De todas as propriedades da natureza a mais difícil de definir é o tempo. Não sabemos de que é feito o tempo nem como pode ser controlado. Sabemos apenas que existe porque temos uma prova concreta da sua existência: a memória. Não haveria memória sem aquilo a que chamamos tempo. É a memória que nos dá conta do tempo, não o contrário.
O domínio do tempo é o domínio da memória. “Quem domina o passado, domina o futuro. E quem domina o presente domina o passado”, disse George Orwell. Não seriamos humanos se não tivéssemos memória, se fôssemos obrigados a reaprender tudo a cada dia que passa. Mas não é só. Somos humanos porque passamos memórias para a geração seguinte. Não teríamos saído de um estado civilizacional muito primitivo se não conseguíssemos transmitir para a geração seguinte o que aprendemos e que retivemos em memória. Se em cada geração tivéssemos de reinventar a roda e reaprender o domínio do fogo, estaríamos ainda perto do ponto de partida.
Somos humanos porque aprendemos, porque retemos a aprendizagem em memória e porque transmitimos aprendizagens e memórias às gerações seguintes. A memória de um individuo deve-se à complexa arquitetura do seu cérebro. A memória de um povo deve-se às suas obras e à materialização das ideias, sobretudo na forma escrita. Ano após ano o Correio do Ribatejo constitui-se em memória e identidade do Ribatejo, tomando as rédeas do tempo, como quem domina o passado para dominar o futuro. Completam-se este mês cinco anos de contribuições ininterruptas, para este enlace do tempo, nas páginas do Correio do Ribatejo. Na hora de completar o ciclo, ficam saudades. Não as saudades do passado, mas as saudades do futuro.
Miguel Castanho
Investigador em Bioquímica