A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém (ESGTS) assinalou na sexta-feira, dia 22 de Novembro, o seu 34º aniversário, renovando o “compromisso com a comunidade” de se constituir como “um pólo de desenvolvimento regional”.
Fundada em 1985, a ESGTS tem hoje mais de 1200 alunos a frequentar um leque alargado de cursos, que vão desde Licenciaturas a Mestrados, passando por Cursos Técnicos Superiores.
A Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém é uma Unidade Orgânica do IPSantarém “empenhada na qualificação de alto nível dos cidadãos”, destinada à produção e difusão do conhecimento, à criação, transmissão e divulgação do saber de natureza profissional, da cultura, da ciência, da tecnologia, da investigação aplicada e do desenvolvimento experimental, “relevando a centralidade no estudante e na comunidade envolvente, num quadro de referência internacional”.
O director, Vítor Costa e o subdirector da escola, Sérgio Cardoso, deram a conhecer os projectos, ambições e perspectivas de futuro.
Que desafios se colocam actualmente à Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém (ESGTS)?
Sérgio Cardoso (SC): Os desafios perante o ensino superior, em particular o ensino politécnico, são os de contribuir para o desafio da qualificação. E este aspecto é particularmente importante, até num contexto regional, da proximidade, da escala onde nos inserimos. Mas, sobretudo, também, porque não podemos deixar de atender à missão institucional da escola, que é o ensino da gestão e das ciências empresariais, ao mesmo tempo conjugada com as tecnologias, com a ciência informática. Portanto, nestas duas escalas, a ESGTS está a oferecer um ensino de boa qualidade, diferenciador, e verdadeiramente ao serviço da qualificação dos jovens da nossa região. Esse desafio faz-se sobre os problemas que são contemporâneos, num contexto de grande pressão demográfica, em que boa parte da nossa região tem algum envelhecimento da população. Depois, não podemos esquecer que o prosseguimento de estudos faz-se com instituições, também de ensino superior de referência, que estão relativamente perto da nossa escala. Adequarmos e termos um corpo docente qualificado e uma oferta formativa interessante: São esses desafios que nos movem constantemente. Tanto é assim que nós já preparamos este ano uma nova licenciatura para registo, estamos a preparar uma nova oferta de Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP) e, depois, no capítulo da internacionalização prosseguimos os esforços de vir a desenhar com parceiros europeus do norte da Europa uma oferta de segundo ciclo, um curso de mestrado em segundo ciclo. Depois, o desafio de sempre é ainda o de melhorar e construir um relacionamento de parceria com as entidades que nos estão próximas. As entidades públicas, as empresas, o tecido empresarial, as associações empresariais: de outra maneira, não cumprimos a nossa missão.
Vítor Costa: Em termos de desafios, como é sabido, só 20% dos alunos da via profissional do ensino secundário é que ingressam no ensino superior. Fala-se muito da crise demográfica, o que é uma realidade. Mas há aqui um nicho para o qual os politécnicos devem estar virados e orientados. É preciso tornar o ensino superior apetecível para esses alunos da vertente profissionalizante do ensino secundário, para que possam continuar os seus estudos sem ser ao nível dos TeSPs, directamente das licenciaturas. Há aqui uma oportunidade de os institutos politécnicos, e da escola de gestão em particular, de poderem crescer captando, ou despertando o interesse desses alunos. Depois há um outro desafio que é o da formação ao longo da vida. A aposta deve estar direccionada para a chamada ‘reciclagem’ ou actualização de conhecimentos através de cursos de curta duração. Existe esta reciclagem dos saberes que é preciso transportar para dentro da escola e dar esta nova oferta. Em termos de desafios, eu juntava também o do desenvolvimento da investigação aplicada. É preciso virar as preocupações em termos de investigação para aquilo que são as necessidades do tecido empresarial. Isto é: desenvolver conhecimento que seja aplicável e que seja facilmente transposto e que dê resposta às necessidades concretas. Em termos de internacionalização, onde temos o programa Erasmus, com um conjunto de unidades curriculares que são leccionadas só em inglês. Juntamos os alunos internacionais aos portugueses, temos um programa autónomo onde vêm alunos desde a Turquia à Lituânia – praticamente da europa toda – que vêm todos os anos frequentar este programa. São unidades curriculares dos cursos de licenciatura que abrangem as áreas da gestão e da informática, que são exclusivamente leccionadas em inglês. Em paralelo, perspectivamos reforçar esse aspecto da internacionalização e do ponto vista institucional está aberta a via para virmos a ter uma colaboração mais sólida e próxima com a Universidade de Santiago em Cabo Verde.
