O Rugby Clube de Santarém (RCS) fez história esta temporada. O clube escalabitano alcançou a final do Campeonato Nacional da 1ª Divisão (CN1) de onde saiu finalista vencido e disputou o play-off de acesso ao escalão máximo do rugby nacional. Um feito histórico em 25 anos de existência do clube, numa época atípica com muitas paragens e incertezas devido à pandemia Covid-19. Nuno Serra, presidente do RCS, faz um balanço “claramente positivo” da temporada e aponta que o futuro do clube passa por um crescimento sustentado mas com os olhos postos nos patamares mais elevados da modalidade em Portugal.

O Rugby Clube de Santarém acabou recentemente uma temporada histórica com a chegada à final do CN1 e a disputa do play-off de acesso à divisão de honra. Considera que o balanço desta época é positivo mesmo perante uma pandemia e as constantes paragens ao longo da temporada?
O balanço é claramente positivo. Apesar das inúmeras dificuldades que existiram, que criaram uma enorme instabilidade entre os atletas e condicionaram grande parte dos treinos ao longo do campeonato, o Rugby Clube de Santarém conseguiu através de um grande trabalho da equipa técnica e da vontade incrível dos nossos jogadores, obter resultados históricos para Santarém e para o rugby em Santarém. Mas este balanço positivo vai para além dos resultados!
O Rugby Clube de Santarém teve durante esta época, na disputa do campeonato nacional da 1ª divisão, 50 jogadores a vestir a camisola do RCS oficialmente e, na final do CN1, a média de idade foi de 21,1 anos. O que significa que existe um grande futuro pela frente e os nossos atletas nunca desistiram.
Por outro lado, a interdição de público no campo fez com que o RCS tivesse sido pioneiro na transmissão dos jogos online, através das nossas redes sociais, com um sucesso fantástico, que levou o rugby de Santarém a todos os cantos do mundo e deu uma enorme visibilidade aos nossos patrocinadores, tornando a esse nível uma época única de notoriedade para o RCS.
Não esqueceremos e estamos profundamente gratos com o carinho com que a sociedade de Santarém tratou o RCS, as inúmeras mensagens de apoio que tivemos, em especial de muitos outros clubes e associações, que nos deixaram muito emocionados e com uma responsabilidade acrescida.
Depois de atingidos estes objectivos, qual é a perspectiva para a próxima temporada?
O Rugby Clube de Santarém joga em todos os escalões no panorama do rugby nacional e a nossa perspectiva é que seja possível voltar a normalidade e manter os bons níveis de competitividade que tivemos na equipa sénior este ano e voltar à competição nos escalões de formação, que estiveram parados este ano.
O RCS é um clube que assenta na formação dos seus jogadores. Só conseguimos ter bons atletas de competição se for possível ter as formações a funcionar em pleno. Consideramos que as restrições impostas às actividades amadoras e de ter sido vedado a competição aos escalões de formação, trouxe um enorme atraso na preparação dos nossos jovens atletas. A próxima época terá que ter uma grande atenção na recuperação desta preparação.
Acredito que os bons resultados obtidos pelos seniores trará mais visibilidade à modalidade e ao RCS, na região. O que fará, naturalmente, com que apareçam novos atletas e novos desafios.
Temos também uma enorme expectativa na nossa equipa de voleibol feminino, que deu este ano os primeiros passos, mas que tem tido uma evolução fantástica. Esperamos ver as nossas atletas a competir na próxima época.

A subida de divisão esteve perto de ser alcançada. Jogar na Divisão de Honra é um objectivo? Se o clube for convidado para a integrar, irá aceitar?
Está no ADN do Rugby Clube de Santarém querer ser sempre melhor e estar entre os melhores, mantendo intocáveis os valores que nos norteiam. O trabalho que temos vindo a fazer nos escalões de formação e também na competição é para que o RCS esteja ao nível dos melhores em Portugal. O corolário de toda esta evolução desportiva passa, claramente, por jogar na Honra.
O mérito de subir à divisão de Honra, segundo o regulamento, passava por subir directamente, ganhando a final do CN1 ou vencendo o penúltimo classificado da Honra, através de um play-off. Infelizmente, apesar de ter sido por pouco, não conseguimos vencer esses jogos. Se tivéssemos ganho qualquer um desses jogos, teríamos aceite, com grande orgulho, na próxima época, disputar o campeonato da divisão de Honra.

