O Jornal Correio do Ribatejo assinalou, na passada sexta-feira, dia 8, os 131 anos da sua fundação, reconhecendo personalidades e instituições que têm trabalhado em prol do desenvolvimento da região. A cerimónia de entrega destas distinções decorreu no Teatro Sá da Bandeira.
“O Correio do Ribatejo tem obrigações perante a sua comunidade e uma delas é estar atento a quem da mesma forma, por outros desígnios vai servindo, também a região”, começou por dizer Ludgero Mendes, administrador desta publicação.
“Este Jornal, que já cruzou três séculos, tem-nos desvendado milhares de histórias, as quais poderão ser consultadas nas suas 6.825 edições, tantas são as semanas que medeiam entre a primeira edição, datada de 9 de Abril de 1891, e a de hoje, que assinala a data do 131.º aniversário. Isto permite-nos dizer que em nenhuma semana, fosse em que conjuntura fosse, este Jornal deixou de cumprir a sua missão, entrando em casa dos seus fiéis Leitores”, disse ainda.
“131 anos é, como se compreende, um alcance temporal já muito vasto. O Correio do Ribatejo, que no berço começou por se chamar Correio da Extremadura, conta-nos a História, página a página de todas estas longas semanas que enchem estas treze décadas”, continuou.
“A História da nossa região e um pouco da História do nosso País, não pode construir-se sem um olhar atento e consciente destas múltiplas páginas destas edições do Jornal. Sentimos que este Jornal, ao longo de toda a sua existência, foi um Jornal de causas: batemo-nos por aquilo em que acreditamos, mas também por aquilo que sentimos que é importante colectivamente para o desenvolvimento da nossa região. Somos, de alguma forma, o testemunho vivo, activo e consciente da História a que assistimos ao longo destes 131 anos”, afirmou.
“Um Jornal cujas páginas se engrandeceram com a colaboração de centenas de colaboradores, de fazedores de opinião, de historiadores, que, de uma forma generosa e altruísta, sempre contribuíram para que o Correio do Ribatejo seja também essa história viva que faz parte da nossa região”, explanou Ludgero Mendes.
“Como tudo na vida, o ‘Correio’ teve momentos mais altos e mais baixos. E a empresa Verdade das Palavras apanhou o Jornal numa das fases mais baixas. A ameaçar até a decadência e quem sabe a extinção. Mas três amigos, irmanados do mesmo espírito, de salvar o jornal, de pugnar pela sua salvaguarda, e tentar tanto quanto possível valorizá-lo, no respeito pela memória dos seus fundadores, deram as mãos e recuperaram o Jornal. Essas pessoas – Teresa Lopes Moreira, João Paulo Narciso e Ludgero Mendes – tudo fizeram e farão para que este título continue a desempenhar o seu papel”, garantiu.
“O Correio do Ribatejo está vivo e recomenda-se. Continua atento ao meio que o envolve e às pessoas que fazem a História que nós narramos, construímos e queremos legar para o futuro”, concluiu.
Mantendo-se fiel aos princípios que nortearam a sua fundação, o ‘Jornal de Todos e para Todos os Ribatejanos’, distinguiu, este ano, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Batalha, dramaturgo, encenador e ex-presidente do Instituto Bernardo Santareno, Joaquim Pedro Torres, fundador da Agroglobal, Sofia Vieira, da Livraria ‘Aqui há Gato’, Associação Académica de Santarém, APPACDM e Conservatório de Música de Santarém.
