HELENA FIDALGO, PRESIDENTE DA MOVALMEIRIM

As tradicionais campanhas natalícias ganharam, este ano, maior relevância face a anos anteriores. A promoção e dinamização do comércio local assim o exigiram, pela necessidade urgente de incentivo ao consumo e apoio aos pequenos negócios, bastante fustigados pelas medidas adoptadas no combate à pandemia de covid-19. De norte ao sul do País – e a região não foi excepção – os municípios, em parceria com as associações comerciais e empresariais, criaram incentivos para fazer compras de Natal no comércio local. Fizeram-no à base de vouchers, vales e sorteios, numa estratégia que serviu para colmatar os danos económicos da pandemia. O Correio do Ribatejo foi saber, junto de duas associações de comerciantes, a MovAlmeirim e a Associação Comercial, Empresarial e Serviços dos Concelhos de Santarém (ACES) que impactos tiveram estas campanhas promocionais nas vendas da quadra que representa cerca de 30 por cento da facturação anual do comércio tradicional.

Em termos gerais, que balanço é que a MovAlmeirim faz da campanha desenvolvida durante o Natal?
Em termos gerais, a campanha “5 Val€ o Dobro” traduz-se num enorme sucesso. Esta campanha foi levada a cabo por iniciativa da Câmara Municipal de Almeirim em parceria com a MovAlmeirim e, de outra forma, não teria sido possível para esta associação, pelas razões óbvias, levar adiante uma campanha desta envergadura. Foi uma mais valia para o comércio local, mas não podemos esquecer que também foi um grande apoio aos munícipes. Numa crise económica, gravíssima, em que todos estamos mergulhados, esta campanha foi uma grande ajuda. Posso mesmo dizer que para alguns daqueles que aderiram à campanha, foi a bolha de ar que precisávamos para nos ajudar, pelo menos por enquanto, a mantermo-nos à tona.

Qual é o feedback dos vossos associados?
O feedback dos associados foi muito positivo. Não foi cem por cento, até porque alguns tipos de comércio não estavam abrangidos pela campanha, no entanto a grande maioria ficou imediatamente receptivo a esta iniciativa. Alguns dos mais cépticos não aderiram logo que lhes foi apresentada a proposta, mas, depois, acabaram por serem eles a contactar com a MovAlmeirim e dizerem “afinal, sempre quero entrar na campanha!”, e entraram e agora até já se manifestaram bastante satisfeitos.

A quadra serviu de ‘balão de oxigénio’ para os empresários?
Sim. Mas muito com a ajuda da campanha” 5 val€ o Dobro”. Tivemos conhecimento de compras que se fizeram em determinados espaços comerciais, que se não houvesse esta ajuda, não seriam feitas. Os vouchers fizeram com que as pessoas acorressem às lojas mais pequenas em vez de investirem nas grandes superfícies. É óbvio que o pequeno comércio saiu a ganhar com esta iniciativa, mas os compradores, saíram ainda a ganhar mais, pois não ganharam apenas cinco euros com a compra de cada voucher, ganharam também a vantagem de comprar produtos de alta qualidade. Ao comprarem no comércio local conseguem marcar a diferença pois, por exemplo, ao comprarem roupas e sapatos, grande parte das colecções são produzidas com um pequeno número de artigos e não corremos o risco de andarmos todos vestidos ou calçados de igual, mas ganharam também uma coisa, que no meu ver é ainda mais importante, que é a proximidade, a atenção do vendedor. No comércio local, quem está atrás do balcão não está programado para fazer o atendimento igual a todos os clientes. Cada cliente precisa de uma atenção diferente, consoante a sua idade, consoante o seu estilo de vida, por vezes, até consoante o seu estado de espírito de cada dia. É isto que marca a diferença. E neste ponto sim, estes dias que antecederam o Natal foram um balão de oxigénio para as empresas e empresários em termos económicos, mas também em termos anímicos.

Desde o início da pandemia, a actividade económica em Portugal e a confiança das pessoas registou uma acentuada quebra. Como estão as empresas da região a enfrentar esta paralisação da economia?
Estão a enfrentar conforme podem. E, alguns, já não podem mais. Uma coisa é certa, não está fácil para ninguém. E para as empresas do concelho de Almeirim não está a ser diferente das empresas de qualquer ponto do nosso país. Aliás, arriscava mesmo a dizer que o concelho de Almeirim, têm ainda uma batalha maior que alguns outros concelhos. Não vamos esquecer, que aqui, vivemos muito à base da restauração e as empresas que têm sofrido mais os efeitos desta pandemia têm sido, sem dúvida, os restaurantes e similares. Quantas famílias dependem dos restaurantes do concelho de Almeirim para sobreviver? Não sei quantas, mas sei que são muitas. Quantos restaurantes se adaptaram às exigências para poderem ter portas abertas e para poderem receber os milhares e milhares de pessoas que vêm até ao concelho de Almeirim? Provavelmente todos! E isso obrigou os empresários a investirem, pois têm que estar à altura das exigências. E os investimentos são enormes. Mas ninguém ficou de braços cruzados, montaram toda uma máquina, que tem estado bem engrenada e bem oleada de forma a trabalhar harmoniosamente e sem percalços. Entretanto, se a máquina não continuar a ser oleada, é impossível continuar a trabalhar harmoniosamente. Com uma quebra desta ordem, é claro que não se vai conseguir manter engrenada e a partir do momento que desengrenar, desencadeia-se um turbilhão de acontecimentos que arrasta tudo e todos. E isso não é nada bom! E o mesmo acontece com o resto das empresas, exceptuando apenas duas ou três áreas que, com se costuma dizer “o mal de alguns, é o bem de outros”.

