Em semana de arranque das grandes decisões na Liga 3, surge uma questão: como está a ser a época da UD Santarém? Alguns dirão que está abaixo das expectativas, outros poderão mesmo dizer que os objectivos não foram alcançados, alguns defenderão que o clube está no caminho certo para se estabilizar na competição e com certeza muitas outras opiniões haverá no seio dos adeptos e simpatizantes do clube.
Analisando objectivamente, desde o primeiro dia que o objectivo do clube passava por alcançar uma vaga nos quatro primeiros lugares, o que garantiria automaticamente a manutenção na prova, permitindo, ao mesmo tempo, à U. Santarém sonhar e ambicionar com algo mais na Fase de Subida. Este objectivo foi assumido desde o primeiro dia pelo presidente Pedro Patrício e pelo treinador Carlos Fernandes. Ora, este objectivo não foi concretizado e a equipa escalabitana terá de disputar a Fase de Manutenção.
Mas será que podemos dizer que a época tem sido uma desilusão, apenas e só por se ter falhado este objectivo? A nosso ver, a resposta é um assertivo “não” e passamos a explicar porquê.
É de conhecimento geral as vicissitudes que o clube passou na pré-época, nomeadamente a nível do planeamento e construção do plantel, organização de jogos amigáveis, etc. Apenas na segunda semana de Julho foi oficializada pela FPF a promoção da U. Santarém à Liga 3, o que atrasou bastante o início da preparação da nova época. Tanto assim foi, que a 1ª jornada frente ao Oliveira do Hospital foi adiada, a pedido dos unionistas. Ainda assim, os comandados de Carlos Fernandes tiveram um início de campeonato de grande nível. Alcançaram duas vitórias nos dois primeiros jogos, frente a Atlético e Sporting “B” (duas equipas que, aliás, se qualificaram para a Fase de Subida), onde não sofreram qualquer golo. Depois disso, surgiram desaires diante a Académica, Caldas e Belenenses (e pelo meio um empate frente ao 1º Dezembro). Exceptuando, curiosamente, no empate frente ao 1º Dezembro, a U. Santarém apresentou um futebol bastante apelativo, com exibições de grande qualidade frente aos adversários mencionados, que apenas pecaram pela falta de eficácia (e por apanharem guarda-redes do outro lado em tardes de grande inspiração). Qualquer uma destas três derrotas foram de uma tremenda injustiça para a turma escalabitana.
Os próprios dados estatísticos revelados pela FPF no passado dia 28 comprovam o que acabámos de dizer. A U. Santarém foi, na 1ª Fase, a equipa com mais ataques (485), cruzamentos (218) e cantos (66), sendo ainda a 4ª equipa com mais remates (109), a par de Sporting “B” e Trofense. Ou seja, a U. Santarém conseguiu criar sempre muitas oportunidades de golo e chegar com perigo à área adversária. No entanto, a eficácia deixou sempre a desejar, ilustrando a falta de um homem de área, um “matador” digamos, capaz de concretizar em golo estas chances.
Contudo, após a eliminação na Taça de Portugal frente ao Moreirense (onde, uma vez mais, a U. Santarém realizou uma excelente exibição frente a uma equipa da Primeira Liga), assistimos a uma quebra notória no rendimento da equipa. Não só em resultados, como também a nível exibicional. A contestação nas bancadas cresceu e houve até quem pedisse a demissão do treinador.
Ainda assim, a U. Santarém foi resgatando pontos importantes nalguns jogos fundamentais, aproveitando deslizes dos seus adversários directos. A vitória expressiva nas Caldas pareceu dar um novo ânimo à equipa, que conseguiu uma série de 3 vitórias em 4 jogos nesse período, permitindo permanecer na luta por um lugar na Fase de Subida até à última jornada. Contudo, no jogo decisivo, na Covilhã, e beneficiando inclusivamente do deslize do Sporting “B” nos Açores, a U. Santarém perdeu de forma categórica, deitando por terra o sonho de disputar a Fase de Subida.
Apesar da óbvia desilusão por se ter falhado o principal objectivo de chegar à Fase de Subida, é nossa opinião que a U. Santarém fez uma primeira fase positiva. Irregular, sim. Mas positiva. Para uma equipa que subiu este ano à Liga 3, com todos os contratempos já aqui descritos, disputar um lugar na Fase de Subida até ao último minuto é de valorizar e enaltecer. Basta olhar para o Lusitânia, equipa que também subiu este ano e que, com muito mais tempo de preparação, terminou no último lugar da Série B.
Acima de tudo, e fazendo um balanço geral dos resultados da U. Santarém nesta primeira fase, apenas consideramos como grande desilusão dois encontros: a derrota frente ao Sp. Covilhã e o empate com o Oliveira do Hospital, ambos no Campo Chã das Padeiras. A jogar respectivamente com antepenúltimo e penúltimo classificados, a U. Santarém tinha obrigação de fazer mais e melhor. Foram 5 pontos perdidos em casa que teriam permitido à U. Santarém ficar entre os quatro primeiros classificados. Estes dois jogos foram, a nosso ver, muito difíceis de aceitar e acabaram por ter um impacto enorme nas contas finais.
Em suma, este 6º lugar em que terminou a U. Santarém na primeira fase é, na nossa opinião, um excelente resultado. Cremos que é importante saber gerir expectativas. Já foi tornado público o sonho de levar a U. Santarém aos escalões profissionais do nosso futebol (o presidente Pedro Patrício afirmou que acredita que a U. Santarém pode chegar às 10 melhores equipas do futebol português até 2030). Mas olhando para a falta de infra-estruturas na cidade, as próprias condições do Chã das Padeiras (que não sendo, de todo, as piores, longe disso, não são as necessárias para receber jogos da Segunda Liga) e a sempre presente questão em torno dos recursos humanos e financeiros, cremos que a U. Santarém dar um salto imediato para a Segunda Liga pode prejudicar o futuro e sustentabilidade do clube a curto-médio prazo.