Quais os cursos que a escola oferece actualmente, e que evolução houve neste aspecto?
SC: Nós organizamos a nossa oferta formativa com uma centralidade numa oferta nos cursos de licenciatura, mas isso não nos impede de responder aos desafios de qualificação que ficam à saída daqueles alunos que fazem trajectos no domínio do ensino profissional. Por isso, temos uma oferta reforçada em cursos TeSP: são agora seis, todos em funcionamento. Algo que nos distingue de outras instituições de ensino superior é o facto de toda a nossa oferta formativa estar verdadeiramente em funcionamento. Não são cursos de catálogo. Em termos de procura por parte dos estudantes pela escola, temos este ano um reforço superior a 7%. Como se vê, é muito marcado pela oferta de cursos TeSP e de segundo ciclo e uma estabilização de oferta de primeiro ciclo. De notar que nós não tivemos este ano um curso a concurso nacional de acesso. Portanto, na verdade estes números, na nossa expectativa, podiam ainda ter sido maiores. Em termos de primeiro ciclo, cada uma das nossas ofertas formativas apresenta uma boa procura, que está perfeitamente sustentada. Existem várias formas de fazer crescer uma instituição de ensino superior: uma hipótese é fazer proliferar a oferta formativa com cursos relativamente pequenos. Mas, aqui, achamos que há uma maior eficiência em fazer na oferta formativa que nos é característica. Optamos por cursos maiores, porque essa massa crítica permite-nos, depois, responder melhor a desafios que estão na área da investigação, da prestação de serviços e da relação com a comunidade: se tivermos cursos maiores temos melhor capacidade de estabelecer esse diálogo do que com cursos pequenos. Para além das possibilidades que os acordos bilaterais como o que Cabo Verde nos oferece, estamos activamente a procurar que a internacionalização da escola se faça por acordos bilaterais. Há aqui duas maneiras de o fazer: uma delas é oferecer as vagas e esperar que as vagas sejam interessantes para serem procuradas. Para além disso, interessa-nos ter parcerias estáveis e robustas em acordos bilaterais que venham tomar todas as vagas que oferecemos para esse contingente. Isso é interessante porque essa relação, depois, é mais construída, os alunos são mais tipificados, integram-se melhor nas actividades da escola, evidentemente com melhores resultados ao nível do sucesso escolar. A escola está num momento em que, já há dois anos consecutivos, apresenta máximos históricos em número máximo de alunos. Estamos acima dos 1200 alunos. Este ano, são precisamente 1265.
VC: Devo dizer que este número se alcança com uma composição de oferta formativa virtuosa, uma vez que temos uma verticalização por domínio científico na nossa oferta. Nos cursos de informática, temos três TeSP a montante, temos o curso de licenciatura informática como primeiro ciclo, e depois, isto caminhará para gerar massa crítica para uma oferta de segundo ciclo. Esta verticalização por domínios científicos, temos também na gestão de empresas e outras áreas. Em segundo ciclo, os cursos mantêm uma procura consistente e registam um crescimento interessante, que se aproximam dos 10%, comparativamente ao último ano. Há aqui a preocupação de haver uma fileira e não coisas dispersas: o não haver coisas dispersas significa ter muitos cursos, uma inflação de cursos com poucos alunos por curso, ou ter menos cursos e encher esses cursos com alunos. Aquilo que temos é feito é ter algum cuidado em criar cursos de forma a termos a certeza que têm alunos. O caminho é este: não é ter muitos cursos e alguns nem sequer funcionam, o catálogo pode ser muito extenso, mas, depois, na prática isso não quer dizer nada. A nossa estratégia tem sido preferir ter menos cursos, mas ter os cursos cheios. A ESGTS, no universo das cinco escolas do politécnico, é a única que tem concorrência do sector privado. Mesmo assim, somos a maior escola do politécnico com mais de 1200 alunos. E esta filosofia significa eficiência de gestão, isto é, utilizar o melhor possível os parcos recursos que o Estado nos dá. Dentro do politécnico, somos a escola que tem menor custo por aluno. Isto só se consegue desta forma. Maximizando os recursos que temos. A escola tem vindo a crescer no número de alunos, no número de turmas, exactamente no reforço desta estratégia. A questão é saber onde está o limite. E o limite será sempre dos meios físicos e dos recursos disponíveis. E o que estamos a fazer, porque o TeSP permite, é identificar parceiros que estejam numa escala regional e que possamos usar para colocar lá a nossa oferta formativa. São ainda alunos do IPSantarém, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, têm todas as possibilidades de prosseguimento de estudos mas fazem-no numa escola que já conhecem, num acordo que viermos a estabelecer. Estamos a identificar esses parceiros e já existem contactos exploratórios realizados. Isto é outra maneira de fazer a escola crescer uma vez que tira a pressão das nossas instalações físicas. Apesar de um quadro de funcionamento de parcos recursos, a escola tem usado instrumentos financeiros disponíveis de tal maneira que, nos últimos dois anos, o investimento em equipamento na escola supera os 180 mil € tudo por via de concursos.