O clube tem capacidade financeira, técnica e de infra-estruturas para disputar a modalidade ao mais alto nível?
O RCS tem evoluído muito tecnicamente e não tenho dúvidas que estamos a trabalhar ao mais alto nível, quer ao nível dos treinadores, quer dos jogadores. Para isso basta ver o último jogo, o do play-off, que mostrou claramente que tática e tecnicamente, estivemos a jogar de igual para igual com a equipa adversária, que era da divisão de Honra.
A aposta de formar e credenciar, pela Federação Portuguesa de Rugby, os treinadores dos escalões de formação faz com que sejam aplicados modelos de treino ao nível dos melhores. O que permite aos atletas, quando chegam à equipa sénior, estarem ao mais alto nível em técnica individual, como se verificou este ano nos vários atletas da formação que foram chamados a jogar no escalão sénior. Mas como é óbvio temos que evoluir mais. Sendo o rugby uma modalidade onde a preparação física tem uma enorme preponderância, por muita técnica que um jogador tenha não conseguirá jogar ao mais alto nível se não tiver uma maior exigência ao nível físico. No que diz respeito a infra-estruturas, neste momento, não estamos preparados para disputar o campeonato da Honra. Precisamos mais zonas de treino físico específico, seja individual ou colectivo, alterações estruturais ao actual campo de jogo, para que sejam enquadradas as exigências da divisão de Honra e balneários próprios, para atletas e árbitros. O mesmo se passa a nível financeiro. Para disputar a divisão de Honra teríamos que evoluir, também, nesse aspecto.

Como está o RCS em termos de apoios?
A nível financeiro temos tido o importante apoio dos nossos patrocinadores, que acreditaram em nós, mesmo nestes tempos conturbados e instáveis, e que permitiram que conseguíssemos jogar este ano. Temos também o apoio da Câmara Municipal no âmbito do associativismo desportivo. Mas para que o RCS possa funcionar diariamente, acolhendo os mais de 240 atletas, o grande apoio vem da enorme família que somos. Este clube tem crescido com o trabalho de todos, nestes 25 anos de existência. Seja direcção, treinadores, atletas, pais ou adeptos, todos dão sempre um pouco de si para que o RCS ultrapasse as contrariedades diárias que normalmente as associações desportivas têm. Estamos neste momento, com a evolução competitiva que temos tido e com o grande aumento de número de atletas, a criar condições para conseguir uma estrutura de apoio mais dedicada e profissional.

Quais são os grandes desafios do futuro do RCS?
O grande desafio é continuar a crescer e continuar a criar mais notoriedade do RCS como a marca ribatejana de referência no rugby nacional. Queremos continuar a ser o símbolo de Santarém e de toda a região, no rugby nacional. Este desafio de crescimento do RCS obriga a que um outro grande desafio do futuro passe, naturalmente, pelas condições de treino e jogo para os atletas. A criação de novas infra-estruturas e manutenção das mesmas é um ponto fulcral para o futuro do RCS. A Câmara Municipal de Santarém já assumiu com o RCS esse compromisso de criar novos equipamentos de treino e melhorar as infra-estruturas existentes, por forma a garantir que toda esta massa de atletas e todo este crescimento não se perca. O que nos foi transmitido é que teremos a primeira fase da obra, que inclui balneários e campo de treino, a iniciar em Junho e que em Setembro se lançaria o concurso para a ampliação/reabilitação do campo de relva natural.

Que mensagem gostaria de deixar aos sócios, adeptos e a toda a estrutura do RCS?
Muito, mas muito, obrigado a todos pelo apoio neste ano difícil. O nosso caminho é esforço, lealdade e bravura. Iremos ser ainda melhores no próximo ano. Acreditem em nós porque vamos continuar a fazer história em Santarém. Somos todos RCS!

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…