Com 40 anos de história, a Escola Superior de Educação de Santarém (ESES) está apostada em antecipar futuro. Criada em 1979, a escola tem apostado, sobretudo, em novas ofertas formativas e em aumentar o número de estudantes. Susana Colaço, directora da ESES, garante que a escola está na vanguarda das tecnologias educativas e que faz da inclusão a sua grande bandeira.
Está como directora da Escola Superior de Educação, que balanço faz deste ano a frente da instituição? Estive durante quatro anos como subdirectora desta Escola e, como tal, não existe aqui um trabalho de ruptura. Mas claro, não é um trabalho de completa continuidade. Existiram, claramente, algumas mudanças: aliás, o facto de ter o meu colega, Francisco Silva, como subdirector, fez com que a dinâmica da direcção tenha mudado. Temos apostado, sobretudo, em novas ofertas formativas e em aumentar o número de estudantes, o que foi bastante positivo este ano. Temos apostado, igualmente, em divulgar o trabalho feito aqui na escola, já que nem sempre este aspecto era visível para a comunidade em geral. Temo-nos preocupado com a questão da responsabilidade social das instituições de ensino superior, nomeadamente desenvolvendo programas de voluntariado, em que tentamos envolver os estudantes com a comunidade e a sua participação social na mesma. Estamos a tentar trabalhar cada vez mais com projectos de extensão à comunidade, através da nossa oferta formativa, com alguns cursos em particular. Este foi um ano muito trabalhoso, e compreende-se o facto de, tanto os professores, como os funcionários não docentes, se sentirem por vezes exaustos, mas é um cansaço em que vemos resultados, quer ao nível do trabalho que fazemos de extensão à comunidade, com os nossos parceiros em particular, com os inúmeros projectos Internacionais que temos financiados, quer com o trabalho que os nossos professores e estudantes divulgam em congressos internacionais e nacionais ou em publicações. Chegámos ao início de Outubro e, na sessão de abertura do ano lectivo, vimos um auditório completamente cheio, até com estudantes no corredor. Houve um ano intenso de trabalho, mas, naquele momento, sentimos todos que tínhamos cumprido a nossa missão. Como é sabido, o ensino superior é avaliado constantemente por uma agência de avaliação e de acreditação, portanto, os nossos cursos são sujeitos a um crivo bastante apertado. Temos ainda toda a parte da investigação, a parte da avaliação pedagógica, adequação dos docentes aos cursos, à oferta formativa, aos estágios e toda esta dimensão tem passado nestes crivos muito apertados. Todo este trabalho, em variadíssimas frentes, exige uma resposta eficaz da nossa parte, um esforço grande, porque somos uma instituição não muito grande. Mas, apesar disso, estamos a crescer, e a inverter um processo de decréscimo de número de estudantes que estávamos a sofrer. Este ano, aumentamos em 20% o número de estudantes que entraram no concurso geral de acesso. São números de que nos orgulhamos e que demonstram o imenso trabalho levado a cabo por todos. Neste momento, temos quatro licenciaturas, dois Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP) e temos sete Mestrados. Uma oferta formativa bastante alargada, o que exige bastante de nós, porque os nossos docentes, não sendo muitos, têm que se dividir por toda esta oferta. Por outro lado, a Escola não fica só na área da formação de professores e educadores. Tem hoje uma oferta plural e dirigida a inúmeros públicos.