Visivelmente emocionada, Sofia Vieira, da Livraria ‘Aqui há Gato’, agradeceu a distinção, que fez questão de partilhar com os muitos colaboradores e leitores que têm contribuído para o projecto: “O Aqui há Gato é fruto do contributo de muitas pessoas. Estou muito grata de estar aqui. Muito grata às boas histórias que me fizeram estar aqui e muito grata às histórias que hão-de chegar porque eu acredito que este mundo que nós vivemos só beneficia ouvindo muitas histórias, boas histórias, aquelas que nos fazem acreditar em dias melhores, em sonhos, que não nos fazem desistir. As boas histórias são sempre assim: fazem-nos crescer e é o que me têm feito a mim. Têm-me feito crescer diariamente. Sempre que conto histórias e vejo o brilho no olhar nas crianças, sinto em mim que estou a fazer o caminho certo. Que estou a contar a história certa. Que estou a deixar uma semente. E enquanto eu sentir isto, contem comigo. Contarei muitas histó – rias”, garantiu.
Livraria preferida dos portugueses em 2020, a “Aqui Há Gato”, é muito mais do que uma livraria: é, antes, um espaço de criação, nas artes cénicas, teatrais e plásticas, onde os livros são escolhidos a dedo para crianças de todas as idades, para onde se é conduzido por patinhas de gato coladas na calçada das ruas do centro histórico de Santarém.
“Ao longo de 15 anos, fomos dando um passo de cada vez. Estamos a construir um caminho” a partir de “um sonho muito desejado”, diz Sofia Vieira, promotora do “Aqui Há Gato”.
Sofia nasceu em Santarém, em 1979. Licenciada em Psicologia Educacional pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (Lisboa) e formada em Educação pela Arte e em Arte Terapia, decidiu lançar mãos à obra e contruir, de raiz, este projecto inovador.
Desde 2007, é impulsionadora do projecto “Aqui há Gato” (www.aquihagato.org), uma associação com um plano educativo e artístico dinamizado em jardins de infância, escolas, bibliotecas e teatros, com várias valências, entre as quais livraria infantil, companhia de teatro, e oficinas de arte para bebés e crianças até aos 12 anos.
A “Aqui Há Gato” é fruto do gosto partilhado pela Arte e pela Educação. Para além de ser uma livraria especializada na infância, onde os livros têm um lugar muito especial, as crianças podem descobrir a arte através das diversas oficinas artísticas (teatro, música, dança, escrita criativa, pintura, escultura). A realização deste projecto surgiu da necessidade de reconhecer a importância do Livro Infantil na educação das nossas crianças, bem como de incentivar a criança enquanto ser Criativo e Artístico.
A Livraria, implementada no Centro Histórico de Santarém, assume-se, assim, como um “espaço mágico” onde a Literatura Infantil, a Psicologia, a Educação e Arte caminham lado a lado com um único foco: o bem-estar da Criança.
Por isso mesmo, a “Aqui Há Gato” é muito mais do que uma livraria: além dos livros infantis, alguns deles de editoras “muito pequeninas”, há sessões de histórias, oficinas de artes e noites temáticas.
Um “lugar muito especial” que conquistou os que seleccionam as livrarias “Emblemáticas de Portugal” e tem estado entre as “preferidas dos portugueses”.
A segunda homenagem da noite foi atribuída a Joaquim Pedro Torres, o rosto mais visível da Agroglobal, certame que se realizou em Valada, entre 2009 e 2021.
Manifestando o “orgulho enorme” em receber esta distinção do Correio do Ribatejo, Joaquim Pedro Torres afirmou: “sou de Santarém e quiseram as circunstâncias da vida que o Mundo Rural fosse o meu habitat, para a minha actividade profissional e não só”.
“Posso-me considerar um homem de sorte por isso ter acontecido. Porque, na realidade, acho que se encontra no mundo rural uma importante reserva de valores, não só de preservação ambiental, mas muito mais do que isso, uma grande reserva de valores humanos. Habituei-me a conviver semanalmente com o Correio do Ribatejo em casa dos meus avós, em casa dos meus pais, acompanhei sempre a defesa do Ribatejo e dos seus valores, da sua história e potencialidades, que o ‘Correio’ fazia e faz. Essa voz foi importante no passado e acho que é cada vez mais importante no futuro. O Correio do Ribatejo fala, também, de zonas interiores: zonas que não têm voz, que têm cada vez menos gente e, por isso, mais esquecidas, mas não menos importantes para o País que queremos ser. Um País equilibrado e, todo ele, a contribuir para o bem-estar de todos nós. Desejo uma vida muito longa ao nosso Correio, e com um jornalismo assente naquilo que assentou até hoje: paixão pela nossa região e coerência”, afirmou.
