A Escola Superior de Saúde de Santarém (ESSS) assinala, no próximo dia 16 de Maio, o seu 49.º aniversário ao serviço da comunidade e do ensino superior na formação de enfermeiros e profissionais especializados. A esse propósito, o Correio do Ribatejo entrevistou a directora da Escola, Hélia Dias, que nos fez o enquadramento da estratégia desta instituição, uma das escolas de ensino em enfermagem com melhor empregabilidade a nível nacional. Como desafio futuro, Hélia Dias fala da necessidade do aumento das instalações uma vez que a Escola existe naquele espaço há 22 anos, sendo cada vez mais exíguo para as necessidades.
A Escola Superior de Saúde de Santarém é das escolas de ensino de enfermagem com melhor empregabilidade a nível nacional. O que a distingue das suas congéneres?
Caracterizam-nos diferentes aspectos: desde logo, um modelo de ensino centrado na alternância teoria/prática que promove um desenvolvimento gradual e cumulativo ao longo do curso. Este modelo possibilita ao estudante o contacto desde o 1.º ano com o contexto dos cuidados de saúde.
Por outro lado, a existência de um docente de referência ao longo de todo o ciclo de formação, designado como coordenador de ano. Este docente monitoriza o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, o que permite prevenir entre outros aspectos, o abandono escolar. O coordenador de ano promove simultaneamente a ligação com o coordenador de curso assegurando-se o bom funcionamento do curso na sua globalidade.
Não menos importante é a realização de actividades extracurriculares em estreita colaboração com a Associação de Estudantes, o que promove competências de ordem pessoal e social preparatórias do desenvolvimento profissional futuro e uma cultura de proximidade na comunidade académica, o que reforça o sentimento de pertença de cada um.
Quais são os projectos principais que estão a ser desenvolvidos?
São de natureza diversa. No âmbito da investigação destacam-se os projectos desenvolvidos na área científica “Saúde individual e comunitária”, coordenada pela Escola, no Centro de Investigação em Qualidade de Vida (parceria entre o Politécnico de Santarém e o Politécnico de Leiria) que abrangem o ciclo de vida. Salienta-se um projecto ERASMUS K2 “EdSex” Educando en Sexualidad: Avance para la Salud Europea; projeto em que a Escola é parceira, juntamente com a Universidade de Castilla-La Mancha (Espanha) que coordena, Universidade de Évora (Portugal) e a Universidade de Degli Studi Di Modena e Reggio Emilia (Itália). Encontra-se também em desenvolvimento, o projecto de investigação no âmbito do modelo de avaliação e intervenção familiar inserido no grupo NursID do CINTESIS, da Universidade do Porto.
Ao nível da extensão à comunidade, releva-se a consultadoria em projectos de âmbito regional desenvolvidos por instituições parceiras, um projecto de voluntariado virtual com uma IPSS e projectos com agrupamentos escolares e autarquias.
Qual é, neste momento, a oferta formativa da ESSS?
A oferta formativa é diversificada. Nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais oferecem-se cursos em áreas emergentes na saúde e no social: Apoio Domiciliário, Protecção e Apoio à Pessoa Idosa (em parceria com a Escola Superior de Educação) e Secretariado em Saúde. Está em curso este ano lectivo a reconfiguração dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais com uma forte componente de desenvolvimento de competências nas áreas da saúde e tecnologia.
A licenciatura em Enfermagem é altamente reconhecida e tem uma elevada empregabilidade. Temos mestrados em: Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e Enfermagem Comunitária na área de Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública. Estes mestrados conferem a possibilidade de reconhecimento de título de especialista pela Ordem dos Enfermeiros. Integra ainda a oferta formativa da ESSS, ainda o Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde, em parceria com a Escola Superior de Gestão e Tecnologia.
Pondera alargar essa oferta a outros domínios científicos?
Decorrente de um diagnóstico de situação previsto no plano de actividades da Escola foram identificadas áreas de necessidade de formação desde uma perspectiva regional à nacional. A saber, a necessidade de preparação da comunidade para os cuidados aos mais velhos e a oferta de cuidados especializados na saúde e no social, e também, a necessidade de apoio às pessoas centrada na qualidade de vida para um envelhecimento saudável e na satisfação das suas necessidades. Neste alinhamento, encontram-se já constituídos e a trabalhar activamente, grupos de trabalho focalizados nestas áreas.
Considera que a formação ao longo da vida em enfermagem é vital?
