Foram apagados da história. E continuam a sê-lo, quando os seus nomes são omitidos. E quando o seu papel é atribuído a outros, que dirigiram a associação depois deles.

Falamos dos fundadores e primeiros dirigentes do que é hoje a Sociedade Recreativa Operária, de Santarém. Esta coletividade popular vem de celebrar o seu 108º aniversário.

É um monumento vivo de cidadania e cultura.

Da identidade coletiva desta cidade. E é também uma sobrevivente do antigo movimento operário e sindical, que existia antes da ditadura de Salazar.

Sindicalismo

Originalmente, teve o nome de Associação Fraternidade Operária.

No período da 1ª República, foi um espaço central para reuniões sindicais em Santarém. O que lhe valeu aliás ser ameaçada de encerramento, por parte das ‘liberais’ autoridades desse regime.

Foi na sua sede que se realizou o último congresso da federação nacional de trabalhadores rurais, em 1925. A própria associação funcionou como estrutura representativa da classe trabalhadora. Por exemplo, em questões de horário de trabalho e de acidentes laborais.

Até que a ditadura decretou o fim da liberdade sindical, em 1933. E o que é hoje a S.R.O ficou confinada ao papel de associação recreativa.

Os fundadores

Perderam-se eventuais atas. E a imprensa da época não disse. Mas subsiste uma fonte primária, que é possível consultar diretamente, na Biblioteca Nacional.

Em 1940, a S.R.O. publicou um jornal comemorativo do seu 25º aniversário. Numa altura em que ainda eram vivos vários dos seus fundadores.

E aí ficaram registados os seus nomes. Num artigo do então presidente da direção, Alfredo Bernardes da Silva. Passamos a citar: foi “em conversa amena havida entre Virgílio Venceslau, Júlio Patrício e Gabriel da Conceição” que “nasceu a ideia” de criar a associação.

Em pouco tempo, essa ideia “tomou vulto realizando-se a primeira reunião com um número limitado de sócios fundadores que além dos já citados eram: Leovegildo Pais, Carlos Augusto Mendes, Diogo Maria Baeta, Fernando Lino, José Martinho, Bernardo Paulino Pereira, Lourenço dos Santos, João Lourenço dos Santos, Pedro Joaquim Sequeira e Joaquim do Carmo Silva”.

Assim se verifica no jornal «Sociedade Recreativa Operária» [31/03/1940, p.1].

Mais ou menos pela mesma altura, alguns dos fundadores da S.R.O. juntaram- se na foto que ilustra este artigo. A qual pode ser vista na sede da coletividade, no ‘Largo do Padre Chiquito’.

A primeira direção

Por sua vez, na Biblioteca Municipal de Santarém, pode consultar-se a imprensa local que noticiou a eleição dos primeiros corpos sociais da S.R.O., em 1916.

Eis os nomes: “Assembleia geral – presidente, Eurico Pinto Ferreira; secretários, António Dias da Silva e Alexandre dos Santos. Direção – presidente, José Rodrigues Portela; secretários, Álvaro Tavares de Campos e Joaquim do Carmo Silva; tesoureiro, Luís Madeira; vogais, João Tomás Ferreira, Júlio Maria Patrício e Gabriel da Conceição.

Conselho Fiscal – Carlos Augusto Mendes, Hipólito da Costa Teodósio e Júlio José Leal.”

Assim se verifica nos jornais «Correio da Extremadura» [29/01/1916, p.4] e «O Debate» [03/02/1916, p.2].

Figuras marcantes

Os fundadores e primeiros dirigentes da S.R.O. marcaram a história local. Note-se, por exemplo, que: Um deles, Bernardo Paulino Pereira, foi presidente da Câmara Municipal de Santarém, sob a 1ª República; Dois outros, Eurico Pinto Ferreira e Júlio Maria Patrício, foram presos políticos sob a ditadura de Sidónio Pais;

E um outro, José Rodrigues Portela, ainda foi um destacado opositor à ditadura de Salazar, como dirigente distrital do MUD (Movimento de Unidade Democrática) e da candidatura presidencial de Norton de Matos.

Uma característica que salta à vista é a sua diversidade ideológica. Entre eles se contam militantes de várias correntes políticas da época: do anarco-sindicalismo ao antigo Partido Socialista Português, passando por diferentes partidos republicanos (democrático, evolucionista e unionista).

A eles voltaremos com mais pormenor.

LUÍS CARVALHO – INVESTIGADOR

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