A 1.ª Companhia das Guias de Santarém regressa para mais um ano guidista, com o arranque das suas actividades, já a 20 de Setembro, destinadas a raparigas a partir dos seis anos. As inscrições decorrem durante todo o ano lectivo e podem ser efectuadas por mensagem nas redes sociais da Companhia (Instagram e Facebook), ou aparecendo na sede, nas reuniões, aos sábados, das 10h30 até às 12h30.
Fundada há 54 anos, seguindo a tendência do resto do país, a 1.ª Companhia de Santarém conta, actualmente, com 45 guias, um número que tem vindo a crescer de ano para ano. Tal facto pode ser explicado pela abrangência de todas as religiões por parte da associação, que tem sempre por base quatro pilares: a vida ao ar livre, a vida em patrulha, o compromisso e a progressão.
Ao Correio do Ribatejo, Joana Peres, actual presidente da Companhia, conta-nos a sua trajectória na associação, os momentos mais marcantes e revela-nos os novos projectos em curso.
Qual o papel de uma guia na Companhia?
Nós somos divididas por ramos, ou seja, temos as avezinhas que vão dos 6 aos 10 anos, temos as aventuras dos 10 aos 14, depois temos as caravelas dos 14 aos 17 anos e as guias moinhos, que vão dos 17 aos 19 e a partir dos 19 anos podem integrar, como eu, a chefia da Companhia.
Nós vivemos a partir do método de Baden-Powell, que é o aprender fazendo. Temos quatro pilares: a vida ao ar livre, a vida em patrulha, o compromisso e a progressão.
A progressão de cada guia está baseada nos nossos livros, construídos com o método da pedagogia das idades, que foram formulados por psicólogas e onde cada idade tem os seus níveis de progressão.
Qua actividades têm desenvolvido?
Ao longo do ano, temos reuniões todos os sábados, das 10h30 até às 12h30, e três grandes momentos: o acampamento de Natal, o da Páscoa, que são cinco dias em campo e depois temos o acampamento de Verão, que para mim é o mais importante, porque são sete dias em campo.
Depois temos vários dias importantes, como o Dia Mundial do Pensamento, que é o dia do aniversário de Baden-Powell, do nosso fundador, que celebramos com todas as guias e escuteiros do país.
Mas durante o ano também realizamos outras actividades, como por exemplo ajudar várias associações de voluntariado. Nós estamos sempre presentes na Liga Portuguesa contra o Cancro, no Banco Alimentar e estamos dispostas a ajudar outras associações que queiram e que achem que a presença das guias faz sentido. Já ajudámos a ‘Ajuda de Mãe’, por exemplo, que também foi uma campanha bastante interessante.
Quais são os principais valores que pretendem transmitir?
A capacidade de liderança, a criatividade, o “desenrasque”, o conseguirmos viver ao ar livre, em comunidade, ajudar o outro. Isto é muito importante, há um pilar muito grande das guias que é o serviço. Nós vivemos para servir, ajudamos a servir. As guias podem ser o que elas quiserem connosco e levam bases para a vida inteira.
Considera que o guidismo tem relevância a nível nacional e na região de Santarém?
Considero. Nós o ano passado tivemos um acampamento nacional, que foi em Alcácer do Sal, e que foi bastante importante. Fomos condecoradas pelo Sr. Presidente da República e foi muito giro de se ver tantas guias reunidas do país inteiro.
Aqui em Santarém, nós existimos há 54 anos e queremos crescer. Neste momento somos o dobro do que éramos quando eu integrei a chefia da Companhia. Queremos ser ainda mais e há cada vez mais guias a chegar até nós e a estar interessadas nos nossos princípios e no nosso método e isso é bastante gratificante.
As actividades são construídas por nós, pela chefia da companhia. Nós somos seis, trabalhamos e estudamos. Eu estou a estudar medicina, portanto, tenho pouco tempo livre e o tempo que tenho disponho às guias e é bastante gratificante ver que cada vez mais há jovens, raparigas, mulheres, em Santarém que querem fazer parte deste projecto.