Quais são os cursos com maior procura na instituição e as áreas com maior empregabilidade?
SC: Felizmente, os cursos têm verdadeiramente boa empregabilidade. Devo dizer que, no caso da Informática, fomos durante anos um dos poucos cursos do país com desemprego zero. Temos grandes empresas que querem recrutar à saída os nossos diplomados, o que excede largamente a dimensão das turmas. Eu sublinharia ainda a Gestão de Empresas, com uma oferta consolidada e com uma procura consolidada por parte das empresas, nem sempre da região, devo sublinhar. Muitas vezes, estes alunos prosseguem carreiras fora da região. Em Contabilidade e Fiscalidade, o perfil de um diplomado é muito semelhante. Este ano, pela primeira vez, colocamos os licenciados de Negócios Internacionais e também percebemos que tiveram boa inserção profissional. Também é verdade que se olharmos para a mesma questão do lado dos cursos TeSP, cujo formato tem um estágio à saída, boa parte dos alunos são convidados a prosseguir nas empresas onde estagiaram, o que é um indicador da boa aceitação daquele perfil de formação que aqueles cursos oferecem. Desse ponto de vista, a nossa oferta tem uma procura sustentada e uma inserção no mercado de trabalho sustentada.
VC: O formato TeSP, que são 4 semestres, engloba, no último, um estágio. Nas licenciaturas, todas têm estágio no terceiro ano, e é por termos estágios nas licenciaturas – o estágio é uma porta aberta para a empregabilidade – que uma percentagem significativa desses alunos fica nas empresas onde estagiou. Julgo que um dos factores que tem ajudado à empregabilidade é precisamente esse: o estágio permite que os alunos contactem com as empresas, que as empresas conheçam os alunos e lhes abram as portas.
Precisamente uma das críticas mais comuns que se fazem ao sistema de ensino superior nacional é a sua falta de ligação à realidade empresarial. Na ESGTS, esse encontro entre a academia e o tecido económico está perfeitamente consolidado?
SC: O ensino politécnico, se fizer bem a sua missão, tem uma natureza eminentemente aplicada. Não deixa de ter a robustez teórica e a solidez do domínio científico a que diz respeito mas é também verdade que responde a problemas concretos. Na ESGTS, essa ligação mantém-se viva, esses alunos, de facto, recorrem à escola quer para seminários, quer mais tarde num segundo ciclo para um curso de mestrado, quer ainda por simples aconselhamento e proximidade que têm com os docentes naquela dúvida ou questão. Coisa diferente, e aí estamos a abordar o problema, é termos bem identificados pontos de contacto com as empresas de tal forma que pudéssemos aqui, dentro da escola, tratar problemas que as empresas querem ver tratados, mas muitas vezes não têm interlocutor ou não têm como colocar aquele problema internamente. Em alguns casos, temos feito aproximações a isso, mas esta problemática precisa de uma abordagem mais desenvolvida.
VC: Uma coisa que acontece com frequência é que ex-alunos que estão a trabalhar em empresas, e quando a empresa precisa de recrutar nos contacta a pedir referências de alunos que acabaram recentemente. Ou seja, olham para a escola como fonte de recrutamento de futuros profissionais para a empresa onde eles trabalham.
O que é que um aluno pode esperar ao ingressar na ESGTS? Quais os aspectos que diferenciam o ensino que é ministrado nesta Escola?
SC: Para o aluno que nos procura, a mensagem fundamental não está tanto na diferenciação, se bem que ela existe, mas é, fundamentalmente, o facto de estar à procura de uma formação de base sólida, que lhe permite, de facto, construir o seu futuro com competências que depois vai empregar na sua vida profissional. A solidez da oferta formativa é um dos pontos-chave da ESGTS. A empregabilidade dos nossos cursos é outro ponto diferenciador, assim como o factor da continuidade dos cursos. Outra questão é a da proximidade com que fazemos o ensino e a vertente aplicada é um elemento diferenciador. Devo dizer que a familiaridade que existe com os professores e com os alunos, as coordenações que fazem e o trabalho de proximidade com as turmas, aquilo que é o trabalho dos nossos coordenadores de estágio na inserção destes alunos em estágio junto das empresas de facto são garantia bastante que justifica a escolha desta escola. Os alunos que nos procuram encontram solidez nesta resposta.
