“O menino que tinha o coração de sol” é um livro infantil que conta a história de Joaquim José Louro Pereira, uma figura de grande relevo para a comunidade da freguesia de Abrã, concelho de Santarém. O Centro Social Paroquial de Santa Margarida de Abrã é a instituição responsável pela sua publicação, que procurou dentro de portas, através dos seus utentes mais idosos, a história da família, as privações, as lutas travadas, e como vencerem até construírem o actual grupo de empresas JJLouro. Nancy Martins, directora técnica do Centro Social Paroquial relata nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, como foi construir esta obra dedicada a um dos maiores empreendedores da região de Santarém.
Como é que surgiu o livro “O menino que tinha um coração de sol”?
O livro “O menino que tinha o coração de sol” nasce no âmbito do projecto de empreendedorismo social iniciado em 2016 com um prémio BPI sénior e actualmente apoiado pelo Portugal 2020 – Portugal Inovação Social. O projecto Semear Afetos existe na freguesia de Abrã, concelho de Santarém. Uma região pautada pelo isolamento e despovoamento, onde a população é maioritariamente idosa e com uma taxa de suicídio sénior muito elevada. Temos como principal objectivo reduzir o impacto do isolamento social de idosos, ocupando-os activamente e valorizando os saberes e a cultura imaterial da região. Muitas das actividades desenvolvidas por este projecto antes da pandemia, tinham como foco a promoção da inter-geracionalidade, nas escolas primárias, jardins de infância e creche da região. Na impossibilidade de manter esta proximidade entre idosos e crianças decidimos criar uma história infantil para, ainda que afastados, possamos continuar esta ligação que tantos benefícios traz a ambas as gerações.
A quem se dirige e que mensagem quer transmitir?
“O menino que tinha o coração de sol” é uma história infantil que foi pensada para crianças até aos 12 anos (1º ciclo), no entanto, como é um livro para educar valores é importante para crianças em qualquer idade. Tem orientações para pais e educadores poderem trabalhar com as crianças conceitos como a resiliência, altruísmo, igualdade de género, diversidade étnico-racial e claro valorização dos mais velhos. Quisemos criar um livro para homenagear uma homem muito importante para a nossa comunidade. Um homem que desenvolveu económica e socialmente a região e que é um exemplo de como o crescimento económico pode estar alinhado com a responsabilidade social e com o altruísmo. Queremos com este livro inspirar as crianças com o seu exemplo de generosidade e ajuda aos outros, queremos inspirar para seguirem os seus sonhos tal como ele, que sempre acreditou que “O homem é do tamanho dos seus sonhos” (Fernando Pessoa).
Os contributos dos avós apoiados pelo projecto Semear Afetos, foram importantes para dar a conhecer a sua história?
A contribuição dos nossos avós d´afetos foi fundamental para a criação da obra e dos pormenores da vida do Sr. Louro que estão entranhados em toda a história. Eles melhor que ninguém conhecem a história da família, todas as privações e lutas que passaram e foram vencendo até construírem o actual grupo de empresas JJLouro. É um livro de avós para netos.
Como é que foi o processo estrutural da obra?
A história foi nascendo de forma muito natural. Já tínhamos uma ideia para o título do livro e a partir daí fomos desenvolvendo a narrativa com base naquilo que foi a história do Sr. Louro e os valores que queríamos passar às crianças. Foi difícil para alguns dos nossos avós abdicarem de pormenores da história que para eles fazia sentido, já que o homenageado teve uma vida cheia de dissabores, provações e conquistas. No entanto, o consenso em relação à história foi conseguido tendo em conta o público a quem nos dirigíamos e os valores com que os queremos inspirar.
Esta obra é uma homenagem ao Comendador Joaquim José Louro Pereira. Que importância teve esta figura na comunidade?
Tal como referimos no livro, o Comendador Joaquim José Louro Pereira é o nosso herói sem capa. Foi ele o fundador da nossa Instituição, o Centro Social Paroquial de Santa Margarida de Abrã e apesar de já ter falecido há seis anos, ainda andamos a cumprir as ideias e os sonhos que nos deixou como legado e que queria concretizar, mas infelizmente não teve tempo. Sabem aquelas pessoas que transpiram inspiração? Era impossível estar com ele e não ser influenciado pelo seu espírito empreendedor (muito à frente do seu tempo) e altruísta. Pela energia e dinamismo com que falava de projeto atrás de projecto. Grande parte dos seus projectos tinham como objectivo a responsabilidade social, fosse a criação de infra-estruturas de apoio à infância (creche, jardim de infância e escola primária), a criação de mais emprego, o apoio a colectividades desportivas, humanitárias, culturais e sociais da comunidade, a promoção de melhor qualidade de vida para os seus colaboradores e até mesmo a protecção do património religioso. Tive a felicidade de o conhecer e apesar de ter trabalhado com ele não muito tempo (infelizmente), a sua visão mudou a minha forma de ver o mundo e ensinou-me a acreditar que é possível uma sociedade melhor. Pelos princípios de honestidade e solidariedade com que pautava todas as suas decisões, com uma grande consciência social pelos seus colaboradores e pelos problemas sociais das pessoas e da comunidade.