A administradora do ‘Correio do Ribatejo’ Teresa Lopes Moreira completaria hoje, 23 de Setembro, 59 anos de idade.
Faleceu a 25 de Abril de 2022 e um ano após a sua morte, o Jornal, do qual foi administradora desde 2013, homenageou-a na sua Gala anual: “A Teresa foi sempre uma Mulher de causas, que se entregou inteiramente àquilo em que acreditava, pugnando pela liberdade, pela justiça, pela verdade e pela honradez. Nunca deixou de dizer ou de escrever aquilo em que acreditava por medo a retaliações ou incomodidades. Era uma mulher frontal e directa, não admitindo hipocrisias ou falsidades”, recordou Ludgero Mendes, igualmente administrador deste Jornal, acrescentando: “para a Doutora Teresa Lopes Moreira, como para os seus Consócios, a Verdade não tem versões – ou é Verdade ou é mentira. Foi cultivando esta filosofia de vida que nos entendemos na gestão da empresa “Verdade das Palavras, Lda.” e do próprio “Correio do Ribatejo”, concordando todos na trajectória que sempre prosseguimos e que transformámos como lema. Nenhum de nós abraçou este projecto empresarial para enriquecer ou para ajustar contas com quem se exponha na vida pública”.
“Somos um Jornal diferente, simplesmente porque sim, porque queremos, efectivamente, ser um jornal diferente. Não nos deslumbramos com o sucesso do passado, como não nos atemorizamos com os constrangimentos do presente e de um futuro que já começou”, prosseguiu, apontando que o Correio do Ribatejo é um Jornal com 132 anos de memória que vive no presente e se projecta no futuro.
A Historiadora da Cidade
A Historiadora Teresa Rosário Lopes Moreira, nascida em Santarém em 23 de Setembro de 1964, deixou um legado inquestionável para a cidade e para a história da região.
Ex-administradora e colaboradora de longa data do Jornal Correio do Ribatejo, é autora do livro “Memórias da Cidade”, lançado em 2018, que retrata a dinâmica cultural de Santarém entre 1930 e 1959.
Na sessão de lançamento deste livro, que lança um novo olhar sobre a história contemporânea de Santarém, uma espécie de acerto com as memórias sedimentadas da sua cidade, Teresa Moreira confidenciou que a ‘velha Scalabis’ sempre a fascinou.
“Trabalhei muitos outros temas que também me apaixonaram, mas sabe-se lá porquê, regressei sempre à minha cidade. Alguns dos personagens ou locais abordados fazem parte de uma infância passada em Marvila, num tempo em que fervelhava de pessoas, comércio, vizinhança, afectos”, confessou, recordando que foi em 1981 que entrou pela primeira vez no Correio do Ribatejo, ainda tipografia.
“Frequentava a disciplina de Jornalismo e pretendia fazer um trabalho sobre o Correio do Ribatejo, Jornal onde aprendera a juntar as primeiras letras e único de acesso permanente na minha casa. O Dr. Virgílio Arruda recebeu-me e alargou os meus horizontes para uma fonte inesgotável que é um Jornal. Foi amor à primeira vista que se mantém até hoje, daí que este seja a fonte primária principal para este trabalho”, contextualizou, na altura.
“A minha participação escrita no Correio do Ribatejo iniciou-se em 1998, onde procurei fixar no papel estórias e histórias da cidade, do concelho, do distrito de Santarém”, disse.
A obra, prefaciada pelo Historiador Vítor Serrão, é constituída por cinquenta e três textos escritos e publicados no Correio do Ribatejo entre 2009 e 2017 e está dividida em quatro partes: “as memórias”, “o comércio”, “os homens” e “o Correio do Ribatejo”.
“As memórias” recordam vários episódios que unem o colectivo escalabitano como defesa patrimonial, actos eleitorais, homenagens, mudanças políticas, sem ignorar os conflitos sociais. “O comércio”, especialmente a publicidade que o promove, são um meio privilegiado para pesquisar a evolução de uma cidade que sempre se olhou como agrícola. Pensões, farmácias cabeleiros, alfaiatarias, pastelarias, lojas a retalho de tecidos permitem caracterizar a vida social e económica da cidade. “Os Homens” construíram a identidade da cidade fossem eles políticos, pintores, cineastas, historiadores, poetas daí que fossem relembrados com frequência nos seus textos, até porque Teresa Moreira sempre assumiu o gosto de escrever biografias.
