A ciclista ribatejana Maria Martins garantiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de Paris, que se vão realizar de 26 de Julho a 11 de Agosto, na capital francesa. É a segunda vez consecutiva que a jovem ribatejana, de 24 anos, se apura para a mais consagrada prova desportiva mundial, onde irá competir na prova de omnium feminino.
“É sempre um processo de qualificação difícil, mas é por isso que significa tanto quando o alcanças”, disse Maria Martins, atleta nascida em Moçarria, na sua página de Facebook.
A qualificação olímpica no ciclismo de pista é um processo bastante exigente. O seleccionador nacional, Gabriel Mendes, lembra que Portugal não tem uma selecção tão alargada, em termos de possibilidades e de opções, e que, por isso, foi Maria Martins a fazer praticamente todas as provas da qualificação, à excepção da última etapa da Taça do Mundo, em Milton, no Canadá, onde alinhou Daniela Campos.
“É, por si, um processo extremamente árduo e exigente, ainda mais concentrado numa única atleta. E ela [Maria Martins] fê-lo com bastante o sucesso, e é a confirmação e a consolidação também da nossa parte no feminino, e estamos bastante orgulhosos e satisfeitos com isso, como é óbvio”, disse Gabriel Mendes.
Ao contrário da maior parte das modalidades individuais, o apuramento no ciclismo não é conseguido por ranking, resultado ou marca pessoal de cada atleta. Baseia-se nos rankings por nações de cada vertente e disciplina. Por esse motivo, não há ciclistas apurados diretamente, mas sim quotas por nação.
Nos últimos Jogos Olímpicos – Tóquio 2020 – Maria Martins fechou a participação portuguesa com um 7.º lugar no omnium, na estreia de Portugal no ciclismo de pista em Jogos Olímpicos.
Maria Martins, natural da Moçarria, concelho de Santarém, tornou-se a primeira ciclista portuguesa a ser medalhada num europeu e num mundial de pista, em provas de scratch. ‘Tata’, alcunha pela qual é também conhecida, conquistou o bronze europeu em Apeldoorn, Holanda, em Outubro passado e voltou a fazer história, no passado dia 26 de Fevereiro, ao conquistar o bronze no Campeonato do Mundo de Pista, em Berlim, Alemanha.
Maria ‘Tata’ Martins desde de muito cedo que começou a praticar BTT nos passeios pelo campo com um tio e os trilhos em BTT que fazia com os amigos foram o início. Aos 15 anos integrou a equipa de BTT do Moçarria Aventura Clube, federou-se, começou a fazer provas.
“Comecei com simples passeios com o meu tio pelo Parque de Monsanto, fazendo BTT e simplesmente desfrutando dos melhores trilhos. O gosto pela modalidade foi crescendo”, disse, numa entrevista recente ao Correio do Ribatejo.
Foi durante umas férias no Algarve que a jovem ‘Tata’ recebeu a sua primeira bicicleta: “os meus pais chegaram a casa com uma bicicleta para mim e para a minha irmã. Lembro-me perfeitamente como era. Compraram-na no supermercado, era da marca era Team. Era preta e vermelha, sem rodinhas. Foi o presente que me deixou mais feliz. Era muito pequenina e nunca tinha andado numa bicicleta, daí o entusiasmo”, relata ao Correio do Ribatejo.
“Nessa altura, estava longe de pensar que o meu futuro ia ser por ali, muito longe mesmo. Posso dizer que comecei a pensar em querer ciclista por volta dos 12 ou13 anos”, afiança.
Desde então, a paixão correu sobre rodas: a atleta conquistou a medalha de bronze no Campeonato Mundial de Ciclismo em Pista no ano de 2020 na prova de Scratch e, nesse mesmo campeonato, alcançou 4.º lugar na disciplina de Omnium, que lhe garantiu apuramento para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
Em 2019, também conquistou medalha de bronze no Campeonato Europeu de Pista na disciplina de Scratch, e foi 8ª na corrida de Omnium.
A Atleta Ribatejana foi também medalhada em duas Taças do Mundo, em Hong Kong onde alcançou prata na disciplina de Omnium e bronze na disciplina de Scratch. Uma semana depois, na Nova Zelândia, ficou às portas do pódio alcançando um 4.º lugar na disciplina de Omnium.
