O Comando Distrital da PSP de Santarém tem estado em destaque nas últimas semanas, com operações de grande dimensão que resultaram em dezenas de detenções, fiscalização intensiva nas estradas e acções em estabelecimentos nocturnos em várias cidades do distrito. O superintendente Luís Serafim, comandante desde Fevereiro, assegura em entrevista ao Correio do Ribatejo que “Santarém é um distrito seguro” e que os indicadores de criminalidade apontam para uma evolução favorável no primeiro semestre de 2025, depois de um ano de 2024 marcado por oscilações estatísticas.
Ao balanço operacional junta-se um horizonte de mudanças estruturais: o Governo anunciou uma intervenção urgente na cobertura e fachada do edifício-sede do Comando, bem como uma obra de fundo, estimada em mais de cinco milhões de euros, a executar em colaboração com a Câmara Municipal de Santarém. O alargamento da rede de videovigilância a bairros populosos da cidade e a outros concelhos do distrito foi igualmente validado pela tutela. “Estamos na recta final para resolver um problema antigo e dotar a PSP das condições que merece”, sublinha o comandante.
Apesar das limitações de efectivos — cerca de 430 a 440 elementos no distrito —, Luís Serafim destaca a dedicação dos polícias e a aposta em programas de proximidade, como o Escola Segura, que, no arranque de mais um ano lectivo, reforça a ligação entre a instituição e a comunidade educativa. “A polícia está sempre presente, mesmo quando não se vê. O nosso papel é deixar cada lugar melhor do que o encontrámos”, afirma.
Nos últimos meses, o Comando Distrital de Santarém esteve envolvido em operações de grande dimensão, com dezenas de detenções e forte presença no terreno. Que balanço faz destes resultados e que mensagem gostaria de deixar à população?
Faço um balanço francamente positivo. Naturalmente, nunca estamos totalmente satisfeitos, porque a nossa missão exige um estado permanente de vigilância e de melhoria contínua. O polícia é, por natureza, alguém que quer sempre fazer mais e melhor, porque a segurança pública nunca está “fechada” ou “resolvida”. Mas quero sublinhar um ponto: não considero que o distrito de Santarém seja inseguro; muito pelo contrário. Os números que temos apontam para uma situação controlada e até em evolução favorável.
Em 2024, verificou-se uma oscilação da criminalidade que, quando traduzida em percentagens, pareceu mais significativa do que realmente foi. Em termos absolutos, os números não eram elevados, mas percentualmente ganharam destaque. Já no primeiro semestre de 2025 assistimos a uma inflexão em sentido contrário: os indicadores de criminalidade caíram, e a tendência é de melhoria. Estes dados não são percepções, são relatórios oficiais. Naturalmente, continuaremos atentos, mas podemos afirmar com confiança que Santarém é hoje um distrito seguro, onde a polícia está presente e activa.
Há quem sinta falta de proximidade da polícia. Os serviços remunerados (vulgo “gratificados”) retiram disponibilidade ao serviço público?
Não, de forma alguma. Esses serviços têm regras muito claras. São realizados fora do horário normal do serviço público e estão regulamentados de forma a nunca prejudicarem a disponibilidade para o policiamento diário. O polícia cumpre primeiro a sua missão principal, no quadro da escala, e só depois pode ser destacado para esse tipo de serviço.
Na prática, esses serviços até acabam por multiplicar a presença policial em locais onde, de outro modo, a PSP não teria intervenção. Pensemos, por exemplo, em eventos desportivos, culturais ou em grandes superfícies comerciais: a presença policial é solicitada e remunerada pelas entidades organizadoras, mas acaba por beneficiar toda a comunidade, porque aumenta a visibilidade e dissuade comportamentos ilícitos. Sei que existem opiniões divergentes sobre este tema, mas a minha obrigação institucional é assegurar que os serviços são cumpridos com rigor e que não afectam a operacionalidade do Comando.
E quanto aos efectivos? Têm sido suficientes para responder ao que o território exige?
Todos os efectivos que nos forem atribuídos serão sempre bem-vindos. Não escondo que, em trinta anos de carreira, assisti a um crescimento exponencial das atribuições da polícia. Hoje não duplicaram, decuplicaram. Temos mais responsabilidades, mais solicitações, mais áreas de actuação. E, como acontece em toda a Administração Pública, enfrentamos dificuldades de atractividade: é cada vez mais difícil recrutar jovens para funções exigentes e de grande desgaste.
Fazemos o melhor com os recursos que temos, e acredito que temos conseguido dar uma resposta capaz. Se tivéssemos mais efectivos, faríamos ainda mais e com maior alcance. Mas não nos resignamos. O serviço ao próximo é um valor essencial na PSP. Costumo dizer aos meus homens uma máxima simples: “Nunca faças mal quando podes fazer bem.” É isso que guia o nosso trabalho.
Como caracteriza a relação da PSP com a comunidade?
