Hermínio Martinho tomou posse como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santarém (SCMS), sucedendo no cargo a Mário Rebelo, que liderou a instituição nos últimos 12 anos, e que se mantém nos órgãos sociais, agora como presidente da Mesa da Assembleia Geral.

Engenheiro técnico agrário de formação, ex-presidente do já extinto Partido Renovador Democrático (PRD), pelo qual foi eleito deputado na Assembleia da República, e ex-vereador na Câmara de Santarém (primeiro pelo PS e depois pelo PSD), Hermínio Martinho diz assumir este cargo com um “sentido de missão”.

Nascido em Tancos a 23 de Março de 1946, está radicado em Santarém há várias décadas. Considera-se uma pessoa frontal, que gosta de dizer aquilo que pensa e sente.

O respeito e a dignificação das pessoas é, talvez, a missão mais importante de todos nós”, disse, nesta entrevista ao Correio do Ribatejo em vésperas de assumir mais um desafio na sua vida.

Hermínio Martinho tem Eva Castro Palha como vice-provedora, enquanto João Sanches Peres é o presidente do Conselho Fiscal .

Porque decidiu abraçar este desafio de assumir a provedoria da SCMS? Eu tinha uma relação muito próxima com o sr. bispo D. António Francisco Marques, primeiro bispo de Santarém. Tínhamos uma grande ligação, uma grande amizade, eu gostava muito dele e gostava muito de falar com ele. Lembro-me que, numa das conversas que tive com ele, lhe disse que tinha na ideia que, quando mais tarde me reformasse, no caso de haver condições para isso, gostaria de trabalhar em prol dos outros, numa instituição. Não pensei concretamente em nenhuma instituição, mas queria que fosse uma instituição virada para as pessoas mais necessitadas, em que, muitas delas, depois de uma vida de sacrifícios, não têm condições para ter a vida digna que todo o ser humano merece. O facto é que atingi a idade da reforma há meia dúzia de anos. As circunstâncias não se proporcionaram, e essa ideia foi desvanecendo até que, em meados do ano passado, alguns amigos vieram falar comigo para me transmitir que gostavam que me envolvesse mais na SCMS, instituição da qual era presidente da Assembleia Geral. Depois de alguma insistência, e já depois de ‘correr por aí’ que eu estava a admitir a hipótese, e a constituir a equipa, houve outros amigos que me falaram em sentido contrário. Diziam-me: “agora que tens a vida estabilizada, vais assumir mais responsabilidades na SCMS, onde trabalham mais de duas centenas de pessoas, com todas as exigências que são conhecidas”…. O facto é que eu nunca recusei um desafio. Sempre fiz o que pude por quem me pediu e precisou. Acho que todos temos o gosto de ajudar os outros quando nos pedem, e eu sempre o fiz, sempre tive esta postura na vida. Depois de cimentar um pouco a ideia, a primeira pessoa com que falei foi o actual provedor, Mário Rebelo, de quem sou amigo há quatro décadas. Perguntei o que ele pensava e ele foi peremptório e disse-me que não iria continuar, que já estava há uma dúzia de anos na SCMS e ia sair. Depois, falei com o vice-provedor, Luís Valente, para perceber a posição dele, e a posição era a mesma: transmitiu-me que, depois de tantos anos, e com a vida profissional que tinha, não seria possível continuar. Portanto, não havia aqui qualquer choque: eu acho que devemos sempre respeitar a posição das outras pessoas que tanto deram de si à instituição. Depois deste passo, perguntei ao provedor se, na equipa dele, haviam pessoas que ele achasse que, pela sua dedicação e esforço, seriam uma mais-valia para a SCMS continuarem. Ele indicou-me algumas, falei com elas, e transmitiram-me que já tinham cumprido a sua missão e não estariam disponíveis para continuar. Portanto, tive que iniciar o trabalho para formar uma equipa nova. Confesso que, nessa fase, estava ainda a tentar perceber os contornos destes assuntos, que são muito sérios, onde estão envolvidas questões de grande responsabilidade social e tinha que tomar a decisão com plena consciência que poderia fazer algumas coisas em prol da SCMS. As duas primeiras pessoas com quem falei para fazer parte da equipa foram Nuno Russo e Eva Palha. São dois jovens de grande valor e qualidade, de quem a cidade pode esperar muito. Não só a instituição, mas a própria cidade e a região podem esperar muito deles. Só depois de falar com eles, e de ver o entusiasmo deles, o desejo, a vontade e o amor com que estavam a falar do projecto, e a sua disponibilidade para se empenharem nisso, é que decidi, em definitivo, candidatar-me ao cargo. Uma ou duas semanas depois, Nuno Russo acabou por ser chamado para o Governo e transmitiu-me que não poderia assumir os compromissos executivos com que estava comprometido na Santa Casa, mas vamos contar com ele para fazer parte da equipa, na mesa da Assembleia Geral. Depois de todo este processo, constitui a equipa, que foi pensada muito em termos de área de intervenção. E fomos eleitos, com o programa de acção que apresentámos e agora estamos com muita vontade de começar a trabalhar.