““O Correio do Ribatejo” foi o meu ponto de partida, a minha âncora em muitos dos textos que escrevi, daí que uma das partes do livro seja uma homenagem os seus fundadores e continuadores, a tipografia e os tipógrafos, alguns dos seus colaboradores, enfim, ao próprio Jornal, enquanto instituição”, referiu, então, Teresa Lopes Moreira.
“Sem Memória não há História, são duas companheiras inseparáveis. O passado traz-nos sempre ensinamentos e prova disso mesmo é a actualidade de muitos textos escritos no Correio do Ribatejo e publicados há várias décadas. Os nossos políticos deviam conhecer melhor a nossa História e evitar que as nossas vidas de transformem num longo “Alzheimer””, resumiu ao Correio do Ribatejo.
As comemorações da Revolução de Abril de 1974 em Santarém deste ano foram-lhe dedicadas, em homenagem ao seu trabalho e legado.
Maria Teresa do Rosário Lopes da Cruz Moreira, nasceu a 23 de Setembro de 1964, na freguesia de Marvila, concelho de Santarém, casada com João Carlos da Cruz Moreira, filha de Alberto de Jesus Lopes e de Maria de Lourdes do Rosário Pedro Lopes.
Fez o ensino geral na Escola do Salvador e Escola Secundária Sá da Bandeira. Licenciada em História, pela Universidade Autónoma de Lisboa (1983-87), Mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a dissertação orientada pelo Prof. Dr. António Dias Farinha “A Etiópia na Obra de Miguel Castanhoso” (2001). Doutoranda em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: “A Colonização do Piauí no Século XVIII”, sob a orientação do Prof. Dr. João Cosme (2004-06). Doutora em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa: “Todos Têm Direito à Cultura”. A Dinâmica Cultural da Cidade de Santarém (1930-1959)”, sob a orientação do Prof. Dr. José Neves (2014). Integrava o Instituto de História Contemporânea da Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde 2012.
Integrou a Comissão Executiva para as Comemorações do Centenário do Nascimento de Manuel Ginestal Machado (2005), tendo recebido público Louvor do Círculo Cultural Scalabitano pelo trabalho executado, e integrou o projecto da candidatura de património imaterial “Os Avieiros”, dinamizado pela Escola Superior de Educação de Santarém, bem como a Comissão Popular do 25 de Abril de Santarém.
Escrevia semanalmente no jornal Correio do Ribatejo e pontualmente para a revista universitária brasileira Opsis.
Professora de História desde o ano lectivo 1987-88 tendo leccionado na Escola Secundária do Cartaxo; Escola C+S da Chamusca; Escola Preparatória Mário Beirão, Beja; Escola C+S de Boticas; Escola Preparatória de Alcanena; Escola Básica 1, 2, 3 de Rio Maior; Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos José Tagarro, Cartaxo e Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos D. João II, Santarém. Exerceu os cargos de Delegada de História, Coordenadora do Departamento Curricular de Ciências Sociais e Humanas, Directora de Turma, Coordenadora dos Directores de Turma, membro da Assembleia de Escola, avaliadora do Grupo de Recrutamento 200, membro do Conselho Pedagógico e membro do Conselho Geral.
Foi Chefe de Divisão do Património Cultural, Arquivos e Bibliotecas na Câmara Municipal de Santarém em regime de comissão de serviço entre 2006 e 2010. Por inerência do cargo exerceu funções de Directora da Biblioteca Municipal de Santarém e de Vice-Directora do Museu Municipal de Santarém.
Colaboradora da Universidade da Terceira Idade de Santarém onde leccionava História, desde 2011. Sócia gerente da empresa “Verdade das Palavras” detentora do Correio Ribatejo, desde 2013, Jornal que assim perdeu a administradora e, paralelamente, uma das suas mais ilustres colaboradoras.
Respeitada por todos, sempre atenciosa e com uma palavra amiga, destacou-se pela sua coerência de princípios, modéstia e coragem. Viria a falecer a 25 de Abril de 2022, o que não poderá deixar de ter um profundo simbolismo, posto que sempre pugnou pelas conquistas de Abril, na construção de um país livre e democrata, onde todos pudessem conviver digna e solidariamente.
A actual administração do Jornal Correio do Ribatejo recorda-a com saudade, exaltando a sua memória e o tanto que deu de si ao serviço da cidade e deste Jornal.