É inegável o trabalho de muitos anos que Joaquim Pedro Torres tem desenvolvido em prol do desenvolvimento agrícola e da valorização do agricultor, assim como são inquestionáveis as suas qualidades humanas, perseverança e espírito empreendedor, que contribuíram para elevar o mundo rural e a agricultura a um nível de excelência e modernidade.
Joaquim Pedro Torres licenciou-se em 1972 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. Passou pelos quadros da então Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, na Divisão de Hidráulica e Engenharia Agrícola, mantendo em paralelo algumas iniciativas empresariais agrícolas, como a criação e engorda de perus e produção de milho em parcelas arrendadas.
Forcado dos Amadores de Santarém durante nove anos, ingressou em 1983 no Banco Pinto e Sotto Mayor, na recém-criada Direcção de Agricultura Indústrias Alimentares e Pescas, chefiando a delegação do Ribatejo e Oeste, com sede em Santarém.
Em 1989, o aumento de dimensão potencial da actividade agrícola leva-o a criar, em sociedade com a Irricampo (representante de equipamentos de rega), a empresa Valinveste, Investimentos e Gestão Agrícola, vocacionada para a produção agrícola, acompanhamento técnico em explorações agrícolas de terceiros e estudo e preparação de projectos de investimento. Em 2008 a Valinveste atingia a facturação de 12 milhões de euros.
Joaquim Pedro Torres, carinhosamente conhecido por ‘Peu’, foi condecorado no 10 de Junho, em 2009, durante as comemorações do Dia de Portugal, em Santarém, pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, Grau de Comendador.
Nesta “Gala de Homenagens”, foi ainda distinguida a acção do Conservatório de Música de Santarém. O diploma foi entregue à presidente da instituição, Maria Beatriz Martinho, uma das fundadoras.
“Muitos Parabéns e muitos mais anos de vida ao nosso Correio! Um obrigada, do Coração, pela homenagem com que quisera distinguir-nos. É maravilhoso. Disse, partilhando este momento tão significativo com toda a comunidade do conservatório com os alunos, pais, professores, corpos sociais, funcionários administrativos, para todos eles a gratidão envolta num muito obrigada de emoção e felicidade”, declarou.
O Conservatório de Música de Santarém (CMS) é uma cooperativa sem fins lucrativos que foi fundada em Maio de 1985 por um grupo de doze pessoas que entre si partilhavam o gosto pela música.
Prestes a celebrar 37 anos de uma vida conquistada etapa após etapa, onde a esperança, o positivismo, a determinação, o amor à Arte e os afectos pelo outro, estiveram sempre presentes, o CMS é hoje uma instituição plenamente consolidada.
Desde a sua fundação que o Conservatório, com paralelismo pedagógico, desenhado oficialmente pelo Ministério da Educação, lecciona em regime Articulado e Supletivo os cursos Básicos (do 1º ao 5º graus) e Secundários (do 6º ao 8º graus) de música.
O CMS é o único do país Escola Associada da UNESCO, distinção conferida após uma criteriosa análise do curriculum desta instituição de ensino, leccionando desde a Iniciação Musical (3/9 anos de idade) até ao 8º grau do Ensino Oficial, a partir do qual os alunos poderão ingressar em Escolas Superiores de Música quer em Portugal, quer no estrangeiro, como tem acontecido ao longo destes anos.
O Conservatório de Música de Santarém oferece Ensino de Música para 23 instrumentos, em regime articulado, supletivo e livre, desde o Curso Básico até ao Secundário do Ensino Oficial.