No plano de acção que apresentou, quais são os principais projectos e ideias que quer trazer para a SCMS? A instituição tem um papel importante e, se calhar, cada vez mais importante tendo em conta a situação actual da sociedade. E é isso que é preciso fazer: preparar a instituição para responder a isso. A principal preocupação e a grande prioridade vão ser as pessoas que a Santa Casa serve e que tem que continuar a servir nas melhores condições possíveis. Não conheço, ainda, em pormenor, os mecanismos internos da SCMS. Só agora é que, juntamente com a minha vice-provedora (que vai ficar com responsabilidade de toda a parte ligada à área social, desde a creche até aos mais idosos, vou começar a tomar o pulso à casa e a conhecer em pormenor a sua dinâmica. É sabido que existem, transversalmente, neste tipo de instituições, dificuldades financeiras e problemas de vária ordem, mas sabemos que, com empenho, tudo é ultrapassável e, certamente, saberemos encontrar meios de superar essas questões. A SCMS, fundada em 1500, é uma instituição que merece e tem o respeito de toda a cidade, de todo o concelho, de todas as pessoas. E é essa a sua grande força. Reforço: não conheço ainda todas as pessoas e toda a estrutura da Santa Casa, onde trabalham 260 pessoas. Eu estou habituado a lidar com empresas com outros objectivos, e essa experiência vai, com certeza, ser uma mais-valia. Uma das coisas que me preocupa é o facto de termos, na Misericórdia, funcionários com salários muito baixos. Mais de metade das pessoas não leva 600 euros limpos por mês para casa. Mas, das que já conheço dentro da SCMS, são pessoas que me deixam tranquilo no aspecto da qualidade, da disponibilidade até da excelência das relações e do tratamento que elas desenvolvem. Do que conheço, penso que a Santa Casa está bem servida de gente cujo espírito é servir. São pessoas que, para além do seu posto de trabalho, têm um espírito humano e um sentido de serviço: há ali muitas actividades que necessitam de um certo tratamento especial e de um sentido humanista e de sensibilidade. Iremos, com certeza, encontrar os mecanismos para que a SCMS possa, não só continuar mas, dentro do que for possível, melhorar as respostas e a qualidade das respostas que a sociedade escalabitana precisa.

É possível definir, em linhas gerais, as principais acções a tomar já no ano de 2020? Como já referi, no nosso programa de acção o foco principal são as pessoas, desde a Creche, as crianças, aos mais idosos. Temos uma ideia – que foi a Dra. Eva Palha que lançou – que é a criação de uma unidade de cuidados paliativos, uma estrutura que a Santa Casa não tem e penso que, na nossa região, há essa necessidade. As pessoas vão ver que, no nosso mandato, essa será a nossa preocupação. Claro que existem outras: o património imobiliário que a Misericórdia tem, e que durante muitos anos foi uma fonte de rendimento, hoje são uma fonte de preocupação. Os edifícios vão-se degradando, naturalmente, e alguns não dão qualquer rendimento para que depois possa ser aplicado na missão e no foco principal da Misericórdia, que é o apoio às pessoas. O certo é que não podemos deixar degradar o edificado, mas, entre canalizar dinheiro para os reparar ou para servir as pessoas, claro que as pessoas serão sempre prioridade. Mas temos, claramente, que encontrar mecanismos de poder inverter esta situação de degradação e essa matéria terá, neste mandato, um olhar muito cuidado.