Posto isto, acreditamos que é mais importante a U. Santarém criar estabilidade nesta Liga 3. Estabilidade no plantel e na sua estrutura, cimentar a sua reputação e criar condições para num futuro encarar com realismo e seriedade uma subida à Segunda Liga. É bom ter ambição e vontade de colocar a U. Santarém num patamar superior. Mas, por agora, o principal foco do clube deve restringir-se em consolidar a sua presença e da cidade nesta Liga 3, cuja visibilidade é, aliás, maior do que na própria Segunda Liga. E basta olharmos para casos recentes como o do Vilaverdense e do próprio Belenenses, que foram subindo de forma consecutiva do Campeonato de Portugal até à Segunda Liga, não aguentando, depois, a exigência e desafios do segundo escalão, descendo logo no ano a seguir, sem nunca conseguirem ser realmente competitivos ao longo da época. Com certeza que os adeptos da U. Santarém não querem ver a sua equipa passar pelos problemas que estes dois clubes enfrentaram.
E o que podemos esperar, então, desta Fase de Manutenção? A U. Santarém parte numa posição relativamente privilegiada face aos seus adversários, uma vez que inicia esta fase no 2º lugar com 7 pontos, apenas atrás da Académica que começará com 9. Seguem-se Caldas (6), Sp. Covilhã (5), Oliveira do Hospital (3) e Lusitânia (1). Serão disputados 10 jogos, onde no final descem os últimos dois classificados. Ou seja, a U. Santarém parte com 4 pontos de avanço sobre a linha de água, o que confere uma pequena vantagem.
No entanto, nada está garantido. Como tem sido apanágio na prova, todos os jogos pautam-se pelo equilíbrio e qualquer equipa pode sair vencedora do seu respectivo jogo. Para além disso, se olharmos com atenção para o confronto directo da U. Santarém com os seus adversários esta época, vemos que perdeu os dois encontros frente Académica e Sp. Covilhã, perdeu um e venceu outro contra o Caldas, venceu e empatou com o Oliveira do Hospital e apenas frente ao Lusitânia venceu os dois jogos, com a curiosidade de ambas as vitórias terem sido pela margem mínima e com o golo da vitória a surgir no último minuto de compensação.
Ou seja, estes dados mostram que a U. Santarém terá uma tarefa bastante difícil pela frente. Se, em termos de classificação, poderá partir como favorita para alguns jogos, em termos de confronto directo esse suposto favoritismo desaparece. Será, pois, essencial à U. Santarém tirar o máximo proveito do factor casa, algo que falhou em certos momentos na 1ª Fase. Vencendo todos os jogos em casa (ou pelo menos a maioria), será, como se costuma dizer, “meio caminho andado” para garantir a manutenção. Isto numa altura em que se vê cada vez mais adeptos no Chã das Padeiras e onde o número de sócios do clube tem crescido bastante. Até mesmo nas deslocações fora o número de adeptos da U. Santarém tem sido algo significativo (no Restelo, por exemplo, mais de uma centena de adeptos estiveram nas bancadas e na longa deslocação à Covilhã marcaram presença cerca de 4 dezenas de aficionados). E este apoio será fundamental continuar nestes 10 jogos que se avizinham.
O primeiro encontro da U. Santarém será frente à Académica que, como se disse, venceu os dois jogos realizados esta época entre as duas equipas. Em Santarém, conseguiu inclusivamente uma vitória expressiva por 3-0. Naquele que será o terceiro duelo entre as duas formações, o que podemos antever? Será que a U. Santarém irá encontrar uma Académica desmoralizada por ter falhado a Fase de Subida? Ou uma Académica motivada e empenhada em mostrar o porquê de ser um histórico do futebol nacional?
O momento actual da equipa de Coimbra é, aliás, bastante peculiar. Por um lado, não vence há 5 jogos (a última vitória foi precisamente em Santarém) e, por outro, apenas soma uma derrota nas últimas 11 partidas da Liga 3. Com certeza teremos um jogo onde ambas as equipas irão entrar para vencer, até porque uma vitória logo a abrir poderá oferecer mais tranquilidade, aumentar o moral do plantel e ampliar a vantagem face aos restantes adversários. Para além disso, a Académica é, a par da U. Santarém, uma das equipas que mais se destacou no capítulo dos ataques (412), cruzamentos (184), cantos (58) e remates (120) na 1ª Fase. Como tal, podemos antecipar um jogo em que ambas as equipas irão tentar impor o seu poderio ofensivo.
Face ao exposto, o apoio dos escalabitanos será fulcral para a U. Santarém obter um bom resultado. Encher as bancadas do Chã das Padeiras é imperativo, principalmente numa altura em que sabemos que o plantel unionista tem sofrido várias alterações, com algumas entradas e saídas a registar, sendo a mais sonante a saída do criativo Leandro Alves, que se despediu dos adeptos do clube através de uma publicação na sua conta de Instagram, em finais de Janeiro.
Para terminar, acreditamos que a U. Santarém tem condições para se manter na Liga 3. É esse o grande objectivo de dirigentes, treinador, jogadores e adeptos. Tal como já mencionámos, é fundamental que todo este universo que compõe a chamada Família UDS (termo utilizado regularmente pelo clube) esteja unido e focado durante as 10 jornadas que compõem esta fase. A U. Santarém já demonstrou por diversas vezes esta temporada que consegue praticar bom futebol, ofensivo e cativante contra qualquer adversário e em qualquer estádio. “Resta” ir para dentro de campo e provar isso mesmo.