Considero que é uma relação muito positiva. A PSP está sujeita a mecanismos de escrutínio permanentes. Qualquer cidadão pode apresentar uma reclamação ou sugestão, e todos os dias analisamos no Comando aquilo que chega por essas vias. Há um acompanhamento rigoroso e uma preocupação em dar resposta, porque é assim que se constrói confiança: com transparência e com responsabilidade.
Não podemos esquecer que a polícia só faz sentido em articulação com a comunidade que serve. Se não houver confiança, não há cooperação. E sem cooperação, não há verdadeira segurança.
A sinistralidade rodoviária continua a preocupar. Que estratégias têm para reduzir acidentes e aumentar a segurança nas estradas do distrito?
Trabalhamos em estreita parceria com outras forças e com as autarquias. São elas que definem muito do ordenamento no interior das cidades — passadeiras, iluminação, sinalização —, e esse trabalho é fundamental para reduzir riscos. Do nosso lado, apostamos numa presença constante nos pontos mais críticos, com operações de trânsito planeadas e repetidas.
Realizamos inúmeras Operações de Trânsito (TOP), muitas vezes em conjunto com a Autoridade Tributária, a ASAE e outras entidades. O trânsito é, por si só, um pilar estruturante da segurança. Não esqueçamos que os criminosos também se deslocam, e muitas vezes é no controlo rodoviário que detectamos comportamentos ilícitos. Seja uma condução sob o efeito do álcool, seja a detecção de uma viatura furtada, seja até o transporte de droga. O trânsito é uma porta de entrada para muita da nossa actividade operacional.
O ordenamento do trânsito — passadeiras, sinalética, iluminação — é discutido convosco?
Sim, sempre que há intervenções planeadas. Os nossos responsáveis de trânsito, nas diferentes divisões, reúnem com regularidade com as câmaras municipais. Temos esquadras de trânsito em cada divisão, e este trabalho é muito importante. Há também a colaboração permanente com os comandantes das esquadras destacadas na Lezíria do Tejo e no Médio Tejo, onde as realidades são diferentes, mas igualmente exigentes.
E as operações em estabelecimentos nocturnos?
Têm sido muito bem recebidas. Não só em Santarém, mas também em cidades como Entroncamento, Abrantes, Torres Novas ou Tomar. Estas operações têm uma grande visibilidade e aumentam a sensação de segurança da população. São acções que têm um impacto directo na dissuasão de ilícitos e que reforçam a autoridade da polícia em contextos particularmente sensíveis.
A sede do Comando tem sido notícia pelo estado do edifício. Há impacto operacional? Que expectativas existem para a reabilitação?
Do ponto de vista estritamente operacional, o impacto é reduzido. Continuamos a trabalhar com os mesmos níveis de empenho e eficácia. Mas não posso esconder a tristeza que sinto ao ver a instituição que tutela a segurança do distrito instalada num edifício degradado, com problemas estruturais conhecidos. É uma imagem que não dignifica a polícia nem a comunidade.
Este é um problema antigo, arrastado por constrangimentos burocráticos e procedimentais. No entanto, estou convicto de que estamos finalmente na recta final. Há dotações previstas em leis de programação recentes e, com as decisões agora anunciadas pelo Governo e pela Câmara Municipal, acredito que a reabilitação será uma realidade a curto prazo.
Na sequência da reunião entre a autarquia e a tutela, foi anunciada uma intervenção urgente e um modelo de colaboração para a obra de fundo. O que pode adiantar?
O que foi anunciado é muito claro: haverá uma solução mista. Por um lado, a PSP vai realizar obras urgentes de cobertura e fachada, para resolver problemas imediatos. Por outro, a intervenção estrutural, estimada em mais de cinco milhões de euros, será articulada com a Câmara Municipal, com financiamento assegurado pelo Estado.
É importante sublinhar que o edifício é património do Estado e que, ironicamente, a PSP paga renda para ali estar. A reabilitação não é apenas necessária: é uma questão de dignidade institucional. Está prevista em instrumentos de programação orçamental e agora importa concretizar. Creio que é uma boa notícia para todos.
Foi igualmente validado o alargamento da videovigilância a bairros populosos e a outras cidades do distrito. Qual o papel deste sistema?
A videovigilância tem um papel essencial, tanto na prevenção como na investigação criminal. O simples facto de os cidadãos saberem que determinados comportamentos podem ser registados leva muitos a refrear condutas de risco. Por outro lado, quando a lei permite aceder às imagens, estas são provas preciosas: ajudam a identificar autores e a consolidar processos judiciais.
Posso dar um exemplo muito recente: tivemos o roubo de um telemóvel junto às nossas instalações. A vítima pediu ajuda, e em cinco a dez minutos o suspeito foi detido. As imagens recolhidas serviram para sustentar a prova em tribunal. Isto mostra bem a importância da tecnologia como aliada do trabalho policial.
