mais imediatos é duplicar os espaços de prática desportiva, em particular no futebol. Actualmente, estamos a trabalhar com o município e com a Escola Agrária de Santarém para garantir mais espaços de treino. Sabemos que o município está a tratar da concessão do campo de futebol de 11, o que será uma ajuda significativa para nós, especialmente tendo em conta o crescimento do futebol feminino nos últimos dois anos. Este é um exemplo de como estamos a responder às novas necessidades que vão surgindo à medida que a Académica cresce.
Outro ponto importante é a continuidade do nosso trabalho em parcerias com outras entidades locais. Por exemplo, temos um protocolo com a Junta de Freguesia de Alcanede, onde criámos uma escola de futebol que já está a dar frutos. Além do futebol masculino, já temos também uma equipa de futebol feminino nessa freguesia. Isto demonstra que estamos atentos às necessidades desportivas não só da cidade, mas também das zonas mais periféricas do concelho.
No entanto, este crescimento traz também desafios logísticos. Alcanede, por exemplo, está a uma distância significativa de Santarém e, embora não sejam muitos quilómetros, o tempo de deslocação é considerável devido à falta de vias de comunicação mais rápidas. Isto representa uma dificuldade tanto para os atletas como para os seus pais, que muitas vezes têm dificuldades em acompanhar os filhos. Estamos a trabalhar para minimizar estes obstáculos, levando as nossas equipas técnicas aos locais onde os atletas estão, mas também é necessário que as infra-estruturas nessas freguesias sejam melhoradas para que possam competir em igualdade de condições com os atletas da cidade.
Como se organiza a Académica face a estas realidades tão distintas entre a cidade e as freguesias mais afastadas?
Uma das grandes forças da Associação Académica de Santarém é a sua capacidade de se adaptar às diferentes realidades do concelho. Temos consciência de que não podemos aplicar a mesma abordagem em todos os contextos, por isso, temos vindo a criar soluções específicas para cada local. No caso de Alcanede, por exemplo, a nossa equipa técnica desloca-se até lá para facilitar o acesso dos atletas ao treino, já que sabemos que para muitos deles é inviável deslocarem-se até à cidade com regularidade.
Além disso, estamos sempre atentos às necessidades dos nossos atletas e das suas famílias. Por isso, estamos constantemente em contacto com os encarregados de educação para perceber de que forma podemos melhorar as condições de treino e de participação dos jovens. Sabemos que o sucesso desportivo não depende apenas dos atletas e treinadores, mas também do apoio que recebem das suas famílias. Nesse sentido, é importante criar condições para que as famílias se sintam integradas e apoiadas no projecto da Académica.
Falou da importância das infra-estruturas para o crescimento da Académica. Que outros investimentos ou projectos estão previstos para os próximos anos?
Para além do investimento em infra-estruturas físicas, que é uma necessidade urgente para acompanhar o crescimento da Associação, estamos também a apostar na consolidação de novos projectos desportivos. Como mencionei antes, o futebol feminino é uma área em expansão para nós. É uma modalidade que, apesar de recente na Académica, já mostrou um grande potencial. Estamos empenhados em criar condições para que estas atletas tenham o mesmo nível de apoio e de infra-estruturas que as equipas masculinas.
Um dos nossos grandes objectivos nos próximos anos é também o desenvolvimento da ginástica. Esta é uma modalidade que, acredito, trará grandes alegrias ao clube e à cidade de Santarém. Já temos uma estrutura de treino consolidada, mas precisamos de mais equipamentos e de um espaço de treino adequado. Nos últimos anos, conseguimos adquirir um praticável de nível internacional, vindo da Suíça, mas sabemos que isso ainda não é suficiente. Estamos a trabalhar para garantir que os nossos ginastas possam treinar nas melhores condições possíveis, pois acreditamos que temos potencial para formar atletas de nível europeu e mundial. A ginástica é, sem dúvida, uma das modalidades que mais pode crescer dentro da Académica nos próximos anos.
Em relação à colaboração com outros clubes da região, nomeadamente a União de Santarém, há abertura para sinergias ou colaborações?
Este é um tema que muitas vezes surge em conversas, especialmente entre os adeptos de futebol na cidade. Não posso negar que, tecnicamente, faria sentido pensar numa colaboração entre a Académica e a União de Santarém, especialmente ao nível da formação. No entanto, há um histórico de rivalidade entre os dois clubes que não pode ser ignorado. Como presidente, uma das minhas principais responsabilidades é respeitar a vontade dos nossos sócios, e o que tenho percebido ao longo dos anos é que muitos sócios da Académica são contra qualquer tipo de fusão ou colaboração com a União.