A alienação de imóveis poderá ser uma solução? Repare: a Santa Casa não vai dispor de dinheiro para poder recuperar imóveis. O retorno do investimento, provavelmente, não se justifica ou arrastar-se-ia muito no tempo e há outras prioridades. São, como disse, assuntos que temos que analisar profundamente. Também faz parte da equipa o Eng. Fernando Trindade, que já foi chefe do departamento de Urbanismo. É uma pessoa que conhece bem o meio, conhece a legislação e vamos tentar encontrar a melhor forma de servir a Santa Casa e, com isso, servir a comunidade. Admito que poderão existir saídas de alguns edifícios, nomeadamente para responder a algumas necessidades da própria cidade, como residências para estudantes, ou outras soluções.

Daquilo que conhece, em termos da realidade de apoio a pessoas mais carenciadas e, sobretudo, aos mais idosos, acha que os que existem são suficientes? Esse é um problema que não só de Santarém: a questão do envelhecimento e as dificuldades que as famílias têm é transversal. Naturalmente, essa tem que ser uma preocupação de todos, de toda a comunidade e não só da Santa Casa. Penso que iremos encontrar formas para responder o melhor possível e nas melhores condições possíveis de acompanhamento às pessoas nessas suas necessidades.

O apoio aos idosos deveria ser, no seu entender, prioritário nas políticas que são seguidas no país? Quem não sabe apoiar e respeitar, da forma que merecem, os mais idosos, não é capaz de respeitar mais nada na sociedade. O respeito e a dignificação das pessoas é, talvez, a missão mais importante de todos nós. Sempre tratei os outros como gosto de ser tratado. Naturalmente, vivemos num país com muitas dificuldades, onde o dinheiro não chega para tudo. Mas, no meu entender, poderia haver outro tipo de resposta mais eficaz e mais satisfatória para melhor servir as pessoas. Penso que essa é uma preocupação de todos e todos temos que tentar encontrar os melhores caminhos para que as pessoas possam ter, na parte final da sua vida, o tratamento que merecem. Para que uma pessoa, depois de uma vida intensa de trabalho e de serviço, possa ter acesso a melhores cuidados e a respostas para que ela possa ter o que merece.

E o apoio às instituições por parte do Estado? Deveria haver aqui um incremento? Confesso que não conheço ainda, em profundidade, todos os dados. Eu gosto, primeiro, de conhecer toda a envolvência, para depois actuar. Já estive a ler o que está estipulado sobre isso, as actualizações, mas prefiro não falar de uma coisa que não conheço a fundo. A minha posição é a seguinte: tudo o que forem situações que possamos melhorar, estaremos cá para ajudar e não deixaremos de bater a todas as portas porque, quando sabemos o que queremos – e queremos trabalhar de uma forma desinteressada para servir os outros – tudo se torna mais claro. E eu acho que, da parte dos responsáveis, há, naturalmente, essa intenção de ajudar e servir os outros. A minha perspectiva é positiva, sempre optimista.

Um dos problemas que as IPSS enfrentam, e recentemente o bispo de Santarém alertava para isso, é a questão da sustentabilidade. Este aspecto preocupa-o? Li atentamente o que o Sr. Bispo disse e essa questão tem que ser, naturalmente, uma preocupação. É um alerta que ele faz, apontando que muitas instituições vivem uma situação preocupante, tendo o seu futuro em risco devido ao aumento com encargos sociais e à redução das receitas. Certamente que estas questões não se conseguem resolver de um dia para o outro. Sabemos quanto ‘custa’ uma pessoa idosa em termos deste tipo de apoios, que são altamente especializados. E também sabemos, em média, quanto é que essas pessoas têm de reforma… naturalmente que terão de se encontrar mecanismos que ajudem a compensar as reformas muito baixas para que se consiga responder com o melhor serviço e o mais digno possível, porque a condição humana tem que estar acima de tudo.

