A notícia chegou, cruel e dura, por telefone, na manhã dos cravos, flores de que tanto gostava. Do outro lado uma voz embargada dava-me a triste confirmação da despedida. Morreu a Teresa! Incrível. Ainda hoje não acredito. Perdi uma Amiga e quem tudo deu a este Jornal que tanto amava.

Em 2013, reunimos esforços para que este título se mantivesse, num acto de salvaguarda. Em nove anos de trabalho lado a lado, nem uma discordância, nem uma dúvida, nem uma palavra que colocasse em causa este projecto, muito pelo contrário, a Teresa sempre foi de uma entrega total a este Jornal que nem esta fase difícil que atravessava interrompeu, já que manteve sempre a sua colaboração e os seus apaixonantes textos, lá saberá Deus como.

Esta semana publicamos mais um, que nos fez chegar sempre atempadamente como era uso e costume, para a sua tão apreciada página ‘Memórias da Cidade’. Desta vez, a história de vida de Antonino Pires da Silva, um tipógrafo que prestou serviço nesta casa durante mais de 60 anos. Mais um texto apaixonado que nos ajuda a recordar a cidade e os seus protagonistas, ao longo dos anos. Mais um sobre os Homens que ajudaram a construir este Jornal.

A Teresa comentava sobretudo o passado, mas nunca se coibiu de interpretar o presente e de perspectivar o futuro. Era sempre uma voz activa e bem patente nos diferentes fóruns que frequentava, sempre de mãos dadas com a dinâmica cultural da cidade de Santarém.

A conter as lágrimas, de memória em memória, escrever sabe-me a sal, neste ingrato exercício de juntar letras dando corpo a um autêntico ponto final. Está difícil…
Neste até já sócia, confidente, professora, amiga, cabe ainda um agradecimento a todos (e foram muitos) que nos endereçaram mensagens de conforto pela perda e marcaram presença na despedida. Acho que todos perdemos quando pessoas como Teresa Lopes Moreira se despedem tão precocemente desta luta que é a vida.

Cara amiga, vamos continuar a tentar manter bem vivo este Jornal e sei que, onde estiveres, estarás feliz com isso mesmo. Quis o destino que te despedisses de nós num 25 de Abril que tanto amavas. Sempre o viveste como Sophia o anunciava: “O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo”.

Mulher livre, ajudaste-nos a cruzar os séculos nas lembranças que nos aclaraste.
O tempo, hoje difícil, amanhã saudoso, fará de ti, também, uma grata memória da nossa cidade.

João Paulo Narciso

Leia também...

O Festival dos festivais I

Um Festival de sabores chama-nos à Casa do Campino que tarda em ser Museu da Gastronomia a ‘alimentar’, todo o ano, o dia-a-dia cultural…

Uma «Festa Redonda» da Terceira no CCB de Lisboa

António Valdemar, Luísa Costa e Luiz Fagundes Duarte foram os mestres-de- cerimónias da «Festa Redonda» terceirense em pleno CCB de Lisboa. O bilhete indicava…

‘O Afeganistão é um problema nosso? Claro que é…’, por Ricardo Segurado

A semana que passou fica marcada, infelizmente, pelo regresso dos Talibãs ao poder do Afeganistão. 20 anos volvidos, e os Pashtun (etnia predominante entre…

‘Natal’, por João Paulo Narciso

Aqui há uns anos, nesta mesma coluna onde vos escrevo, semanalmente, deixei expresso o desejo de, por cada ano que passe, o espírito da…