É importante perceber que a identidade de um clube não é apenas desportiva. Há uma história, uma cultura e um conjunto de valores que os sócios defendem e que fazem parte da matriz da Académica. Por isso, qualquer decisão sobre este tipo de colaboração teria que ser muito bem discutida e, acima de tudo, teria que ter o apoio dos nossos sócios. Eu, enquanto presidente, estou aberto a ouvir todas as propostas, mas sempre com o cuidado de manter a integridade e os valores que nos definem como clube.
A nível financeiro, como tem sido a experiência de manter a Académica estável num contexto de dificuldades económicas globais?
Não há dúvida de que manter um clube como a Académica financeiramente estável exige um trabalho contínuo e árduo. Felizmente, temos contado com o apoio de várias empresas do concelho, algumas das quais nem sequer operam em Santarém, mas cujos administradores ou accionistas têm raízes aqui. Esta ligação à cidade e ao concelho tem sido fundamental para conseguirmos os patrocínios de que precisamos.
A nossa sustentabilidade financeira assenta em três grandes pilares: as anuidades e mensalidades dos encarregados de educação, que são fundamentais para mantermos as nossas actividades; o apoio do município, que nos últimos anos tem sido bastante consistente; e, claro, os nossos patrocinadores, que continuam a acreditar no projecto da Académica. Estes sponsors revêem-se nos valores do clube, apreciam o nosso trabalho na formação de jovens atletas e confiam que a Académica representa uma imagem positiva para as suas marcas.
Esta estabilidade financeira permite-nos planear a médio e longo prazo. Por exemplo, estamos já a preparar os eventos desportivos para o próximo ano, como o “Briosas Cup”, que terá lugar em Junho, e que é uma oportunidade para os nossos atletas de futebol mostrarem o seu valor em torneios de grande visibilidade. Também o ‘Santarém Cup’, este ano terá mais novidades. De 19 a 21 de Junho [2025] a festa do futebol de formação está de volta a Santarém. Estes eventos, além de promoverem o talento desportivo dos nossos atletas, também ajudam a reforçar o orçamento do clube, permitindo-nos investir em equipamentos que melhorem as condições de treino.
Para além do futebol e da ginástica, que outras modalidades estão a crescer dentro da Académica?
A petanca é uma das modalidades mais recentes, e, apesar de ser ainda um “bebé” no seio da Académica, tem crescido a um ritmo surpreendente. Nos últimos cinco anos, temos alcançado títulos importantes, tanto a nível regional como nacional. A petanca é, sem dúvida, uma modalidade que tem um grande potencial de crescimento, principalmente por ser acessível a atletas de todas as idades e condições.
Embora muitos ainda associem a petanca a uma actividade para pessoas mais velhas, temos vindo a atrair atletas mais jovens para esta modalidade. Em países como França e Espanha, a petanca é praticada por milhares de jovens, e estamos a tentar implementar esse modelo aqui em Santarém. Já começámos a ver algum interesse por parte das escolas, o que nos faz acreditar que esta modalidade poderá ter um impacto significativo no futuro.
A Académica está prestes a celebrar o seu 93.º aniversário. Que actividades têm planeadas para assinalar esta data tão importante?
O 93.º aniversário da Académica será celebrado com um fim-de-semana repleto de actividades. Teremos competições desportivas, que contarão com a presença de atletas internacionais de Marrocos, França, Espanha e das Canárias, o que mostra a projecção que a Académica tem vindo a ganhar nos últimos anos. Queremos que os sócios e os atletas sintam que este é um momento especial para o clube.
Uma das actividades mais importantes será uma demonstração de ginástica, que reunirá todos os nossos atletas e sócios num único evento. Queremos mostrar a todos o progresso que tem sido feito nesta modalidade e o quão longe podemos ir. Para além disso, estamos a planear momentos de convívio entre sócios, atletas e familiares, porque acreditamos que o associativismo só faz sentido quando as pessoas se envolvem e participam activamente na vida do clube.
Para terminar, que mensagem gostaria de deixar aos atletas, sócios e apoiantes da Académica?
A mensagem que gostaria de deixar é que esta direcção está completamente empenhada em proporcionar o melhor para os nossos atletas. Queremos criar condições para que possam treinar e competir ao mais alto nível, mas, acima de tudo, queremos formar bons cidadãos. A nossa missão não se resume apenas ao desporto. Queremos que os nossos atletas saiam da Académica preparados para a vida, como melhores pessoas, com valores e princípios que os guiem em todas as suas escolhas.
O nosso compromisso é continuar a trabalhar com dedicação e paixão, sempre em prol dos nossos atletas e dos nossos sócios. Queremos que todos sintam que a porta da Académica está sempre aberta, que esta é uma casa onde serão sempre bem-vindos, independentemente do tempo que aqui passem. Hoje, tal como no passado, o que nos move é a vontade de fazer sempre o melhor possível, e é essa mesma vontade que continuará a guiar-nos no futuro.
Filipe Miguel Mendes