A sua experiência como militar e com político vão pesar na sua forma de gestão da Misericórdia de Santarém? Eu vim para Santarém para acabar o liceu. Estive no Entroncamento do 1º ao 5º ano. Depois, vim para Santarém para terminar a escola. Entretanto saí, mas voltei, depois, para a Escola Prática de Cavalaria (EPC). Curiosamente, entrei para a Escola Prática na mesma altura que Salgueiro Maia. Como fui dos melhores do meu curso, não fui mobilizado para o Ultramar como alferes. Acabei por ser chamado mais tarde como capitão. Quando falamos das dificuldades das pessoas, no seu dia-a-dia, conheça-as bem. Para lhe dar um exemplo: no dia 18 de Outubro de 1973, embarquei em Lisboa para cumprir serviço militar em Angola, como Capitão Miliciano de Cavalaria. Nesse dia, a minha filha Patrícia fazia 3 anos e, além disso, já tinha o meu filho Tiago, a minha filha Marta, e a minha mulher estava grávida do meu filho Rodrigo… eu embarquei para a guerra, deixando a minha mulher com três filhos e grávida do quarto. Uma situação que, para mim, foi muito difícil. Uns meses depois, deu-se o 25 de Abril e eu vim para Portugal em Março de 1974 para acompanhar o nascimento do meu filho Rodrigo. Entretanto, voltei para Angola. Tudo isto para reforçar que sei o que são, de facto, dificuldades. Quando regressei, iniciei a minha actividade, que foi toda voltada para a parte agrícola. Em finais da década de 70, depois de uma conversa com o então presidente da Câmara, Ladislau Telles Botas, fui convidado para presidir à Feira do Ribatejo, altura em que assumi também o cargo de vereador da CMS. Tudo isto me deu uma grande experiência de vida: tenho razões para me sentir orgulhoso do trabalho que foi feito. A feira voltou a ter projecção. Fui eu que comprei a Quinta das Cegonhas, e comprei-a quinta com total apoio do presidente Ladislau Teles Botas, e do PS, que estava no poder. Eu entendia que uma Feira, com as responsabilidades que tinha, e com o papel que podia ter na modernização da agricultura, devia ser um certame vivo ao longo de todo o ano. Onde, quer as empresas do sector, quer o Ministério da Agricultura e outros órgãos oficiais pudessem ter centros de formação, de reciclagem para técnicos, para agricultores, campos de demonstração. Tudo isto sem matar as raízes da Feira porque entendia que a sua origem tinha que ser respeitada. Aquele local foi escolhido porque a cidade não iria crescer para ali e ficava quase que a meio caminho entre a Escola Agrária e a Estação Zootécnica: não se consegue inovar ou desenvolver o que quer que seja sem uma estreita ligação com o ensino e com a investigação. Acabei por sair da Feira em 1983 e, por razões que eu não conheço, mais tarde, a CMS decidiu abrir mão de todo aquele património em condições que até hoje não estão cabalmente explicadas. Até à altura em que eu fui presidente da Feira, a Feira era a Feira de Santarém mas, com as transformações todas que ocorreram entretanto, morreu a feira do Ribatejo, e a Feira que ‘era de Santarém’ passou, unicamente, a ‘estar em Santarém’. Não pretendo criticar quem la está, até porque há uma ligação à Santa Casa. Agora, nunca percebi o porquê de abrir mão deste património, e não me refiro só ao mobiliário: refiro-me também ao património histórico e cultural porque acredito que o desaparecimento da Feira do Ribatejo foi uma machadada muito grande em termos da nossa história, da tradição e da cultura da nossa região. Mas aconteceu e, agora, há que andar para a frente. Tudo isso para referir que o meu percurso foi feito em estreita ligação com a cidade e as suas gentes. E todos os cargos que assumi fi-lo com espírito de missão e sem esperar qualquer tipo de promoção pessoal e sem qualquer tipo de remuneração, como vai acontecer agora, também, na SCMS, como eu acho que é normal e natural. Quem desenvolve este tipo de actividades deve fazê-lo por amor, por vontade própria, por sentimentos e não por qualquer tipo de remuneração ou interesses pessoais, como vai acontecer agora com toda a minha equipa.

Ou seja, é com todo este capital de experiência que vai abraçar este novo desafio? Quando saí da Feira, tive várias responsabilidades políticas, desde deputado a membro de Conselho de Estado. Há tempos, alguém me dizia que eu sou o único português que foi eleito membro do Conselho de Estado com menos de 40 anos…. Isso passou tudo. Afastei-me das questões políticas. Isso não quer dizer que os assuntos do País não me digam nada, mas, actualmente, estou completamente à margem de tudo isso. Cumpri o meu dever. Agora, não estou desligado, e nunca estarei, dos muitos amigos que fiz e que são pessoas com responsabilidades. Admito que, nalgumas situações, possam ajudar a estabelecer contactos e a encontrar soluções, até concretamente em relação à SCMS. Não escondo isso e, se isso for possível, não deixarei de utilizar os conhecimentos que tenho em benefício da SCMS.

