O artista plástico Mário Rodrigues faleceu na tarde de hoje, segunda-feira, no hospital de Santarém, onde se encontrava internado.
O estado de saúde do escultor agravou-se nos últimos dias.
As cerimónias fúnebres decorrem no dia de hoje, 09 de Outubro entre as 13h15 e as 23h00 na Casa Mortuária das Portas do Sol, onde estará o corpo em Câmara Ardente e onde será celebrada missa pelas 20h30, seguindo amanhã, quarta-feira, pelas 8h30, para cremação em Setúbal.
A última exposição que ofereceu à cidade aconteceu este Verão e intitulava-se “As pedras são testemunhas silenciosas”, que expôs juntamente com Carlos Amado e Fernanda Narciso, inaugurada a 3 de Setembro, em duas lojas do centro histórico de Santarém.
O projecto começou numa ideia do escultor Mário Rodrigues, que pegou em pedras da calçada e começou a “trabalhá-las em baixo e alto relevo”, fazendo “pequenas esculturas” e incrustando pedaços de azulejos, peças que transmitem “o desgaste do tempo”.
Na passagem do 125.º Aniversário deste Jornal, Mário Rodrigues, a par de outros quatro artistas plásticos, foi convidado a passar para a tela o que representava para ele este Jornal.
A obra pode ser vista no hall de entrada do Jornal e é o resultado do seu processo criativo, uma “grande aventura a dois, uma espécie de luta entre mim e o trabalho, este reclama coisas, propõe soluções e define regras e é nesta constante dualidade que o trabalho se vai lentamente fazendo e desfazendo até atingir aquilo que se pretende”, afirmou o artista ao Correio do Ribatejo.
Para o escultor “a arte é sempre um desafio, uma aventura, onde para além do prazer do fazer há também momentos de incertezas e de sofrimento, mas sem isso sem essas dificuldades, pintar, seria uma grande chatice”, afirmou.
“É complicado dar por terminado um trabalho, é uma decisão ponderada em que eu e o trabalho conseguimos chegar a acordo, só quando, os dois intervenientes, eu e o quadro, estamos satisfeitos é que gritamos já está pronto…mas por agora”, notou na altura.
Mário Rodrigues tinha pelo Correio do Ribatejo uma grande afeição considerando o Jornal “uma referência, e um elemento importante no acesso à boa informação do que acontece na cidade e região e, desse modo, cria pontes, propõe soluções e incentiva opiniões. Foi um jornal que me habituei a ler desde bem cedo,” informou na mesma entrevista, fazendo notar ainda que “uma sociedade desinformada do que acontece à sua volta é uma sociedade desligada da vivência da cidade, da cidadania e do interesse comum”, frisou.
O seu percurso nas artes plásticas durou mais de quatro décadas. Um dos seus últimos trabalhos, foi uma peça escultórica que era uma alegoria ao drama dos refugiados.
“Desde a infância que o fazer coisas me fascinou, os meus brinquedos, por exemplo, eram feitos por mim,” partilhou numa entrevista ao Correio do Ribatejo.
As suas maiores referências foram Júlio Resende, Matisse, Gauguin, Willem de Kooning, ou Tapies, na pintura, e, na escultura, José Rodrigues, Henry Moore, Ron Muek ou Alberto Giacometti.
Os problemas sociais envolviam-no nas suas telas.
Expôs pela primeira vez, em 1984, no Fórum Mário Viegas, em Santarém, e dizia-se igualmente apaixonado pela leitura, cativando-o obras como ‘O Livro da Consciência’, de António Damásio; ‘Livro de Crónicas’, de António Lobo Antunes; ou ‘O Grande Desígnio’, de Stephen Hawking.
Numa entrevista a este Jornal garantiu ter como lema de vida “viver” e no seu processo criativo havia sempre “o tempo do olhar”: “Não dispenso o meu olhar demorado, crítico e estético, passo muito tempo analisando e construindo mentalmente soluções, que depois passo para o trabalho, mais uma vez o trabalho me questiona e umas vezes cedo eu, outras é ele que cede.”
Desta vez, foi o artista a ceder, mas a sua obra fica.
À família enlutada o Correio do Ribatejo endereça as mais sentidas condolências.
Actualizada às 12h45 de dia 09 de Outubro