João Perdigão foi um “taurino” de excelência, um bom amigo que viveu intensamente o fenómeno tauromáquico na sua amada Vila Franca e que sempre esteve disponível para apoiar os jovens que apareciam com vontade de ser toureiros. A sua última aposta foi no auspicioso novilheiro Tomás Bastos, por quem muito diligenciou no sentido de não lhe escassearem meios para cumprir o seu sonho. E que tão eloquentemente tem sabido corresponder a este desígnio.

O Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Tertúlia “O Natural”, Paulo Malico Sousa, emitiu um comunicado onde presta justa e oportuna homenagem ao grande Homem e Aficionado que foi João Perdigão, de que pela sua pertinência e com a devida vénia aqui deixamos alguns excertos: “Escrevemos este texto porque, hoje e sempre, a amizade não é, nem nunca poderá circunscrever-se a uma qualquer palavra vã, vazia, oca e desprovida de qualquer sentimento.

E o nosso amigo João Perdigão interpretou, fielmente e mais uma vez, esse sentido de amizade ao tomar a iniciativa de organizar, a 2 de Abril último, na Herdade da Baracha, o evento “Vamos vestir o Toureiro”, procurando reunir o apoio financeiro suficiente para comprar traje de luces, traje curto, capotes, muletas, estoques, montera e todo o restante material necessário para o tão difícil “arranque” do Tomás em arenas espanholas e portuguesas, muitas delas com o prestígio taurino de Sevilha, Bilbao, Valência, Puerto de Santa Maria ou, intramuros, Vila Franca e Moita do Ribatejo.

Já anteriormente, aquando das comemorações dos 25 anos da nossa Tertúlia, o João Perdigão havia convidado o Tomás Bastos, através de seu pai, o nosso conterrâneo e figura dos bandarilheiros David Antunes, para actuar na Baracha, lidando uma bezerra para deleite dos Tertulianos presentes e restantes convidados e amigos. (…) O João ainda conseguiu, já distante do seu melhor, assistir ao debute do “seu” menino, “nosso” menino em Espanha, a 15 de Abril em Puebla del Prior. Fez a viagem de carro com os Tertulianos de “O Natural” António Montez, José Amaral e, sempre inseparáveis, o seu fiel escudeiro José Ibraim, encontrando-se em Campo Maior comigo, Paulo Malico, com o Tomás Bastos, com seu pai David Antunes e, ainda, com o ex-Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, João Muacho, que, entretanto, e desde o dia 2 de Janeiro, acolhera o Tomás em sua casa como se de um filho seu se tratasse.

O João Perdigão já não conseguiu assistir – estava hospitalizado – ao debute de “luces” do Tomás no dia 2 de Maio em Arroyo de San Serván. Ainda assim, disse-me: “Paulo, grava tudo! Quero ver a lide completa até o Tomás passear as orelhas”. Gravei e enviei-lhe de imediato. Viu o “seu menino” passear as duas orelhas e o rabo.

Uma palavra de agradecimento para ti, amigo João Perdigão: grande impulsionador deste arranque taurino do Tomás e um dos últimos românticos da Festa que Vila Franca conservou até este ano.

Eu diria: um aficionado da nossa geração que, felizmente para nós, viveu fora do seu tempo cronológico e que apenas encontrou expressão semelhante em Vila Franca com os grandes aficionados já desaparecidos das gerações anteriores, que se juntavam religiosamente todas as noites no mítico Café Central, que Álvaro Guerra imortalizou em livro, para discutirem o que os apaixonava: a nossa Festa!

Apetece-me dizer: o João Perdigão pertenceu, por direito próprio, a uma Vila Franca de outros tempos, infelizmente já quase extinta! Um grande abraço para ti amigo, onde quer que estejas!

Finalmente, uma palavra para o Tomás Bastos: vai cumprir o teu sonho “miúdo”, mais que o teu sonho, o teu desígnio! Estás entregue, e bem entregue, a uma figura do toureio – Cristina Sánchez – depois de, nesta época, teres assimilado os ensinamentos do maestro Luís Reina na emblemática Escola de Tauromaquia de Badajoz. Bem-haja maestro Luís Reina, e igualmente maestro “El Cartujano”, pelo importante contributo que tiveram no processo de desenvolvimento do “nosso” menino.

O Tomás sabe que o caminho faz-se caminhando… e que a vida não reflecte apenas as metas atingidas, mas também, e fundamentalmente, a pessoa em quem nos tornamos na nossa caminhada! O Tomás sabe perfeitamente disso e vai viver na plenitude o dia de hoje, projectando, simultaneamente, o de amanhã.

(…) E o Tomás deixa-nos a esperança e o sonho, e leva de nós o mais precioso dos bens: a ilusão de uma terra, Vila Franca, e de uma região, o Ribatejo, com uma cultura, uma identidade e uma tradição únicas no Mundo, que está ávida do surgimento de uma nova figura do toureio mundial.

Como escreveu o grande poeta Fernando Pessoa: “Não sou nada, nunca serei nada, Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Tomás, sê feliz e que o sonho do sucesso te acompanhe!

Assim se resume a temporada taurina da nossa Tertúlia “O Natural”, agridoce sem dúvida, com as vicissitudes da vida a proporcionar-nos, numa só época, o melhor e o pior que podemos experienciar neste mundo.”

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