Foi com muita emoção que Sofia Vieira soube que a Aqui Há Gato, em Santarém, foi, finalmente, eleita a “Livraria Preferida” dos portugueses, depois de vários anos a estar entre as quatro mais votadas.
“Este é um reconhecimento das pessoas. São elas que votam. Não há outros critérios. E quando são as pessoas individuais, muitas que nem conheço, fico muito feliz”, disse Sofia Vieira à Lusa.
A livraria Aqui Há Gato, em Santarém, foi eleita “Livraria Preferida” dos portugueses, na votação promovida pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) pelo oitavo ano consecutivo, obtendo 2.322 dos cerca de 7.000 votos feitos online nas últimas sete semanas, sendo ainda distinguida como a melhor livraria ao nível de Conveniência de Serviços, afirma uma nota da APEL.
Para esta psicóloga educacional, actriz e contadora de histórias, a distinção da livraria que criou em 2007, no centro histórico de Santarém, é um “reconhecimento pelo serviço público” prestado, sobretudo durante a quarentena imposta pela pandemia da covid-19.
A livraria fechou portas a 14 de Março devido à pandemia, acabando igualmente as oficinas e as actividades dos sábados, assim como as histórias e os espectáculos nas escolas e teatros em vários pontos do país, mas Sofia Vieira “reinventou” o espaço, continuando a “levar alegria” às crianças através da página da Aqui Há Gato no Facebook e no Instagram.
As histórias contadas diariamente em directo – às 11:30 e às 21:00 – trouxeram novos amigos de todo o país e também de comunidades portuguesas no estrangeiro e de países de língua oficial portuguesa, dando origem a comentários e a episódios que a emocionam.
“Tenho crianças de todo o país, e mesmo do estrangeiro, que, nestas férias, pediram aos pais para virem a Santarém conhecer a livraria, verificar que não é um sonho, existe mesmo”, disse.
Com o fim do estado de emergência, a livraria – para onde se é conduzido por patinhas de gato coladas na calçada das ruas do centro histórico de Santarém – tem de novo as portas abertas e a gatinha Migas na montra, ou a vaguear pelo espaço, agora visitado de máscara e à vez.
Mas o confinamento abriu novas possibilidades, como as vendas ‘online’ e o contacto com as crianças através das horas do conto, para as quais Sofia escolhe diariamente livros das pequenas editoras independentes com as quais trabalha e se empenha em divulgar.
A história das 21:00 mantém-se em directo e Sofia passou a colocar, às 07:00, o “Bom Dia Histórias”, um “aconchego para começar bem o dia”, que está a ter um “bom ‘feedback’” das crianças.
O prémio é também “um reconhecimento de que a vida das crianças fica diferente” com o contar de histórias, disse, salientando não ter sido a única a fazê-lo nestes tempos difíceis.
“Sem cultura teriam sido dias ainda mais difíceis”, afirmou, sublinhando que “um país que não valoriza a cultura não pode ser feliz”.
Sofia Vieira faz questão de lembrar os artistas que, privados do contacto com o público, não conseguiram encontrar formas de sobrevivência.
Ciente de que a “próxima etapa” vai ser uma “prova de fogo”, pelo “medo” e “incerteza” que se coloca na reabertura das escolas, Sofia Vieira mantém o lema de se reinventar constantemente, não escondendo o alento que representa o reconhecimento de “uma pequena livraria independente”, numa cidade como Santarém.
Para os que votaram na Aqui Há Gato fica a certeza de uma “amizade para a vida”.