Quais os principais desafios que a escola terá para o futuro? A escola, hoje, tem várias áreas por onde quer crescer. A educação formal tem sido uma área um pouco difícil, em termos de captação de estudantes. Percebe-se que a área é pouco atractiva, na actualidade, por causa das saídas profissionais. Por isso, temos tentado diversificar a nossa oferta, alargando-a para outras áreas de educação não formal. Temos um curso de Educação Social, que já tem 20 anos: é um curso que ganhou uma grande maturidade e que está perfeitamente instalado e é bastante reconhecido a nível nacional e tem um índice de empregabilidade bastante reconhecido pelos parceiros e empregadores. Em termos de desafios imediatos, destaco a consolidação da nova oferta formativa que temos, que são os dois novos cursos em Educação Ambiental e Turismo na Natureza – um curso bastante arrojado, porque envolve três escolas do politécnico. Embora a coordenação seja nossa (ESES) envolve, ainda, a Escola Superior Agrária (ESAS) e a Escola de Desporto de Rio Maior (ESDRM). Nesta formação, os estudantes frequentam, em determinados semestres, as três escolas. Este ano tivemos 37 estudantes no 1ºano deste curso. É uma oferta na qual queremos apostar porque verificamos que está a despertar muito interesse. Temos também, o curso de Produção Multimédia em Educação, que vai agora no seu segundo ano, com 26 estudantes. A escola tem um ‘know how’ já de há muitos anos neste segmento: começou com o projecto Minerva e produziu muitos produtos até para o Ministério da Educação no âmbito da tecnologia educativa. Temos, neste âmbito, também, diversos projectos na área da formação de professores e de recursos audiovisuais e tecnológicos para o ensino. Além desta licenciatura, temos um mestrado em Recursos Digitais em Educação e um TeSP em Design Digital. Conforme se percebe, temos aqui um fio condutor entre TeSP, licenciaturas e mestrados. É este também um segmento onde nós queremos apostar. Claro que, o nosso core, aqui, na escola, é a formação de educadores e professores. Neste momento, algumas pessoas apontam como preocupante a empregabilidade desta formação, mas nós achamos mais preocupante as previsões que temos neste momento que se relacionam com a previsão de aposentações para os professores. De acordo com um estudo do Conselho Nacional de Educação: “A previsão anual de aposentações por grupo de recrutamento evidencia a possibilidade de a maioria dos grupos considerados (nesse estudo) perder mais de 50% dos docentes no prazo de 11 anos (…). Só para dar um exemplo: temos o grupo de recrutamento de matemática, ciências, história, geografia e português – que são dois dos mestrados que oferecemos – e este ano não abrimos porque não tínhamos estudantes. Os estudantes acham que não têm saída profissionais e acabam por nem concorrer. Se soubessem que daqui a poucos anos 80% dos actuais professores não vão estar na escola, escolheriam de forma diferente. Em Portugal trabalhamos pouco com estes dados e não antecipamos, reagimos aos problemas apenas quando estes surgem.
Como é que a escola se posiciona ao nível da internacionalização e captação de alunos internacionais? Temos, actualmente, um protocolo muito interessante com o Instituto Federal de Brasília. Aliás, o Instituto Politécnico de Santarém está a investir muito no Brasil e ainda bem. Acho que se trata de um mercado muito interessante, além de ser muito grande e com enormes potencialidades. Funcionámos, primeiro, com o mestrado de Educação Social e Intervenção Comunitária e, este ano, vamos receber cerca de 17 estudantes para mestrado em Administração Educacional, que vai integrar uma turma com estudantes nacionais também. Temos forma de os alojar e vão frequentar o primeiro ano do mestrado – que tem que ser presencial – e, depois, terão que ser acompanhados e orientados no ano seguinte. Com este instituto brasileiro já temos várias edições destes mestrados e tem corrido muito bem. E esperamos, de futuro, ter outros protocolos com outras instituições brasileiras.
Quais são os projectos mais emblemáticos nos quais a escola participa? Neste momento, temos cerca de 18 projectos na escola, que envolvem cerca de 65 mil euros. São projectos quase todos internacionais, financiados pelo Erasmus +. Alguns, somos nós os promotores, outros são os nossos parceiros. Há um projecto que acarinhamos muito: o projecto da literacia digital para o mercado de trabalho. Trata-se de um projecto inovador em Portugal, um projecto trazido da universidade de Madrid, coordenado pela Prof. Maria Barbas. É um curso que não confere grau, mas que funciona numa Instituição do Ensino Superior. Trata-se de uma formação destinada a estudantes com mais de 18 anos que tenham necessidades educativas superior ou igual a 60% mas que tenham competências básicas de leitura e escrita. Tem como intenção principal formar os estudantes em literacia digital para o mercado de trabalho para que, quando saírem daqui, estejam aptos para o mercado de trabalho. Ainda recentemente tivemos uma reunião com as empresas e os supervisores de estágio que os irão receber em contexto de trabalho. Irão para estágio no início do ano e serão remunerados e, quer os supervisores da ESE, quer os supervisores das empresas, irão receber uma formação. É um modelo que, apesar de ter sido trazido da universidade de Madrid, tem sido adaptado à nossa realidade, com um franco sucesso. Este curso tem um acompanhamento muito próximo do ministro do Ensino Superior, sendo que este modelo está a ser avaliado em permanência e as unidades curriculares estão a ser alteradas de acordo com a avaliação que têm sido feitas, com o objectivo de ser alargado a outras instituições de ensino superior. Este é um desafio muito grande para a escola: o primeiro ano devo confessar que foi bastante desafiante. Montar todo o curso, criar o espaço de sala de aula, com diferentes apoios, foram as empresas que nos apoiaram bastante. Muito graças ao trabalho da professora Maria Barbas, que mobilizou voluntários, mobilizou empresas e vontades. A inclusão, nesta escola, foi assumida como uma bandeira. Depois, o próprio IPSantarém assumiu este valor como um desígnio colectivo. Aqui, a inclusão é transversal a todos os cursos. Estamos muito mais atentos a receber estudantes com necessidades educativas. Temos, inclusive, uma professora de língua gestual. Há uns anos atrás, no ensino superior, isto não era tão usual. O ensino superior está cada vez mais atento a estas situações, e nós aqui estamos a tentar fazer o melhor possível para incluirmos todos. Claro que há ainda um longo percurso a fazer, mas julgo que estamos no bom caminho.