Já é possível à associação fazer um balanço do impacto da pandemia covid-19 no tecido empresarial da região, nomeadamente no comércio, restauração e alojamento turístico?
Não propriamente. Sabemos que na área da restauração está a ser desastroso, principalmente nos últimos tempos devido aos horários do recolher obrigatório. No alojamento turístico, “idem, idem, aspas, aspas”, no comércio, nem tanto, mas não está ‘famoso’. No entanto, e falando com os nossos associados, na área de comércio de produtos alimentares, as coisas ainda vão andado menos mal, por enquanto. Mas de resto, as outras áreas de comércio vêm grandes diferenças e quebras acentuadas em relação aos anos anteriores.

As sucessivas medidas de apoio do Governo têm sido adequadas, no tempo e na sua expressão qualitativa e quantitativa? E da parte do Município?
Têm sido insuficientes. Têm pecado por tardias. Têm sido direccionadas a cada momento, mas estão longe de chegar para combater as necessidades. Também, ninguém esperava por um acontecimento devastador desta natureza, ninguém estava preparado para isto e acho que, no mundo inteiro, não houve Governo que não deixasse cair a economia do seu país mediante tal tragédia. Esta pandemia é devastadora em todos os sectores.
Quanto ao Município de Almeirim, talvez tenha ajudado da forma que lhe foi possível. Penso que a redução das taxas e a ausência delas em alguns casos, como por exemplo com as esplanadas, já foi uma boa ajuda. O apoio dado com uma plataforma de vendas online, foi uma excelente medida de apoio e também, a terminar o ano, o lançamento dos vouchers de compras que já falamos, foi um óptimo empurrão na economia local.

O que tem sido feito foi o possível ou há outras medidas que possam considerar tendo em vista o prolongamento dos impactos económicos da pandemia? E que medidas a associação tomou no apoio aos sócios?
O que tem sido feito, é o que tem sido possível fazer, dadas as circunstâncias. Em termos de apoio, a MovAlmeirim arregaçou as mangas e manteve-se sempre firme ao lado dos seus associados.
Trabalhamos desde Março, sem horários, sem férias ou fins-de semana. Todos os associados MovAlmeirim têm os nossos contactos e sabem que podem contar connosco a qualquer hora do dia ou da noite. Estamos sempre disponíveis. Desde Março que damos informação constante sobre o desenrolar da situação pandémica no nosso país. Demos informação ao minuto, via e-mail e telefone, desde a primeira fase da pandemia e para isso contamos com o apoio permanente de dois advogados, dois gabinetes de contabilidade e uma jurista, que foram, e continuam a ser, incansáveis ao nosso lado. Demos apoio jurídico a cada solicitação dos associados e, agora, felizmente, não com tanta frequência como no primeiro mês de pandemia, falámos diariamente com os nossos associados, esclarecendo as suas dúvidas, ajudando a encontrar soluções para os problemas e, muitas vezes, ouvindo apenas os seus desabafos e medos.
Também um dos apoios que colocámos à disposição dos nossos associados, foi a plataforma digital de vendas online “BuyOnMov”.

Fizeram algum apoio específico ao sector da restauração?
Os nossos associados do sector da restauração, tiveram o apoio que tiveram os nossos outros associados. Claro que, quando fomos confrontados com pedidos de ajuda da restauração, direccionamos o nosso apoio para esse sector, mas fizemo-lo de forma individual. Em suma, todos os nossos associados têm o mesmo tipo de apoio. Depois, consoante as necessidades de cada associado, nós voltamos as nossas ajudas para cada um individualmente. Mas isso acontece, com qualquer sector. Também não podemos esquecer que os restaurantes do Concelho de Almeirim, têm uma associação própria, a quem muito respeitamos e, sempre que seja necessário, tanto da parte deles quanto da nossa, trabalhamos em parceria.

É possível antever 2021?
Gostava de dizer que é possível antever 2021 como um ano cheio de Graças. Mas, não sei. Também nada fazia prever o desfecho que teve 2020. Por outro lado, já temos a vacina que pode vir a ajudar bastante, de qualquer forma, também sabemos que o real efeito da vacina só se reflectirá mais para o final do ano. A única antevisão que consigo fazer é que temos que ir vivendo dia após dia. Não vale a pena estar a fazer investimentos e planos a longo prazo, porque, de um momento para o outro, podemos ter a nossa vida virada do avesso. Este vírus teve essa capacidade. Agora, se cada um de nós tiver a responsabilidade de actuar conforme houver necessidade, se formos cumpridores nas regras e medidas de combate à pandemia, se não andarmos à procura, só porque sim, de meios para contornar aquilo que nos aconselham a fazer, então, acredito que vamos conseguir debelar esta crise de saúde pública e sairemos muito mais preparados para tudo o que possa vir futuramente.