Onde e como será expandida a videovigilância?
Em Santarém, será reforçada nos bairros de São Domingos e Sacapeito. Mas também haverá expansão em cidades como Cartaxo, Entroncamento, Tomar, Torres Novas, Ourém e Abrantes. Todo o sistema será monitorizado a partir do nosso Centro de Comando e Controlo Operacional.
Os sistemas actuais já trabalham com recurso a analítica inteligente: detectam padrões, como a circulação em contramão ou a formação de ajuntamentos anómalos, e automaticamente abrem a câmara relevante. Permitem ainda pesquisas por características físicas — cor de roupa, por exemplo — e estão conjugados com a leitura automática de matrículas, que cruza dados sobre seguro e inspecção periódica obrigatória.
O avanço tecnológico também traz cibercriminalidade. Como estão a responder?
Esse é um desafio transversal a toda a sociedade. A criminalidade digital tem uma expressão cada vez maior, sobretudo nas burlas e nas transferências ilícitas. É um campo que evolui muito depressa e que exige capacidade de resposta igualmente rápida.
A PSP dispõe de um núcleo especializado a nível central, mas também a nível local estamos atentos. Recebemos, quase diariamente, denúncias de burlas e esquemas digitais. O nosso trabalho passa por investigar com os meios disponíveis, em articulação com a banca e com outras entidades, analisando fluxos e triangulando dados para localizar os autores.
Mas há aqui uma dimensão em que todos somos chamados a intervir: a literacia digital. É essencial que os cidadãos se protejam, que desconfiem de mensagens suspeitas e que tenham cuidado nas transacções online. A prevenção é tão ou mais importante que a investigação.
Está em Santarém desde Fevereiro. Que marca quer deixar? Quais as prioridades?
A minha prioridade é clara: colocar Santarém no mapa das prioridades da polícia. Este distrito tem uma dimensão territorial muito significativa, só ultrapassada por Lisboa e Porto. Isso significa que temos uma dispersão geográfica enorme e que precisamos de recursos à altura para responder a ocorrências simultâneas em locais distintos.
Já conseguimos um feito importante: o maior reforço de pessoal em cerca de vinte anos. E mantemos uma cooperação constante entre comandos, que nos permite responder com flexibilidade às diferentes situações. Quero que Santarém seja visto, dentro da PSP, como um distrito estratégico e não periférico.
Quantos efectivos tem hoje o Comando Distrital?
Entre 430 e 440, aproximadamente. É sempre pouco para quem quer fazer mais, mas é a realidade com que trabalhamos. Há que olhar para a PSP de forma global e alocar recursos onde eles são mais necessários em cada momento.
Quando precisamos, pedimos reforços a comandos vizinhos. Da mesma forma, Santarém também presta apoio quando outras unidades solicitam. Este espírito de entreajuda é fundamental e garante que não há territórios descurados.
O distrito está a crescer e a diversificar-se. A imigração levanta desafios?
A imigração é um fenómeno natural numa sociedade aberta. O desafio maior não é policial, é de integração e de interacção cultural. Diferentes origens implicam enquadramentos distintos, e isso exige compreensão e adaptação.
Do ponto de vista policial, o essencial é simples: cumprimento da lei. Quem cumpre as regras é bem-vindo; quem não cumpre será responsabilizado, independentemente da nacionalidade ou da origem. Não tenho indicadores que associem, em si mesmos, fluxos migratórios a aumentos de criminalidade.
Com o arranque do ano lectivo, qual a importância do programa Escola Segura?
O programa Escola Segura nasceu no final da década de 1990 e consolidou-se como uma das faces mais visíveis do policiamento de proximidade. Evoluiu muito ao longo dos anos. Hoje tem uma estrutura própria, com equipas dedicadas e uma forte vertente de sensibilização.
Realizamos acções regulares nas escolas, que vão desde a prevenção rodoviária até à segurança digital. O objectivo é claro: aproximar-nos da comunidade escolar, desfazer a ideia da polícia como “ameaça” e mostrar que estamos ao lado dos jovens.
Este contacto precoce também tem outro efeito muito positivo: inspira vocações. Muitos jovens olham para os agentes do Escola Segura e passam a querer vestir a farda, servir a sociedade e fazer parte desta missão. Isso é fundamental para o futuro da instituição.
Que mensagem final deixa aos cidadãos?
Quero deixar uma mensagem de confiança. A polícia está sempre presente, mesmo quando não é visível. O papel da PSP é inabalável e está em permanente aperfeiçoamento. Apesar das dificuldades, o caminho é de melhoria.
Costumo dizer aos meus homens que não devemos vacilar e que devemos procurar, em cada intervenção, deixar o lugar melhor do que o encontrámos. A instituição não é nossa, pertence à sociedade. Cuidamos dela para a entregar em melhores condições a quem vier depois.
JPN/FM