O Instituto Politécnico de Santarém (IPSantarém) assinala, no próximo dia 05 de Junho, os seus 43 anos de serviço à comunidade com uma Sessão Solene no auditório Professora Maria de Lurdes Asseiro da Escola Superior de Saúde.

Quais são os principais desafios que o Instituto Politécnico de Santarém enfrenta actualmente?

O Instituto Politécnico de Santarém, enquanto instituição de ensino superior público, tem desafios que decorrem daquilo que a própria evolução da sociedade em geral e do sistema de ensino superior. Tem desafios da sua própria natureza e daquilo que é o seu processo de evolução enquanto organização. Do ponto de vista da nossa organização, o IPSantarém tem necessidade de promover uma reorganização no sentido de ter estruturas e serviços mais eficientes na resposta aos nossos estudantes, docentes, não-docentes e organizações da região e também nas suas áreas de ensino e das áreas disciplinares, para que possa ter uma maior interdisciplinaridade. Dessa forma, procuramos promover uma maior inovação, quer do ponto de vista académico, no sentido de oferta formativa, quer também na produção de novo conhecimento e da sua transferência para a sociedade.

Em suma, diria que o IPS passa pelos desafios da inovação pedagógica, da formação de adultos e do desenvolvimento científico, através de centros de investigação: tratam-se de desafios emergentes, que temos estado a dar resposta.

De que forma está o IPS a responder a esses mesmos desafios?

Em termos organizativos, têm sido dados alguns passos, designadamente com um processo que está em curso, de revisão dos estatutos da instituição que, desde a alteração do regime jurídico, em 2007, e depois aprovação dos actuais estatutos de 2009, nunca foram revistos. Portanto, esse processo está em curso no Conselho Geral. Também aquilo que advém da implementação do seu Sistema de Garantia de Qualidade, que a instituição identifica como bastante relevante no âmbito da sua eficiência organizacional.

Teremos uma fase neste próximo ano de avaliação e de submissão do nosso sistema de garantia e de qualidade à agência do ensino superior a A3ES e, por isso, haverá também essa área de autuação na nossa organização interna.

O instituto tem um corpo docente que já está numa idade relativamente avançada. Neste processo de projecção do seu futuro, a renovação do corpo docente e captação do talento é um desafio que já está em curso e queremos apostar essa capacidade, enquanto projecto, de atrair pessoas altamente qualificadas para o nosso trabalho.

Teremos de dar uma resposta actual àquilo que é a sua oferta formativa na perspectiva de apoiar os sectores económicos desta região. Temos uma oferta bastante consolidada e olhamos para o futuro, para o desenvolvimento de respostas daquilo que é a gestão industrial, a gestão da logística, a

continuidade do trabalho sector agro-alimentar com a biotecnologia e também com o desenvolvimento de novas ofertas formativas na área da saúde, onde pretendemos implementar uma segunda área, para além da enfermagem, na Escola de Saúde.

Quais são as principais áreas de investigação e inovação em que o IPS está envolvido?

Possuímos, como já abordei, um desafio muito grande para a questão da investigação. O centro de investigação, que actualmente coordenamos deve ter uma avaliação de ‘muito bom’, neste momento é ‘bom’. Queremos também que possam ser criados polos de outos centros de investigação e novos centros de investigação em áreas de formação especificas, como o desporto e as ciências agrícolas.

Na missão da produção de conhecimento, a exigência é cada vez maior, e a possibilidade que foi há pouco tempo dada para que os Institutos Politécnicos possam outorgar o grau de doutor tem como requisito a existência de centros de investigação. Daí que as instituições precisem de se afirmar por via da sua relevância no desenvolvimento do conhecimento através dos Centros de Investigação.

Isso também vai ser um requisito para que possam passar a usar a denominação de universidades politécnicas. Nós já usamos esse termo para efeitos de internacionalização, mas do ponto de vista da sua utilização nacional estará dependente dos requisitos ficarem definidos no regime jurídico que está também em revisão.