Actualmente, quais são os cursos com maior procura, e as áreas com maior empregabilidade? Neste momento, podemos afirmar que todos os cursos garantem uma boa taxa de empregabilidade e são muito procurados. Todos os cursos que estão abertos tiveram elevada procura este ano. Temos Educação Básica e Educação Social, os cursos mais antigos, nos quais, este ano, temos duas turmas de cada um dos cursos nos primeiros anos. São 54 estudantes em educação básica que podem depois fazer mestrados na área da educação pré-escolar e primeiro ciclo e segundo ciclo e 64 em educação social. Os outros cursos também tiveram, este ano, elevada procura. Nomeadamente, no curso de educação ambiental e turismo natureza, temos uma turma com 37 estudantes. Em termos de empregabilidade, fazemos auscultação de dois em dois anos aos ex-estudantes. E sabemos que em diferentes áreas temos diferentes níveis de empregabilidade, mas ainda assim elevada. Os TeSP tiveram bastante procura este ano. Estão cheios e não houve vagas sobrantes. Estamos a tentar criar um novo TeSP com a ESSS, que dê resposta às necessidades da região.
O que é um aluno pode esperar ao ingressar nesta escola, e quais os aspectos que diferenciam o ensino que é praticado aqui? Aqui orgulhamo-nos de ter um ensino de grande qualidade: aliás, estamos a apostar muito na qualidade e na inovação pedagógica. E isso tem sido reconhecido. Ainda recentemente esteve cá uma CAE (Comissão de Avaliação Externa) de um curso e foi reconhecido por essa comissão a inovação pedagógica que é feita aqui. Estamos em mudanças de espaço, apostados em criar espaços inovadores e alterar as salas. A sala de aula habitual está a mudar. E não acontece só aqui. As escolas básicas e secundárias também estão a mudar. O perfil do estudante está a mudar e nós temos que acompanhar esta evolução. Não faz sentido continuar a ensinar com métodos e ambientes educativos com os quais nem eles próprios se identificam. Ou seja: o que estamos a fazer é alterar os ambientes, alterar a escola no sentido holístico. E essa alteração é acompanhada por inovação pedagógica. E essa inovação passa também por saber o que se está a fazer noutras escolas: temos envolvido cada vez mais os nossos estudantes na investigação. Levando-os a congressos, e envolvendo-os em projectos. Levámos estudantes a Bruxelas à European Schoolnet, para apresentarem o que estão a fazer aqui na ESES. É cada vez mais crucial alterar a prática lectiva dos professores. O motor dessa alteração tem sido muito os ambientes de aprendizagem, quer utilizando novas tecnologias ( robots, tablets, smartphones…) entre outros recursos, além de dinâmicas diversificadas de trabalho em sala de aula: trabalho de grupo, por projecto metodologias activas de ensino-aprendizagem, entre outros. As metodologias são metodologias de trabalho e elas próprias, como processo, podem ser inovadoras, em que o papel não está centrado no professor, mas no aluno. Os nossos futuros professores e educadores de infância vão replicar aquilo que vivenciaram aqui na ESES. Se viveram aqui um ensino expositivo com ‘PowerPoint’, provavelmente é isso que irão fazer. Se viveram aqui um ensino mais activo, virado para trabalhos em grupo, mais participativo, com metodologias activas, então, provavelmente, será isso que irão replicar nas suas turmas e com os seus alunos. Toda esta mudança de paradigma, que se alarga, depois, a todos os outros cursos – educação social, educação ambiental, produção multimédia, aos mestrados – é algo que em que temos que apostar. Outra aposta, em que estamos na linha da frente, é a do ensino à distância. Temos ‘know how’, temos feito formação, vamos ter, inclusive, um estúdio de vídeo para o efeito. Temos desenvolvido plataformas, até para a Guiné. Para além disso, temos sedeado na escola o Centro de Competência TIC de