VC: Embora a escola tenha mais de 1200 alunos, há uma proximidade grande entre alunos e professores: em outras escolas há um distanciamento e os alunos ficam um pouco inibidos para falar com os professores. Aqui, isso não acontece. Também sabem que a porta da direcção da escola está sempre aberta. Existe um outro aspecto importante: a relação da escola com entidades terceiras que estão próximas é algo que levamos muito a sério. Veja-se o caso recente da instalação desportiva que não tinha um uso suficiente por parte da comunidade e podámos colocá-la junto da Associação Académica na classe de ginástica desportiva. De forma que hoje usam o nosso pavilhão por acordo. Para nós é um orgulho saber que há 200 jovens que têm um ginásio à disposição com esta pareceria. Isto é cumprir a nossa missão, para além daquilo que fazemos na qualificação profissional e científica, é também o relacionamento na escala desportiva, cultural ou outra com agentes locais. Temos em preparação um segundo acordo, com uma empresa, para virmos a criar um Centro de Desenvolvimento em áreas de software mas aí a principal limitação é a insuficiência de espaço físico. Precisamos de criar as condições que estão a montante para vir a sediar esse centro. Os acordos estão fechados, é preciso encontrar boas soluções para acolher esta estrutura. Isto é verdade noutras escalas, no laboratório de inovação que tem servido para a inovação e desenvolvimento de produto, com o Orbis, ainda no laboratório de redes onde estamos a preparar os cursos e certificações que já referi. Tudo isto significa abrir a escola ao usufruto daqueles que são nossos parceiros e que estão numa escala local e regional.
Como olham para o futuro da escola?
SC: Apesar de operarmos em quadros limitativos, de grandes restrições, há um caminho para a escola crescer, e vai crescer. É esse optimismo que trazemos diariamente para o que fazemos. Mas a escola cresce de muitas formas: com acordos e parcerias, porque usamos instalações de entidades parceiras, porque vamos trabalhamos no reequipamento das nossas instalações. Devo dizer que, na nossa expectativa, algumas parcerias vão ser grandemente importantes: temos expectativa que um curso de segundo ciclo, de mestrado, feito com parceiros do norte da Europa venha a ter a primeira edição, com financiamento da EU, e esse será um momento importante. Significa que, na internacionalização, estamos a fazer um caminho muito sólido.
VC: O que caracteriza a base de uma escola é uma tríade: cursos, alunos e professores. Sem isto, não há uma escola. Os cursos temos sabido como os renovar e adaptar. Encerramos alguns, no passado, porque não tinham procura, tivemos essa coragem. Tivemos a ousadia de lançar cursos que eram inovadores, como o de Negócios Internacionais, e é uma aposta perfeitamente ganha. Os alunos continuam a procurar-nos e temos vindo a crescer. Se tenho conseguido fazer oferta formativa que é sustentada pela procura dos alunos resta-me olhar para os professores. E temos vindo a lançar concursos de admissão de novos professores, temos um concurso encerrado para área de contabilidade, vamos abrir um outro para a área de gestão, vamos abrir para a área de marketing, iremos abrir para informática e para o ensino de línguas: do lado dos professores temos procurado ir renovando o corpo docente. Se pensarmos que há aqui uma “tríade” composta por cursos, alunos e professores, então estou optimista em relação ao futuro da escola. Também estou optimista porque a escola está a desenvolver projectos de investigação. Temos dois a decorrer o “Volto Já” e o “Care for Value”, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Foi um passo importante e vamos continuar nessa senda, de poder ter projectos de investigação financiados pela FCT. Por outro lado, em termos de internacionalização, já submetemos à acreditação da A3ES um ‘Master Mundos’, em pareceria com uma universidade Finlandesa e uma universidade Norueguesa, em que os alunos estudarão em Portugal, na Finlândia e na Noruega. Este curso irá ter financiamento europeu de modo a que os alunos possam ter essa mobilidade. Não é só no programa Erasmus, é também estarmos virados para parecerias com outras universidades, tais como a de Santiago em Cabo Verde e avançar com parcerias internacionais para oferta de formação pós-graduada. Estamos atentos a todas as oportunidades. O próximo passo é captarmos alunos brasileiros. Estivemos no Brasil, nas feiras de divulgação de oferta formativa em Portugal, e penso que o mercado Brasileiro é muito interessante, e se correr bem poderemos ter, a breve trecho, alunos brasileiros a estudar no politécnico de Santarém. Sei que as áreas da gestão e da informática são áreas com mais procura. O futuro da escola está seguramente garantido.