Salvaterra de Magos – 8 de Maio de 2022, às 17.30 horas. Corrida à Portuguesa – Concurso de Ganadarias. Cavaleiros: Luís Rouxinol, Francisco Palha e o praticante António Telles (Filho); Forcados: Amadores de Santarém e de Coruche, capitaneados, respectivamente, por João Grave e José Macedo Tomaz; Ganadarias: São Marcos, Canas Vigouroux, Veiga Teixeira, Prudêncio, Dr. António Silva e Passanha; Director de Corrida: Marco Cardoso; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Público: ¾ da lotação; Tempo: Muito quente e seco.

A elevada temperatura que se fazia sentir nesta tarde primaveril levou a empresa a atrasar o início da corrida cerca de trinta minutos, decisão que se compreende e se aplaude, só não se percebendo muito bem a marcação do início dos espectáculos para as 17 horas, quando o ocaso só ocorre por volta das 21 horas, acrescendo que, com estes horários, as bancadas da sombra ainda estão ao sol no início da corrida, o que se torna muito injusto e desconfortável para quem larga mais uns euros para ficar à sombra e tem de gramar uma esturra de sol.

As corridas concurso de ganadarias revestem-se, pelo menos no plano teórico, de uma aposta mais forte na matéria prima essencial para o desenrolar do espectáculo, pois os ganadeiros quase sempre capricham nos toiros que apresentam para defesa do prestígio da sua divisa. Quase sempre é assim, e tal opção melhor se compreende ainda quando um dos troféus em disputa leva o nome de um ganadeiro de excelência, como é o Senhor João Ramalho.

Nesta agradável corrida os toiros estavam quase todos muito bem-apresentados e cumpriram, sobretudo, os que foram lidados em primeiro e em quinto lugares, os quais, convenhamos, foram bem aproveitados pelos marialvas que tiveram a sorte de os enfrentar. O prémio de bravura distinguiu o toiro do Dr. António Silva, não se estranhando se o prémio tivesse sido atribuído ex-aequo ao toiro de São Marcos, e o prémio de apresentação consagrou o toiro de Passanha, curiosamente sem marcações visíveis, embora também houvesse aqui a possibilidade de repartir o prémio. Mas isso já aumentava a despesa em troféus…

Luís Rouxinol apresentou-se uma vez mais disposto a sacar triunfo, pelo que abordou o toiro que lhe tocou em sorte com competência e valor. O toiro de São Marcos, que substituiu o de Fernando Palha que estava anunciado, permitiu-lhe o luzimento no desenho das sortes frontais, vistosas nos cites e arrimadas na reunião, o que por uma ou outra vez lhe ocasionou ligeiro toque nas montadas, porém, nada que deslustrasse o seu bom labor. A concluir esta boa lide cravou um vistoso ferro em sorte de violino e, a pedido do respeitável, colocou um valoroso par de bandarilhas, com o que rematou esta boa actuação.

O segundo toiro do seu lote, mais reservado mas ainda assim cumpridor, pediu- lhe mais rigor no acerto das distâncias e dos andamentos, reunindo com mais aperto, no entanto, o cavaleiro de Pegões superou esses aspectos consumando mais uma boa actuação, apenas beliscada pelo menor acerto na colocação da ferragem.

Francisco Palha regressou ao tauródromo salvaterrense, onde foi colhido na sua anterior presença, com o espírito combativo que o caracteriza, pelo que desde logo deixou indícios de não querer facilitar a vida à concorrência. Todavia o impetuoso toiro de Vigouroux não estava pelos ajustes e Francisco Palha teve de porfiar bastante para solver este seu primeiro compromisso, colocando emotiva ferragem,

não sem consentir alguns toques na montada.

Lá viria, porém, o quinto da tarde – no hay quinto malo! – que lhe permitiu pôr o selo na carta e rubricar uma grande actuação. Bregou com diligência e a propósito, nem sempre elegeu a melhor distância para os cites, mas colocou ferragem de elevado nível técnico em sortes emotivas e superiormente rematadas. O remate das sortes, para além de mexer com o toiro e de o poder colocar nos terrenos mais aconselhados para cravar o ferro seguinte, tem, igualmente, o mérito de evidenciar as boas maneiras estéticas do cavaleiro. O que se aplaude. Este foi um triunfo muito desejado, para mais numa lide oferecida a seu pai. Francisco Palha esteve muito bem e fez tudo para merecer o bom toiro que teve pela frente.

António Telles (Filho) confirma em cada oportunidade a intuição e a competência que lhe reconhecemos. Está um senhor toureiro – não obstante a sua expressão de menino, que ainda é, no que se assemelha a Julian López “El Juli”, que já em plano de grande figura ainda apresentava uma expressão tão jovial. Frente ao toiro de Veiga Teixeira, António andou diligente na brega, elegendo bem os terrenos e as distâncias, colocando a ferragem em sortes vistosas e às vezes arrimando-se bem no centro da sorte. No que encerrou a corrida, toiro volumoso e incómodo, António Telles não entendeu tão bem como o deveria dominar, pelo que se equivocou uma ou outra vez, consentindo violento toque na montada e passando duas vezes em falso, mas nunca se deixou vencer e logrou rubricar alguns pormenores de boa qualidade. Não foi a lide apoteótica sempre sonhada, mas esteve em notável plano de dignidade. Há toureiros que têm o condão de nunca estar mal, e António herdou de seu pai esse atributo.

As pegas estavam confiadas a dois valorosos Grupos de Forcados que assumiram este desafio com toda a alma, pelo que lograram consumar todas as pegas ao primeiro intento, mérito que tem de ser repartido entre os forcados da cara, que estiveram tecnicamente perfeitos, e os “ajudas”, que, em regra, foram coesos, oportunos e eficazes. Pelos Amadores de Santarém foram solistas Salvador Ribeiro de Almeida, Francisco Paulos e Francisco Graciosa, e pelos Amadores de Coruche foram à cara dos toiros Tiago Gonçalves, João Prates e António Tomás.

Os peões de brega andaram, na generalidade, em bom plano, embora alguns abusassem dos toques de capote desde a trincheira e outros não perdiam pitada para lancear o toiro a prepará-lo para o cavaleiro. A acção dos subalternos deve ser sempre comedida e muito oportuna, pois todos sabemos – e os bandarilheiros também! – que o número excessivo de capotazos prejudica a investida do toiro e prejudica o espectáculo.

A corrida foi dirigida com acerto e ponderação por Marco Cardoso, assessorado tecnicamente pelo veterinário Dr. José Luís Cruz.

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