Em Santarém, o Hospital Distrital não possui serviço de recolha sendo este assegurado por uma unidade móvel do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), que, para garantir as condições de segurança a dadores e profissionais envolvidos na dádiva, suspendeu a actividade em todo o país. Agora, as associações benévolas de dadores procuram alternativas de modo a não deixar cair para níveis dramáticos as reservas de sangue tão necessárias para doentes politraumatizados e outros com necessidade de transfusões.

Com a suspensão das recolhas de sangue nas exíguas unidades móveis que não deixam espaço para o distanciamento social que se exige nesta altura, as associações benévolas de dadores têm procurado alternativas para assegurar que as reservas de sangue se mantém estáveis no País.
O Grupo de Dadores de Sangue de Pernes (GDSP), um dos mais activos da região, tem mantido as suas recolhas regulares, fruto de parcerias estabelecidas com a União de Freguesias da Cidade de Santarém e a autarquia no sentido da utilização de espaços municipais para esse fim.

“As recolhas estiveram suspensas durante algum tempo, uma vez que as realizávamos em unidade móvel. Quando aconteceu a situação do Covid-19, o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) decidiu suspender as recolhas nas unidades móveis, pela proximidade dos dadores dentro do veículo, mais os enfermeiros, administrativos e motorista. Era muita gente num espaço tão pequeno. E a DGS entendeu, e acho que fez bem, suprimir todas as recolhas de sangue em unidade móvel. Então, optámos por encontrar espaços físicos. Solicitámos à União de Freguesias da Cidade de Santarém, que nos disponibilizou a Escola Primária de Nossa Senhora da Saúde, e a Câmara de Santarém, que disponibilizou a Casa do Campino, que todos conhecem, extremamente ampla, onde não há proximidade de dadores e com condições excelentes para realizar as recolhas de sangue que estavam agendadas”, conta Mário Gomes, presidente do Grupo de Dadores de Sangue de Pernes à reportagem do Correio do Ribatejo.

Por estes dias, a Casa do Campino, em Santarém, está, pois, transformada num centro de recolha de sangue, onde a solidariedade fala mais alto que o risco da pandemia.

“Todos nós cidadãos temos a obrigação de estar muito atentos à evolução desta pandemia e continuarmos a ser solidários com os outros doentes que precisam muitíssimo do nosso suporte”, afirmou Maria Ferreira, uma dadora que, na passada sexta-feira (08 de Maio) se deslocou à Casa do Campino para “cumprir o dever de cidadania”.

O mesmo sentimento é partilhado por António Ferreira que esperou, pacientemente, mais de 30 minutos para dar sangue: “dou porque posso e sinto que poderei estar a ajudar alguém”, refere, convicto.

“Vou continuar até poder”, reforça este dador que repete este gesto há mais de 20 anos. Questionado sobre se sente receio por estar a realizar esta dádiva em plena época de pandemia, António é peremptório: “problema não vejo nenhum. Não custa nada ajudar. Vamos tomando, obviamente, as devidas precauções e há que confiar”, afiança.

O risco de transmissão deste vírus através do sangue é actualmente desconhecido, não havendo evidências da sua transmissão. Mas, ainda que este risco seja desconhecido, não parece haver razões para alarme.

O instituto Português do Sangue garante mesmo que “até agora, não foi reportado nenhum caso de transmissão de vírus respiratórios (incluindo coronavírus) por transfusão ou transplantação e as medidas adoptadas para a elegibilidade dos dadores de sangue impedem a dádiva de pessoas com manifestações clínicas de infecção respiratória ou febre.

“Todas as pessoas, ao chegarem aqui, são logo rastreadas. É-lhes medida a temperatura, e, se tiverem mais de 37,5 graus, já não podem dar sangue”, esclarece Mário Gomes, garantindo “total segurança” na recolha.

Além disso, todos os candidatos respondem a um questionário com consentimento informado, “são avaliados por um médico, quer nas suas respostas como através de exame médico”, tendo sido ainda instituído “um reforço na pesquisa de antecedentes pessoais do dador, nas questões relacionadas com as viagens a áreas ou regiões com surto ou transmissão comunitária ativa”, diz ainda.

Além de uma “triagem clínica dos dadores”, sugere-se um aumento da comunicação aos dadores e profissionais de saúde e um reforço nos “procedimentos de hemovigilância”, nomeadamente após transfusões de sangue, entre outras acções.

“Sem as dádivas de sangue, muitos doentes não podem ser tratados, pois, apesar dos avanços técnicos, o sangue humano ainda não tem substituto. A vida de muitas pessoas está dependente da dádiva altruísta de pessoas saudáveis”, alerta Mário Gomes.

Depois de uma fase inicial, em que se observou uma retracção de dádivas, o que provocou baixas reservas de sangue nas unidades hospitalares, neste momento o responsável acredita que a situação está, paulatinamente, a voltar ao normal.

Há quatro níveis de alerta no Plano de contingência para a reserva estratégica nacional de Sangue, sendo que o mais grave (vermelho) é accionado quando as reservas disponíveis só chegam para três dias. Nessa altura, podem ser canceladas todas as cirurgias programadas, reduzido o intervalo de tempo entre dádivas que geralmente é de dois meses para 14 dias e considerada a utilização de plasma convalescente (sangue que contém anticorpos), entre outras medidas.

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