E desde que passou para as novas instalações alargou a sua oferta formativa ao Ensino de Dança Contemporânea e Ballet, com a atribuição de Prémios de Desempenho atribuídos pela American Academy of Ballet de Nova Iorque.
Simultaneamente, o Conservatório apoia e fomenta Projectos próprios dos seus alunos, dando-lhes uma dimensão de divulgação artística e de cidadania activa e, como Escola Associada da UNESCO, não esquece o lema principal pedagógico em favor de uma educação de qualidade, que assenta nos quatro pilares de educação segundo Delors: “Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser”.
Nesta Gala de Aniversário, foi ainda distinguida a APPACDM de Santarém, a instituição mais antiga do distrito vocacionada para o apoio e acolhimento de pessoas com deficiência mental, tendo completado, no passado dia 03 de Março, os seus 50 anos de serviço à comunidade.
A instituição, já há alguns anos presidida por Luís Amaral, parabenizou o Jornal pelos seus 131 anos, desejando “muitos anos longos de escrita, de rigor e contributo para o Ribatejo e Santarém, em especial”.
“Esta homenagem não é minha. É de todos quanto têm contribuído para que a APPACDM de Santarém tenha feito o seu caminho de defesa da pessoa com deficiência intelectual. Este prémio é para quem nos tem ajudado a crescer e a ser o que é hoje para poder servir, integrar e promover as pessoas que dela necessitam. Foi preciso ter coragem. É preciso ter coragem para desenvolver um projecto desta natureza”, disse.
Para Luís Amaral, esta homenagem significa um apoio, um “gesto da comunidade”, que a instituição “pode continuar a contar com o apoio da comunidade para a continuidade deste projecto”.
“A diferença há-de um dia acabar. E esse é o objectivo. O normal é tudo ser diferente. E, portanto, que esse dia seja breve. Trabalharemos todos para isso, apelou. E o Correio do Ribatejo tem sido uma ajuda importantíssima neste objectivo que prosseguiremos com todos vós”, declarou.
A APPACDM de Santarém é uma organização que começou por ser, há 50 anos, uma delegação de uma organização Nacional que se chamava APPACDM PORTUGAL. Santarém era o oitavo centro dessa organização nacional. No final dos anos 90, autonomizou-se, tal como as outras, que já existiam. Com isto, aproximou-se mais das pessoas e, ao longo deste meio século tem defendido e propagado valores como a ética e integridade, a excelência, a flexibilidade, o humanismo, a igualdade de oportunidades e o profissionalismo.
Em 1977, a Delegação encetou negociações com a Congregação das Irmãs do Santíssimo Salvador para compra da Quinta de Nossa Senhora do Rosário, situada no Vale de Santarém.
Actualmente, a APPACDM de Santarém apoia, nas suas estruturas, mais de 500 utentes, possuindo um Lar Residencial (no Vale de Santarém), dois lares de apoio e duas residências autónomas em Santarém e no Cartaxo, além de um Clube de Apoio, Lazer e Tempos Livres, o Coro “Ao Meu Ritmo”, o Grupo de Teatro Fantasia da APPACDM e outro de atletismo.
Com meio século de existência, a instituição tem um grande caminho feito, mas que “está longe de estar concluído”, sendo que o grande desafio actual se prende com o aumento da capacidade de acolhimento permanente.
A quinta Homenagem da noite foi reservada à Associação Académica de Santarém (AAS), clube que assinalou, no passado dia 05 de Outubro, o seu 90º Aniversário.
Senhora de um palmarés invejável e de uma história sem paralelo, a Briosa tem formado gerações de “Campeões para a Vida”.
Carlos Esteves, presidente da direcção da AAS, agradeceu a distinção e desejou “muitos e longos anos de vida ao Correio”.
“Esperemos que consigam fazer tantos, ou mais anos de notícias, para que as futuras gerações possam continuar a acompanhar este excelente trabalho. Esta homenagem é, para a Académica, motivo de orgulho. A Briosa, apesar dos seus 90 anos, está cada vez mais jovem e iremos continuar a fazer o nosso trabalho”, afirmou.