Estima-se a recuperação económica a partir de quando?
Outra pergunta difícil! Tudo dependerá da forma como os portugueses se conseguirem comportar. Se andarmos todos aí a contornar regras e a arranjar opções de excepção, nunca mais chegamos a lado nenhum. A nossa economia não consegue recuperar se as pessoas não pararem de se infectarem umas às outras. De que adianta andarmos uns a remar para um lado e outros a remar para outro. Primeiro passa pela consciencialização de cada um de nós. Temos que nos mentalizar que a recuperação da economia não passa só pelo equilíbrio financeiro das empresas. É da responsabilidade de todos nós. Se eu não for responsável, acabo por ficar doente, se fico doente não posso trabalhar, e mais grave, faço com que todos à minha volta corram o risco de ficarem doentes e não poderem ir trabalhar, e o que poderia começar a erguer-se, cai logo por terra. Então, se todos formos sensatos, a nossa economia começará a erguer-se no momento que começar a erguer-se também a nossa saúde. Até ao final de 2021 já todos percebemos que é impossível, depois 2022 chamar-lhe-ei o ano da convalescença e, se tudo correr bem estaremos em força em 2023.

Por vezes, estas situações de crise económica exigem novas respostas e apelam à criatividade. Que novos negócios e/ou produtos têm surgido desta situação?
Bem, é verdade que em tempos de crise temos mesmo que nos reinventar.
Engraçado que quando parece que todas as portas se fecham, há sempre a tal janelinha que se abre. Alguns dos nossos associados deram largas à criatividade e adaptaram os seus espaços comerciais e as suas empresas. Estou a lembrar-me de, por exemplo, alguns espaços comerciais que não o tinham e iniciaram o serviço take-away, e outros que iniciaram as vendas através de directos de Facebook e, curiosamente, conseguiram ultrapassar os valores de vendas em loja física. Claro que, também desta forma têm o apoio da MovAlmeirim, pois, para além de serem nossos associados, estão a divulgar o nome de Almeirim e a enviar os produtos do concelho para vários pontos do país e mesmo do mundo. Há quem pense que fazer vendas através dos directos do Facebook é só ligar a câmara e falar, mas não, até desta forma, existem questões legais para cumprir e os nossos associados estão devidamente informados de como podem fazer esse tipo de vendas e quais os deveres e direitos que têm e quando o resultado é sucesso, é óbvio que o nosso orgulho é imenso.
Também, como já mencionei anteriormente, nos últimos tempos, com o apoio do Município, a MovAlmeirim desenvolveu uma plataforma de vendas online, que se chama “BuyOnMov”. Esta plataforma está direccionada para os associados MovAlmeirim e, como qualquer loja, tem despesas. No entanto, durante o ano 2020, esta plataforma digital esteve à disposição do comércio de todo o concelho de Almeirim, de forma completamente gratuita e, podemos dizer que foram efectuadas vendas para várias zonas do país, o que nos leva a acreditar que este projecto tem tudo para dar certo. Sabemos que cada vez mais as compras se fazem online e com esta pandemia que teima em fazer-nos companhia, as compras através deste tipo de plataformas aumentarão exponencialmente. E, sem querer adiantar-me muito, alerto só os comerciantes do concelho de Almeirim para continuarem atentos à “BuyOnMov”.

Quer deixar uma mensagem final para os associados?
Em primeiro lugar, quero dizer para nunca deixarem morrer a esperança. Posso dizer que no início desta pandemia enxugamos algumas lágrimas de alguns dos nossos associados. Felizmente, temos em conjunto, encontrado as soluções para os problemas e isso é um motivo de muito orgulho para a MovAlmeirim. Perdoem a minha falta de modéstia, mas lembro-me bem que, no início da pandemia, ficamos todos muito assustados. E o maior medo, a seguir ao medo de apanhar COVID-19, era, “como é que eu vou conseguir manter o meu negócio? Como é que eu vou conseguir pagar os vencimentos dos meus funcionários e fazer frente as minhas despesas? Como é que eu vou conseguir manter a minha família?” e estas perguntas e muitas outras que muitas vezes chegaram ao nosso conhecimento por vozes em desespero, eram o maior medo desta associação. Quando os problemas aparecem, com calma, com serenidade, nós vamos conseguindo dar ajuda aos nossos associados e a quem nos procura, mas quando a pessoa se vê sozinha e com o mundo a desabar em cima da sua cabeça, muitas vezes não consegue aguentar e desiste, às vezes da forma mais trágica. A MovAlmeirim está cá para ajudar. Temos portas abertas para todos as empresas e serviços. Temos várias formas de ajudar e aconselhar. Basta chegarem até nós.

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