O presidente da Câmara Municipal de Santarém (CMS), Ricardo Gonçalves (PSD), defende que o presidente da empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP) não tem condições para se manter no lugar e afirma que António Laranjo se deve demitir ou ser demitido.

“Se há um ano desafiei o presidente da IP a reflectir sobre se tinha condições para continuar no lugar, hoje afirmo com toda a convicção que se deve demitir de imediato, ou então ser demitido pelo Ministro Pedro Nuno Santos ou pelo Primeiro Ministro António Costa”, assume Ricardo Gonçalves.

Na altura, o autarca de Santarém manifestou-se contra o responsável da IP por causa do processo de consolidação das encostas das Portas do Sol, junto à linha ferroviária do Norte, e da reabertura, de forma condicionada, da Estrada Nacional (EN) 114.

A empresa pública sempre rebateu esta ideia, mas acabou por seguir esse mesmo plano: “sinto-me contente e ao mesmo tempo triste por não me terem dado ouvidos”, disse, então, Ricardo Gonçalves, lembrando que andava a alertar para a urgência da intervenção na encosta das Portas do Sol desde que foi publicado em Diário da República, em Março de 2017, o parecer da Procuradoria Geral da República (PGR) que exortava a IP a “compelir” o proprietário do terreno a efectuar obras de conservação para “evitar desabamentos que possam afectar a segurança da linha férrea”.

Já, em Abril deste ano, após o segundo acidente mortal na Linha do Norte, na zona do Casal do Peso, Ricardo Gonçalves diz que a IP “mais uma vez tentou, de forma vergonhosa, passar a responsabilidade para a CMS, dizendo que já devíamos ter feito uma obra que sabiam que só podíamos iniciar depois de nos terem feito chegar o projecto, o que sabiam não terem ainda feito”.

Sabe-se agora que a referida obra que a IP pretendia realizar não fazia sequer parte das três recomendações do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários para mitigar o risco de atravessamento daquela passagem de nível, sendo que a CMS desde sempre defendeu que ali se devia construir uma passagem desnivelada, o que, diz, “sempre foi refutado pela IP, por questões financeiras”.

“Tendo havido nessa passagem de nível um segundo acidente num período de tempo inferior a cinco anos, a IP tem obrigatoriamente que construir ali uma passagem desnivelada”, defende o autarca de Santarém.

“Isto é gravíssimo”, conclui Ricardo Gonçalves, reafirmando que é chegada a hora da IP mudar de liderança.

FECTRANS diz que administração da IP está “fora do prazo”

A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) criticou esta semana a administração da Infraestruturas de Portugal (IP) por “pretender antecipar as conclusões do inquérito” ao acidente em Soure e exige “a sua demissão de imediato”.

“É altura de o ministério da tutela substituir esta administração incapaz de dar prioridade a um assunto importante para evitar acidentes ferroviários e devolver à ferrovia o que é da ferrovia, concentrando nesta a gestão unificada de todos os seus segmentos – operação, infraestruturas e manutenção”, defende a estrutura sindical, em comunicado.

A FECTRANS e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, o seu sindicato do sector, criticam a IP por, numa altura em que decorre um inquérito para apurar as causas da colisão entre um Alfa Pendular com 212 passageiros e um veículo de conservação de catenária, da qual resultaram dois mortos, a administração ter já dito “quem são os culpados, para procurar desculpar as causas”.

“A administração foi clara a atribuir culpas e depois procurou justificar a sua incapacidade de implementar as recomendações a que estava obrigada, que se o tivesse feito, como todos reconhecem, teria evitado o acidente”, salienta a organização sindical, na mesma nota.

Para a FECTRANS, a actual administração da IP “já está fora de prazo, como se comprovou pelas diversas contradições sobre o assunto em análise”.

O descarrilamento do comboio Alfa Pendular, no concelho de Soure, distrito de Coimbra, com 212 passageiros, provocou na sexta-feira, 31 de Julho, dois mortos, oito feridos graves e 36 feridos ligeiros.

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