“Queria agradecer a todos os técnicos, direcção, encarregados de educação, equipas médicas e respectivos atletas pela resiliência e pela forma como continuam a acreditar em nós e continuam a estar ao nosso lado”, declarou.
As origens da Briosa remontam à década de 20 do século passado: na altura, as duas academias existentes em Santarém – a do Liceu Nacional Sá da Bandeira e a da Escola de Regentes Agrícolas, passavam o tempo em rixas, embora muitos dos alunos, de uma e outra, não concordassem e tivessem, por sua vez, boas relações.
Fundado a 5 de Outubro de 1931, o novo clube foi baptizado de Associação Académica de Foot-Ball. Porém, um ano depois, passou a ter o nome de Associação Académica de Santarém, o qual se tem mantido ao longo dos tempos.
Mais do que um clube de formação de futebol, a AAS tem procurado alargar as suas secções e oferta desportiva: está a desenvolver a ginástica, o Jiu-jitsu e uma secção de Petanca.
“O nosso lema, desde há três anos para cá, é “Formar a Ganhar”. Nós formamos a ganhar. No entanto, não ganhamos a qualquer preço. Não prescindimos dos processos de formação para ganhar. Tentamos criar condições para que todos os miúdos possam ter o tempo de jogo e treinem nas mesmas condições que todos os outros” faz questão de afirmar o actual dirigente do clube.
Esta cerimónia evocativa do 131º Aniversário do Correio do Ribatejo prosseguiu com a homenagem a Vicente Batalha. Natural de Pernes, tem dedicado a última década a promover a cultura alcanenense, através de múltiplas iniciativas culturais e o próprio teatro do grupo “Alcanena em cena”, do qual é encenador.
Socorrendo-se da frase do Nobel da Literatura, José Saramago, “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória, não existimos. Sem responsabilidade talvez não mereçamos existir”, Vicente Batalha agradeceu “reconhecidamente” à administração do Correio do Ribatejo a “generosidade” desta distinção.
“O homem é o homem mais as suas circunstâncias. A responsabilidade e memória é o que se trata aqui, e as circunstâncias desta viagem que eu empreendi. Essas circunstâncias começaram no meu local de nascimento, em Pernes. Foi aí, na família, nos amigos que comecei e, depois, nesse percurso que foi da nossa cidade de Santarém, da nossa região, do Ribatejo, de Lisboa, à Capital, e depois Alcanena, e do lado de lá do mar que fala português, para a Guiné, Angola, Moçambique e Brasil”, afirmou, emocionado.
“Eu quero agradecer a todos que, ao longo desta viagem, dessa viagem em busca dessa utopia, desse sonho de transformar o mundo, ou pelo menos de o tornar mais humano, me acompanharam. É para todos os que me ajudaram a ser quem sou que tenho que dizer-lhes um profundo obrigado do fundo do coração. Todos nós precisamos de estímulos, de afectos, que ultrapassem as nossas humanas fragilidades e este gesto de homenagem, a todos, é uma homenagem a Santarém e ao Ribatejo, a todo o ser humano”, referiu.
“Pois essa homenagem faz-nos sentir bem, reencontrar-nos a nós mesmos. E também reencontrarmo-nos uns com os outros. E com a nossa consciência mais tranquila. Termino com uma frase de um escritor Virgílio Ferreira: “Uma vida, como ela é intensa, porque o que nela acontece não é o que nela acontece, é a quantidade de nós que acontece nesse acontecer”. Ao Correio do Ribatejo muitos anos de vida”, concluiu.
A vida de Vicente Batalha cruza-se com todo o percurso da intelectualidade portuguesa do século XX. Actor e promotor cultural, tem dedicado toda a sua vida à difusão da cultura e abraçado a causa pública.