O desafio que temos dos centros de investigação tem realmente esse impacto crítico para o desenvolvimento futuro da instituição. Isto vai levar à necessidade de que os nossos docentes, muitos deles, que estão em centros que não são da instituição tenham que fazer um envolvimento nos centros próprios do politécnico, porque é a única forma com que podemos ter centros de qualidade.

Relativamente à componente de cooperação institucional, pretendemos fortalecer mais a ligação com o território e com as organizações de economia social, promovendo sistemas de informação e plataformas que façam a gestão daquilo que é a relação e cooperação com essas entidades e que facilitem o envolvimento de estudantes, professores e entidades da região num processo de formação, ou seja: desenvolvimento de novas soluções com base em problemas reais e que dessa forma possamos também promover o ensino, e consigamos sair do trabalho tradicional expositivo dentro de sala de aula.

Como é que o IPS está a lidar com as mudanças e os desafios impostos pela transformação digital na educação?

Actualmente, é necessário que as instituições se adaptem à forma de aprender de um público diferente: neste momento, tratam-se de jovens que já cresceram num âmbito e num contexto tecnológico. Portanto, a nossa forma de ensinar tem que ser adequada para o século XXI e para uma geração altamente tecnológica. Daí que a aposta desta inovação pedagógica seja crítica. Nós estamos a promover formação dos nossos professores, em inovação pedagógica, para o ensino baseado na resolução de problemas e vamos iniciar em breve a formação para o nosso corpo docente no âmbito das novas tecnologias e no ensino a distância.

Essa é uma área que a instituição tem de promover. Santarém tem de ser uma referência na forma como ensina, diferenciando-se daquilo que são as formas de ensino tradicionais e expositivas.

Quais são as parcerias mais relevantes do IPS e como é que o politécnico está envolvido no apoio ao empreendedorismo na região?

A questão da cooperação com as entidades é algo que cada vez mais a sociedade exige, principalmente naquilo que são as instituições politécnicas. Se o Politécnico de Santarém não cumprir esta missão de apoiar as organizações e desenvolvimento do território arrisco-me a dizer que pouco sentido e fraca pertinência terá. Existe também uma mudança cultural: temos em curso iniciativas de cooperação com as organizações da região através de concurso de co-criação de ideais, empreendedorismo e formação em contexto de local de trabalho que estamos a promover.

Isso tem de se ‘casar’ cada vez mais com a missão do ensino. Uma vez que formamos para as necessidades do mercado de trabalho, é importante que os nossos estudantes saiam com as competências para o mesmo. A formação dos adultos é uma área na qual não tínhamos estado tão activos no passado e na realidade actual é uma exigência cada vez maior para as instituições cumprirem a resposta a formação de adultos e não tem nada que ver com a formação inicial dos jovens. Esta exige formações curtas, flexíveis, em contexto de trabalho e toda uma forma de pensar formação diferente.

Por isso nós estamos também a desenvolver um conjunto de pós-graduações que iniciaram este ano e cursos breves conferentes de micro credenciais, cuja oferta formativa era praticamente nula no passado e que este ano vamos desenvolver sete pós-graduações, para evidenciar o esforço que se está a fazer. Temos mais de 40 cursos breves que conferem um diploma de micro credencial e essa componente de formação de adultos é também uma forma de cooperação com a região.

Estes cursos são feitos e desenvolvidos para respostas que são identificadas no terreno. Por exemplo, a pós-graduação que estamos a fazer em hospitalização domiciliária que decorre no Hospital Distrital de Santarém e que é única no país, dando resposta a necessidades de formação destes profissionais que actuam no sector e com a Escola de Saúde, estamos a colmatar essas necessidades dos profissionais, trabalhando em cooperação com a Unidade de Hospitalização Domiciliária do próprio Hospital, também uma unidade de referência a nível nacional, e a cooperação com o Hospital sai naturalmente fortalecida. Outro exemplo, é na Escola de Desporto, com o desenvolvimento de formações para a actividade física durante a gravidez, que é uma área onde há muita necessidade de formação. A parte alimentar, está a ser feita com a pós-graduação de dieta mediterrânica. Há um conjunto de áreas que são muito diversas e que estão a ser promovidas.

Como está o IPS a promover a sua a internacionalização?

