Entre os dias 10 e 12 de Outubro, Santarém será o centro do debate heráldico internacional com o Colóquio Internacional “Cartas de Brasão de Armas: Heráldica, Iluminura, Codicologia, Arquivística, Direito e Arte”. Organizado por Miguel Metelo de Seixas e Maria Alessandra Bilotta, ambos investigadores do Instituto de Estudos Medievais (IEM) da Universidade Nova de Lisboa, o evento será realizado na Biblioteca Municipal “Braamcamp Freire” e no Auditório da Casa do Brasil, em Santarém.
A conferência de imprensa de apresentação do evento realizou-se no dia 26 de Setembro, na própria Biblioteca Municipal “Braamcamp Freire”, onde Miguel Metelo de Seixas esteve presente para partilhar os principais objectivos e conteúdos do colóquio.
O evento pretende não apenas abordar as raízes históricas da heráldica europeia, mas também lançar novas luzes sobre a preservação e digitalização de cartas de brasão de armas, muitas das quais permanecem inacessíveis nos arquivos. Miguel Metelo de Seixas referiu durante a conferência que “a heráldica é uma janela para a compreensão do poder e das hierarquias sociais ao longo da história”. A sua intervenção deu o mote para um evento que visa explorar a importância contínua da heráldica, tanto no passado como no presente, enquanto campo de estudo que atravessa várias disciplinas, desde a história até ao direito.
Heráldica: do poder à identidade
A conferência irá explorar o papel central da heráldica na sociedade medieval e moderna. As cartas de brasão de armas, que concedem a uma pessoa ou instituição o direito ao uso de um emblema heráldico, eram ferramentas fundamentais na afirmação de poder e na construção de identidade social.
Para além do seu valor simbólico, estas cartas tinham implicações jurídicas reais, atribuindo privilégios concretos, como isenções fiscais ou direitos de propriedade.
Miguel Metelo de Seixas destacou a importância da análise multidisciplinar que o colóquio propõe: “Este encontro não é apenas para heraldistas. Estamos a reunir especialisttas em história, direito, arte e arquivística, para que as cartas de brasão possam ser analisadas em toda a sua complexidade”. Com a participação de instituições internacionais como a École Pratique des Hautes Études (Paris) e a Universidad Rey Juan Carlos (Madrid), este colóquio pretende ir além das fronteiras nacionais, debatendo a heráldica num contexto europeu.
Além de aprofundar os aspectos históricos, serão debatidos os impactos sociais e culturais da heráldica nos dias de hoje, explorando como estes emblemas continuam a influenciar a identidade de instituições e pessoas.
A importância do património heráldico de Santarém
Santarém, com o seu vasto acervo de documentos heráldicos, é o local ideal para acolher este evento. A cidade tem uma forte ligação à heráldica, sendo a terra natal de Anselmo Braamcamp Freire, um dos mais notáveis heraldistas portugueses. Braamcamp Freire foi pioneiro na sistematização das cartas de brasão de armas, tornando a heráldica numa disciplina rigorosa. Luís Mata, historiador e técnico do Município de Santarém, enfatizou que “este colóquio é uma oportunidade para dar visibilidade ao espólio heráldico de Santarém e reforçar o papel da cidade como referência nacional no estudo e preservação deste património”. A biblioteca municipal, onde muitos destes documentos estão preservados, será também palco de debates sobre a importância da digitalização, permitindo que este valioso acervo esteja acessível a investigadores de todo o mundo.
A riqueza do património heráldico de Santarém inclui documentos que remontam à Idade Média, e a preservação deste espólio é uma prioridade tanto para os académicos como para as autoridades locais. Luís Mata destacou o papel essencial que a biblioteca desempenha na conservação destes documentos, sublinhando a importância de continuar a expandir as iniciativas de preservação e digitalização.
Digitalização e preservação: olhar para o futuro da heráldica
A digitalização de cartas de brasão de armas será um dos temas centrais do colóquio. Grande parte deste património documental permanece inacessível ao público, guardado em arquivos e colecções privadas. O processo de digitalização é, por isso, essencial para garantir a preservação e a acessibilidade a estes documentos históricos. “Estamos a preparar um futuro em que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, possa aceder a estes documentos e estudá-los”, frisou Seixas.
Este esforço de digitalização já conta com a colaboração de várias instituições estrangeiras e nacionais, que se comprometem a trabalhar na criação de bases de dados digitais que permitirão o acesso a um número cada vez maior de cartas de brasão. A digitalização não só preservará os documentos originais, como também permitirá uma investigação mais alargada, ampliando o conhecimento sobre os beneficiários destes títulos nobiliárquicos.
O projecto de digitalização será fundamental para assegurar que este património não se perca com o tempo, garantindo que as futuras gerações de investigadores e interessados possam aceder a esta informação vital para o estudo da heráldica.