Muito se fala da Monumental Celestino Graça. Qual é a sua opinião sobre este edifício? A Monumental Celestino Graça é um património histórico da cidade. Confesso-lhe que tenho pena que ela tenha sido feita naquele sítio: quem planeia e decide tem que pensar sempre no futuro e nas suas implicações. Quando foi decidido fazer a Monumental Celestino Graça não houve ninguém, na altura, que olhasse para a planta da cidade: a Avenida D. Afonso Henriques, que já existia, se tivesse sido prolongada, em linha recta, ia dar exactamente à entrada do então Colégio Andaluz, hoje Instituto Politécnico. Toda aquela nova cidade que ali está, com curvas e contracurvas, ruas para esquerda e ruas para a direita, poderia ter tido uma outra estrutura imobiliária que fosse mais interessante para a cidade se a Monumental não tivesse sido construída ali. Mas a Praça está ali e ali está. É uma evidência. E, caso tivesse uma dimensão menor, justificasse olhar para aquilo num contexto de multiusos e de outro tipo de actividades, não só da parte da tauromaquia, como actividades culturais, musicais e desportivas. Mas a praça é muito grande, a maior do país, e pensar numa solução à semelhança do que foi feito em outros sítios, como Évora ou Elvas, para aquele espaço, não me parece que seja viável. Convém não esquecer que a Monumental Celestino Graça já foi uma grande fonte de rendimento, mas, nos últimos anos, tem sido uma fonte de preocupações e até de algumas despesas. A ponto de, em 2018, não ter havido nenhuma corrida de touros em Santarém. Em 2019, felizmente, apareceu um grupo de jovens que veio trazer outra dinâmica. Agora, juntamente com a minha equipa, irei olhar para a Monumental a sério e tentar, também, encontrar a melhor forma de servir, também através da [Praça] Celestino Graça, os interesses da SCMS e da cidade. Claro que estamos numa fase complicada: muita gente é contra os espectáculos tauromáquicos e eu não tenho nada contra a pessoas que são contra. A única coisa que peço às pessoas que são contra é que respeitem a minha opinião, a minha tradição, a minha história, a minha cultura e a do meu país e da minha região, que é gostar de corridas de touros, de touros e de cavalos. Respeitem a minha opinião como eu respeito a deles. É o que peço. Já fui a várias praças de touros e estão sempre grupos de pessoas a manifestar-se. A única coisa que peço é que respeitem a opinião de quem gosta como nós respeitamos a opinião deles. É só isso que queremos, no resto o País há-de continuar a andar e se fossemos impor agora aos outros o que nós pensamos, não iríamos a lado nenhum porque não estamos sempre de acordo com o que quer que seja. Os touros são uma tradição importante de Portugal, faz parte da nossa história e da nossa cultura desde os tempos mais remotos. Temos de ter consciência que, se não soubermos respeitar a nossa história e a nossa cultura, qualquer dia andamos à deriva.