Em 2019, Maria Martins tornou-se Vice-Campeã da Europa de Sub-23 na disciplina de Eliminação, no mesmo dia que completou o seu 20 aniversário.
Em 2018, nos seus primeiros campeonatos da Europa de Sub-23 conquistou a medalha de bronze na prova de Scratch.
Em 2016, Maria Martins tornou-se, no seu primeiro ano de Júnior Vice-campeã da Europa na prova de Scratch. Passado 1 ano, nos Campeonatos Europeus em Anadia, Portugal, Maria volta a repetir o feito alcançando a Prata, mas na disciplina de Eliminação.
Habituada a subir aos pódios, Tata diz que esses momentos “são dos melhores momentos que um atleta vive, é uma imensidão. São instantes de pura felicidade e emoção. É um grande orgulho. O reconhecimento, a recompensa pelo trabalho feito. Não há nada melhor que ter o resultado na mão e sentir que todo o sacrifício valeu a pena. Especialmente, para as pessoas à nossa volta é muito gratificante”, garante a atleta.
Quando lhe perguntamos se tem algum ídolo, Tata é categórica: “Nunca fui de ter um só ídolo, admiro os atletas em geral, tanto no ciclismo como em outros desportos, no entanto tenho como regra todos aqueles que seguem os caminhos certos, progressivos e bem-sucedidos, aqueles que se mantém de cabeça erguida apesar das dificuldades que enfrentam. Para mim, todos os atletas que tenham carácter e espírito de atleta são uma inspiração para mim e os que me transmitirem isso serão um ídolo para mim.”
Na base do seu sucesso desportivo, está o apoio da família, que sempre a incentivou e apoia nos momentos mais difíceis: “Felizmente posso dizer que sempre tive a minha família e amigos do meu lado! E sinto-me grata por isso. Sem dúvida, que é o pilar mais importante e decisivo no crescimento de uma pessoa e principalmente de um atleta. Sinto-me muito, muito sortuda por ter as pessoas que tenho ao meu redor, porque, sem eles, não estaria onde estou. O ciclismo é um desporto que exige grande capacidade financeira por parte das famílias e a minha chegou a pagar para eu correr internacionalmente”.
Um apoio que não é só financeiro, mas é, sobretudo, motivador: “a partir do momento que nos tornamos atletas de alta competição, considero que estamos naquele degrau onde só cabe excelência, resiliência, dedicação e paixão. Considero que os maiores sacrifícios que tive foram o conciliar dos estudos com o desporto. Outros sacrifícios que passei e que actualmente ainda passo são o controlo do peso corporal, a gestão psicológica em certos momentos da época e alguns relacionados com a nossa vida social.”
“Na altura em que estava a estudar”, conta Tata, “era mais difícil, mas considero que conciliar a vida pessoal e de atleta seja um dos desafios mais difíceis que os desportistas têm. Abdicamos de muitas coisas em prol dos treinos, do descanso e da recuperação para podermos estar na melhor forma. Ainda assim, não deixo de poder desfrutar das coisas que gosto de fazer. Somos pessoas e não máquinas”.
Questionada sobre o ‘segredo’ dos seus sucessos desportivos, Tata revela a fórmula: “Os resultados são apenas o fruto de todo um longo e exigente processo que vem de trás. É um processo onde passamos por muitas fases, altos e baixos constantes, mas que independentemente disso não paramos porque temos os olhos postos num determinado objectivo”.
“A primeira coisa que um jovem atleta tem que pensar é: “eu gosto de fazer isto?”. Se é isso que quer fazer para a vida toda. Se sim, então, o meu conselho é: “não desistam”. É possível, mas é preciso muito trabalho, esforço e dedicação porque encontramos muitas pedras pelo caminho”, diz Tata.
Para o futuro, Maria Martins tem a ambição de tirar o brevet e seguir uma carreira de piloto na aviação comercial, uma outra paixão, a par do ciclismo.
“Gosto de pensar no futuro, organizando a minha cabeça e programando-a para cada objectivo futuro, no entanto, o meu pai sempre me ensinou a viver o presente e encarar um dia de cada vez. Como tal, é isso que tenho feito, vivo o presente, desfruto dos momentos agora mas sempre com os meus olhos no futuro”, garante.