O espaço europeu afirma-se, cada vez mais, como um espaço único de conhecimento e a União Europeia aprovou uma nova normativa e política para o desenvolvimento de universidades europeias. Significando que as universidades de diferentes países poderão juntar-se numa universidade de cariz europeu, com campus em diferentes países, onde os estudantes poderão circular durante a sua formação realizando períodos de mobilidade curtos ao longo do tempo.

Períodos esses que serão reconhecidos por todos os parceiros, fazendo com que haja uma maior flexibilidade no percurso académico dos estudantes e que as formações e os diplomas atribuídos possam ser feitos de forma conjunta promovendo o seu reconhecimento automático a cada um dos países. O instituto está em articulação com uma aliança com a universidade europeia de tecnologia, onde apresentámos a nossa candidatura para a integrar. Será altamente transformadora na realidade da instituição, na medida em que abrirá um conjunto de redes de cooperação que permitiria a evolução de toda a nossa área de ensino. Esse é também um desafio que existe.

Há também necessidade de o politécnico, cujo ponte forte é a sua interdisciplinaridade, poder estrategicamente utilizar essas diferentes áreas de ensino na promoção de inovação, mas na introdução das tecnologias inovadoras nas diferentes áreas e sectores de formação que temos. A instituição identifica como um eixo de desenvolvimento futuro a aposta naquilo que é o desenvolvimento tecnológico, a transição digital, que a sociedade enfrenta aplicada aos diferentes sectores de formação. Tendo existindo áreas de formação tecnológica no instituto, como é o caso da escola de gestão.

Há uma intensão clara do desenvolvimento das tecnologias aplicadas a sectores agro-alimentar. Actualmente, os nossos estudantes de agricultura conduzem drones e controlam dispositivos de rega. Também queremos apostar nas tecnologias ligadas à saúde, ao desporto, à realidade aumentada, entre muitas outras. No fundo, queremos que o politécnico se afirme como uma instituição tecnológica de inovação aplicada, algo que poderá diferenciar o Politécnico de Santarém e colocá-lo como resposta àquilo que é o desenvolvimento da sociedade. Essa área necessitará de pensarmos na alocação de um polo de inovação tecnológica, onde possamos agregar as diferentes áreas de conhecimento e nos permita através do mundo tecnológico desenvolver respostas para a sociedade actual.

Que respostas está a instituição a promover em relação ao alojamento de estudantes que é um dos problemas transversais do ensino superior?

Neste momento, a circunstância de aumentar o número de estudantes tem muito que ver com a existência de condições para acolher esses estudantes, ou seja: não podemos pensar, no futuro, em estar a aumentar as ofertas formativas e crescer em número de docentes, se um estudante que queira vir para cá não tem um sítio e um quarto para ficar. Está em curso um programa nacional para um alojamento estudantil. O politécnico fez várias candidaturas a esse programa e teve duas residências aprovadas em Santarém. Uma estará no Complexo Andaluz, com capacidade para 30 camas e outra no campus da Escola Agrária para 70 camas. Será um impulso de mais 100 camas, acrescentado a residência de Rio Maior que estará concluída no final do próximo ano lectivo. Portanto, são mais 120 quartos para além das que o município vai proporcionar.

Há também um projecto de uma entidade externa aqui em Santarém, que candidatou o antigo Presídio Militar para residência de estudantes que, aí sim, permitirá um acréscimo de 200 quartos. Portanto, serão 300 quartos a mais em Santarém, o que já será bastante relevante. O aumento do preço de alojamento tem sido muito galopante. Há cerca de três anos atrás, ainda tínhamos ofertas, que neste espaço temporal desapareceu.

Com o preço muito elevado de habitação em Lisboa, cada vez mais famílias estão a vir para a periferia. Muitos quartos deixaram de ser alugados a estudantes. Santarém tem o desafio de criar condições de alojamento. Os nossos dois projectos estão em fase de conclusão. Perspectivamos que poderá haver necessidade de outras iniciativas iguais a esta para resolver o problema do alojamento, mas isso não passará unicamente pelo instituto. Santarém tem de ter condições e, se não tiver, não se poderá afirmar na perspectiva de futuro dos jovens.

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