Como é que olha para a cidade e a sua evolução ao longo dos últimos anos? E que leitura faz da saída da EPC para Abrantes? A Escola Prática de Cavalaria faz parte de mim. Tirando os três meses de cadete em Mafra, e depois mais quatro meses e meio, também em Mafra, no curso de capitão, o serviço militar foi aqui [na ex-EPC] e, depois, em Angola. A Escola tinha uma tradição de uma unidade de gente cumpridora, de gente experiente, competente. Eu lembro-me, em 75, na altura dos SUV’s (Soldados Unidos Venceremos) que andavam todos desabotoados, de cabelos caídos. Praticamente os militares que víamos na rua vestidos a rigor e cumpridores eram os da Escola Prática de Cavalaria. Custou-me muito ver sair a Escola Prática de Cavalaria de Santarém sobretudo, por ir para Abrantes. Não consigo encontrar uma explicação. Há pouco, quando disse que não encontrei uma explicação da Câmara Municipal de ter aberto mão de todo aquele património da Feira do Ribatejo sem explicar, não consigo, igualmente, perceber como é que a Escola Prática de Cavalaria saiu de Santarém para ir para Abrantes… Se me dissessem os tempos são outros e os desafios são outros, que teríamos de colocar a Escola Prática de Cavalaria no Campo de Santa Margarida, em Tancos, por exemplo, que tem outras condições… agora, para Abrantes? Não percebi, e acho que, uma vez mais, as forças de Santarém não terão sabido usar a força democrática que têm para tentar alertar, ou pelo menos tentar perceber, o porquê dessa decisão. Hoje, as coisas estão diferentes, as Escolas Práticas estão todas reunidas em Mafra. A de Cavalaria, a de Infantaria e de Artilharia, são já assuntos que não me dizem respeito e já é um assunto mais do que fechado. Agora, não escondo que nunca consegui entender o porquê da Escola sair de Santarém para ir para Abrantes. Ninguém me explicou e estou convencido que ninguém encontraria argumentos para explicar o porquê desta transferência. Em termos de evolução urbanística que se operou em Santarém, nomeadamente as obras do Campo Sá da Bandeira acho que a cidade não ganhou nada com aquilo, que não é mais do que um espaço enorme de calçada. Se tivessem feito ali alguma coisa para as pessoas estarem, com equipamentos de manutenção e exercício, de cultura, de recreio, de descanso, um mini ‘central-park’ onde as pessoas se sentissem bem, seria diferente. Agora, aquele espaço enorme, de calçada, para por os carros e autocarros todos junto aos prédios e com estreitamento de via, também foi algo que não percebi muito bem. Eu talvez fosse defensor que o trânsito deveria ter ali uma passagem subterrânea. Na altura, ainda transmiti essa opinião, mas disseram que não era possível porque se iam levantar problemas sob o ponto de vista arqueológico. Mas mantenho a minha posição: acho que a cidade não ganhou com aquela transformação. Convém sublinhar que sou amigo do presidente da Câmara, gosto muito do Ricardo Gonçalves: agora, há coisas que eu tenho dificuldade em entender. Por exemplo, quando vim para o Liceu, no início da década de 60, caíram as barreiras das Portas do Sol para o lado do caminho-de-ferro. Caiu aquilo tudo e foi nessa altura que foram feitas aquelas estruturas de betão e que nunca mais foram mexidas. A ideia que tenho é que passados dois ou três meses, os comboios estavam a passar normalmente. Agora, tenho alguma dificuldade, em conceber porque razão seis anos após terem caído as barreiras de Santa Margarida, ainda não se circule normalmente na estrada. Temos praticamente cortada/inviabilizada a Estrada Nacional 144 quase há seis anos e continua-se a assistir a isto passivamente, arrasta-se, adia-se….

A Capital de Distrito perdeu aqui algum peso na região? Eu não diria isso, até porque não gosto de trabalhar ou olhar para as coisas pela negativa. Acho, isso sim, que as outras cidades aqui à volta – Almeirim, Cartaxo ou Rio Maior – foram ganhando uma dinâmica diferente da de Santarém e, em termos de resposta, a todos os níveis, desde o social ao empresarial, deram passos mais consistentes e mais profundos do que Santarém. Admito que se eu fosse presidente de Câmara também, possivelmente, não podia fazer mais do que os vários autarcas fizeram ao longo destes anos. Mas haveria uma coisa que, se calhar faria, que era estar a de estar todos os dias nos gabinetes dos ministros em Lisboa. Repare: estamos no segundo Governo de António Costa e penso que as barreiras caíram ainda no Governo de Pedro Passos Coelho. Uma estrada nacional fechada? Mas, para além da Câmara, a própria cidade tem assistido com uma passividade incrível a isto, o que é uma coisa espantosa. Não quero que se entendam estas afirmações como críticas, mas, claramente, acho que há que criar outra dinâmica em Santarém e na região. Quando fui para o Parlamento, Santarém elegia 12 deputados e, neste momento, elege nove. É preocupante, pois Santarém e a nossa região é a que possui maior potencialidade agrícola e isto não pode ser desprezado.

Que marca gostaria de deixar agora como provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santarém? Gostava que as pessoas, que precisam da Misericórdia, se sentissem na Santa Casa como se sentem nas suas próprias casas.

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