Sem dúvida. Os contextos de saúde colocam, hoje, desafios aos profissionais relacionados com necessidades emergentes no seu quotidiano e alinhados com o aprofundamento das relações de trabalho interprofissionais. A formação ao longo da vida deve valorizar a tomada de decisão no que concerne às intervenções a desenvolver às pessoas e famílias que são cuidadas. Esta formação insere-se num paradigma transformativo do qual cada profissional deve estar consciente e ser co-responsável, a par da responsabilidade das instituições.
Que respostas dá a ESSS neste âmbito?
A Escola tem identificado algumas áreas emergentes, de onde se destaca a área da “Supervisão Clínica”. Ao longo deste ano foram já desenvolvidas várias acções de formação para os enfermeiros das organizações de saúde parceiras, reconhecendo-se a formação como um meio privilegiado para o desenvolvimento de competências dos enfermeiros em supervisão clínica no âmbito do papel funcional dos intervenientes do processo de ensino e aprendizagem.
A ESSS integra o grupo de 18 escolas superiores que criaram o Conselho Nacional do Ensino Público de Enfermagem (CNEPE). Em traços gerais, o que propõe este Conselho?
O CNEPE identifica a sua missão relacionada com a promoção do desenvolvimento da Enfermagem. Simultaneamente, constitui-se num espaço de diálogo e de intercâmbio, promotor da discussão, análise e aprofundamento de assuntos que interessem ao ensino de Enfermagem e ao funcionamento das instituições. Tem ainda como desígnio a intervenção e influência junto de outros actores sociais e defender a qualidade da formação em Enfermagem.
A carreira do profissional de enfermagem é devidamente valorizada no País?
A pandemia trouxe uma visibilidade e reconhecimento aos enfermeiros que há muito lhes era devido. É agora necessário que os enfermeiros revejam na estrutura da sua carreira possibilidade de progressão na mesma, com uma remuneração justa e compatível com as exigências dos processos de formação e com as desafios e responsabilidades profissionais que cada vez mais lhes são colocadas. Contudo é ainda grande o caminho a percorrer.
Quais são os grandes desafios para o futuro da instituição?
O maior desafio centra-se em romper com a monodisciplinaridade ao nível da licenciatura. Propostas de novos cursos têm sido submetidas, mas por razões nem sempre compreensíveis, não têm sido aprovadas.
Igualmente, a possibilidade de se desenharem ofertas formativas ao nível dos CTeSP, pós-graduações e microcredenciais que permitam aproveitar as oportunidades do Plano de Recuperação e Resiliência e para a qual já se trabalha.
Outro desafio centra-se na necessidade de rejuvenescimento do corpo docente da Escola, pois a média de idades supera já os 57 anos. Um aspecto que é transversal aos docentes em enfermagem no ensino público de enfermagem e que é preocupante se não se intervir atempadamente.
A estabilização de um número de cerca de 500 estudantes anuais coloca na actualidade grandes dificuldades na gestão de espaços. A Escola necessita de aumento de infra-estruturas que permitam a criação de novas salas de aula e de laboratórios modernos devidamente equipados. O projecto que no momento se encontra em desenvolvimento faz-nos crer que será possível esta reestruturação, ainda que de forma faseada.
O conhecimento não se encontra hoje circunscrito à dimensão Escola, sendo exigível a sua transferibilidade. Almeja-se por isso, a criação de condições para desenvolvimento de um Centro Experimental e de Transferência do Conhecimento, projecto que se perspectiva num prazo mais alargado.
Que balanço faz destes anos em que está à frente da Escola?
No global, o balanço é positivo. Contudo, quando em 2 de Julho de 2019 este mandato se iniciou, não se vislumbrava que dos quase três anos decorridos até ao momento, dois deles fossem operacionalizados numa gestão da Escola a distância. A imprevisibilidade foi um constante desafio. Foi necessário readequar todos os processos inerentes à vida de uma Escola, onde todos, estudantes, colaboradores não docentes e docentes mostraram uma enorme e inesgotável capacidade de resiliência e trabalho. Mas, como se costuma dizer, “a necessidade aguça o engenho”, pelo que estes tempos tão particulares também impeliram ao desenvolvimento de competências novas e menos familiares, mostrando uma potencialidade imensa, criando uma expectativa de que no futuro, com outras condições e estabilidade se vislumbre o desenvolvimento de uma Escola moderna, que continua a sua senda da excelência e diferenciação no ensino superior em Portugal.