Foi presidente da Junta de Freguesia da sua terra, Pernes [1990/97], vereador na Câmara Municipal de Santarém e membro da Assembleia Municipal de Santarém, tendo também sido presidente do Instituto Bernardo Santareno – dramaturgo que se tem perdido no emaranhado da literatura portuguesa e que tem procurado preservar – entre outros cargos ligados à área da cultura.
Nascido a 18 de Outubro de 1941, em Pernes, onde fez a instrução primária, Vicente Batalha foi criado num ambiente entre a música, o teatro e o cinema, tendo pisado o palco pela primeira vez com 5 anos de idade na ‘Música Nova’, que considera quase como “uma segunda casa”. Desde então, nunca mais parou.
Foi, igualmente, um dos fundadores da Cooperativa de Teatro Popular de Almada e teve várias experiências como actor no Teatro Experimental de Cascais, tendo ainda um percurso vasto ligado à colaboração com a imprensa regional, entre os quais o “Correio do Ribatejo”, e com diversas associações culturais e sociais.
No último ano esteve envolvido nas celebrações do centenário do nascimento de Bernardo Santareno, dramaturgo nascido em Santarém e com raízes familiares no concelho de Alcanena, que deixou uma obra onde se captam os “fantasmas” da cultura portuguesa, refere. Um nome que se tem perdido no emaranhado da literatura portuguesa e que tem procurado preservar.
A última homenagem da noite foi atribuída a José Manuel Constantino, que foi reeleito, no passado dia 10 de Março, para um terceiro mandato na presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Nascido em Santarém a 21 de Maio de 1950, a vida de José Manuel Constantino está intimamente ligada com o mundo do desporto: “a minha ligação ao desporto, do ponto de vista formal, começou quando iniciei a minha actividade no futebol dos Leões de Santarém, nos infantis, creio que com 14 anos”, recorda.
“Fiz prática desportiva no liceu: pratiquei andebol, voleibol, basquetebol, entre outras modalidades e, depois, tive uma ligação mais formal, já do ponto de vista da minha actividade profissional, quando concluí o meu curso de educação física no INEF (Instituto Nacional de Educação Física). Particularmente no Sport Algés e Dafundo, onde fui secretário técnico da direcção e, depois, na Federação Portuguesa de Halterofilismo, onde fui assessor da direcção”, recorda ainda.
José Manuel Constantino deixou Santarém para ir tirar o curso superior de Educação Física em Lisboa, mas nunca esqueceu as suas raízes: “somos o lugar que nascemos, os pais que tivemos, os professores que nos ensinaram, as ruas que calcorreámos, as ilusões e desilusões que tivemos”, afirmou.
“Cheguei um pouco antes da cerimónia a Santarém e fui visitar os locais onde habitei, onde nasci, as escolas que frequentei, o sítio onde jogava à bola e fugia da polícia, no Choupal. E ruas e passeios que calcorreei na minha juventude, e que marcam naturalmente a minha identidade”, confessou.
“Saí de Santarém com 17 anos, mas Santarém não saiu de mim. Daqui guardo memórias do meu tempo de infância, da minha formação na escola primária, no Liceu, e a circunstância de nessa formação ter tido dois professores de educação física [José Caetano e José Gameiro], que me marcaram de forma decisiva para eu optar por aquilo que julgava que ia ser – professor de ginástica, como então se dizia – e que as circunstâncias da vida me empurraram para outros desígnios e outros desafios”, contou.
“Não foi tarefa fácil”, continuou, “sou filho de país humildes… o meu pai trabalhava no comércio, em frente a este mesmo Teatro [Sá da Bandeira], nos Armazéns Beja, e foi sempre com muitos sacrifícios que os meus pais conseguiram criar condições para que o filho fosse estudar para Lisboa e pudesse ter uma formação superior. Onde quer que estejam nesta altura estarão seguramente orgulhosos dos sacrifícios que fizeram para o filho poder ter a condição que teve, a formação que teve, e as circunstâncias da vida o terem levado a posições de responsabilidade nacional”, recordou.