Santarém, que dá apoio ás escolas da região, o que é uma grande mais-valia para a ESES. Temos professores com grande conhecimento sobre o assunto e que têm implementado, por exemplo, o mestrado de recursos digitais em educação. Para quem já trabalha, oferecer um curso em E-Learning é completamente diferente por causa da disponibilidade e este é um nicho de mercado em que o politécnico está a apostar. Aliás, criou recentemente um gabinete coordenado por uma professora aqui da escola. O FabLab é outro dos centros da escola: é uma estrutura que desenvolve projectos para a educação. Está aberto a toda a comunidade académica e não só, e iremos mudar de instalações devido à chegada de equipamentos, e isso será um novo fôlego para desenvolver novos projectos. Temos algumas empresas da região que vêm aqui construir os seus protótipos, temos recebido alguns estagiários do IEFP que têm desenvolvido projectos muito interessantes. O FabLab tem funcionado muito em articulação com o nosso gabinete de projectos de internacionalização, um gabinete que nos tem dado bastante fôlego à criação de projectos. Por isso mesmo, temos estes 18 projectos em carteira que falava no início. Possuímos ainda um centro de apoio pedagógico- CAP que alavanca projectos dos cursos e dos próprios estudantes. Muitas vezes, são os estudantes que têm um projecto e vão ao CAP de forma a dinamizá-los, para além de inúmeras iniciativas abertas à comunidade, promovidas pelos estudantes. Estamos também a apostar num novo Centro de Línguas, cuja oferta formativa é aberta a toda a comunidade em particular e começámos já com o curso de chinês ao abrigo do Protocolo entre o Politécnico de Santarém e o Instituto Confúcio da Universidade de Lisboa.
Como olha para o futuro da escola? De uma forma muito optimista. Apesar de todos os constrangimentos, preenchemos os cursos e temos procura. Com as notícias da aposentação de educadores e professores do básico, com certeza iremos receber mais estudantes para os cursos de formação inicial de educadores e professores a médio prazo. A escola tem algo muito especial: eu já cá estou há 23 anos. Há uma capacidade de coesão, das pessoas de se unirem em prol dos projectos. Há um espírito de união muito forte. Mesmo com os problemas que temos, vamo-nos reinventando. Temos desafios estratégicos que têm a ver com investigação, a inovação, a internacionalização, e estamos alinhados com a estratégia do instituto. Começámos este ano de forma muito optimista e estamos num ciclo muito positivo e ascendente. Na questão da internacionalização, gostava de referir que, até aqui, falámos apenas de estudantes brasileiros, mas temos estudantes europeus que nos chegam pela via dos Erasmus, e temos estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que nos têm procurado por iniciativa própria. Pelas características do ensino superior politécnico, pelo tipo de formação que se faz aqui, os estudantes estão praticamente todos envolvidos em estágios curriculares em empresas, instituições, nomeadamente escolas, autarquias, IPSS, entre outras instituições. Temos essa ligação muito forte com a comunidade, que se traduz em diferentes iniciativas. Sabemos que quando fazemos estudos de empregabilidade, muitas vezes a primeira resposta que nos dão sobre como conseguiram o primeiro emprego, tem a ver com serem recebidos pelas empresas que lhes deram estágio. Essas instituições reconhecem, de facto, as capacidades destes estudantes. O nosso sucesso não teria esta magnitude se não fossem os nossos parceiros, que têm sido fulcrais no trabalho efectuado. Uma relação com muitos anos, que se vai alimentando, e onde se criam sinergias fortes, entre autarquias, empresas, escolas, IPSS, agrupamentos de escolas, parceiros com os quais trabalhamos há tantos anos que, sem eles, não seria possível fazer nada disto.