“Na minha infância, o Correio do Ribatejo era o jornal que o meu pai lia ao Domingo. Uma parte dessa leitura era feira na cama, e recordo também que ia para o lado dele, na cama, ler o jornal que ele estava a ler. Isto para vos dizer que, desde os meus primeiros anos, este jornal foi meu companheiro de casa. Foi meu companheiro, com os meus pais, de uma leitura semanal sobre a vida da cidade e do Ribatejo. Estou, naturalmente, muito reconhecido ao Correio do Ribatejo pela circunstância de me terem escolhido para esta distinção, porque é, acima de tudo, o reconhecimento da terra onde nasci, da terra que me ajudou a ser aquilo que sou, da terra que não esqueço e da qual tenho profundo orgulho em ser Scalabitano”, concluiu.
Para João Paulo Narciso, director do Jornal, estas homenagens a Homens, Mulheres e Instituições têm um denominador comum: “todas e todos ajudam a construir e dar identidade a este vasto território ao qual este jornal teima em chamar Ribatejo”.
“Nunca antes o papel dos jornais foi tão importante na coesão social, na defesa do sistema democrático, no estímulo à solidariedade e consciencialização dos cidadãos. Esperamos poder continuar, por muitos e bons anos, a construir esse contributo”, afirmou o responsável.
“O Jornal que João Arruda trouxe à estampa, cerca de duas décadas antes da Implantação da República está vivo e este nosso número de aniversário é mais uma gratificante prova de vida”, considerou.
Uma “Caixa Mágica” que permite uma “viagem digital” no tempo
Nesta Gala de Aniversário do Correio do Ribatejo, que contou com apontamentos musicais do Coro do Circulo Cultural Scalabitano, foi ainda apresentado publicamente o mais recente projecto do Jornal: a sua digitalização integral, o que permitirá, a partir de agora, disponibilizar ao grande público os 131 anos de publicação ininterrupta – cerca de 7 mil edições – no formato de e-paper.
Toda esta informação poderá ser acedida através de uma mesa interactiva instalada na sede do jornal, ou na página da internet do Correio do Ribatejo. Todo este processo de digitalização das edições do jornal teve o apoio da autarquia scalabitana, que reconheceu o papel que este título tem tido na região e que é também fonte de informação no que respeita a estudantes e investigadores. Desta forma, a actual administração do Correio do Ribatejo tem encetado esforços para que a totalidade destas publicações fossem colocadas para usufruto do público em geral e facilmente acessíveis através de um ‘click’.
Para a direcção do ‘Correio do Ribatejo’, a preservação digital da memória escrita em papel de um dos mais antigos jornais regionais existentes no País é um passo fundamental para que se assuma, ainda mais, como fonte de informação privilegiada para o estudo e a compreensão da História do final do século XIX até à actualidade da cidade e do distrito de Santarém e, também, do País.
“É esta generosa oferta que concedemos ao mundo: a possibilidade de nos perdermos e deliciarmos no contagiante desfolhar digital das páginas que nos avivam memórias da infância; a possibilidade de conferir os factos que foram notícia desde os finais do século XIX; ficar a par do que se passou na região, por exemplo no nosso dia de aniversário, ou simplesmente apreciar a forma como se anunciava noutras épocas. Acreditem que é uma autêntica maravilha.”, afirmou João Paulo Narciso.
E, neste espírito, o Jornal pretende desenvolver novas iniciativas com o objectivo principal de reforçar a literacia, a inclusão para a comunicação social, o conhecimento da realidade local e regional, bem como a captação de novos leitores.
A Gala Anual do Correio do Ribatejo terminou com o já tradicional corte do bolo de aniversário – confeccionado pela Escola Profissional do Vale do Tejo (EPVT) – ao som dos ‘Parabéns a Você’, cantados pelo Coro do Círculo e todos os presentes, antecedendo o brinde com espumante Quinta da Lapa.
Filipe Mendes