A vossa sede encontra-se actualmente em obras…
É verdade. Nós, durante muitos anos, estivemos no Pátio das Alcáçovas, junto às Portas do Sol, e estamos temporariamente numa mudança desse espaço, para duas salas cedidas pelo município de Santarém na Escola Prática de Cavalaria. Um espaço temporário, sendo que neste momento estamos a aguardar que o município de Santarém nos entregue um definitivo. É um espaço que nós precisamos de ter para crescer, amplo, para as nossas guias poderem construir a sua casa durante aquelas horas de reunião.
Estas obras e a mudança de espaço vão trazer melhores condições para a Companhia?
Tenho a certeza. Porque ainda por cima, sendo um espaço definitivo, é um espaço que as guias podem construí-lo como elas quiserem. Se é um espaço nosso, as guias podem pintar e podem desenhar o seu cantinho, o seu material de patrulha, a sua mesa, as suas cadeiras, toda a envolvência que querem e que acham que é melhor para elas crescerem e para desenvolverem os seus potenciais.
Quando é que integrou a Companhia e como surgiu a oportunidade de se tornar presidente?
Eu ando nas guias desde os meus sete anos. Entrei por convite de uma amiga de turma, fui experimentar e depois gostei muito e fui ficando. Passei por todas as etapas, por avezinha, aventura e caravela. Infelizmente não pude passar por moinho porque a minha patrulha, quando nós tínhamos 17 anos, foi chamada para chefiar a Companhia, porque era uma necessidade.
Como é que consegue conciliar a medicina com a responsabilidade de chefiar a Companhia?
É bastante difícil. Ainda por cima não estudo em Portugal, estudo em Espanha e tento vir aos fins-de-semana. Actualmente, graças a Deus, há videochamadas e conseguimos todas reunir, porque cada uma está num sítio diferente. É bastante difícil, mas conseguimos, entre reuniões online e reuniões presenciais, organizar muito bem o ano guidista e vimos aos fins-de-semana, quando podemos, para dar o melhor às nossas guias. O que nós mais queremos é poder transmitir os valores que nos transmitiram.
Que valores retira das guias para aplicar nos seus estudos em medicina?
O primeiro deles eu acho que é o serviço. O facto de nós vivermos para servir, vivermos para ajudar os outros, faz com que não haja melhor conjunção entre ser médica e andar nas guias.
Eu adoro crianças, tenho uma grande paixão por ajudar a poder educar essas crianças com quem eu trabalho durante o ano. Eu vejo-as crescer. Vou agora ter guias que têm catorze anos e que vieram comigo ao acampamento internacional. Este testemunho que passamos para as guias acho que é bastante importante e é o que eu mais levo na minha vida.
Eu ajudo a aprender, mas eu aprendo também muito com elas, porque tanto uma avezinha, que tem seis anos, me tem coisas para ensinar, como uma guia que tem 16 e esse processo é fenomenal.
Quais foram os momentos mais marcantes até agora na sua jornada?
Tenho vários. De 3 a 9 de Agosto, tive a honra de poder participar no acampamento internacional. As guias caravelas da nossa companhia foram escolhidas a nível nacional para representarem Portugal e o município de Santarém, no acampamento internacional chamado Orbit, na Irlanda, em Dublin. O acampamento contou com cerca de duas mil guias, vindas de diversos sítios, como o Reino Unido, os Estados Unidos, Chipre, Malta, Geórgia, Portugal e foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes e enriquecedores do meu percurso guidista.
Outro grande momento foi quando pude fazer parte do acampamento nacional, com apenas sete anos. Vivi sete dias em Braga, fora do colo dos meus pais e consegui ultrapassar esse grande desafio.
E o terceiro momento foi quando a minha patrulha passou para a chefia de Santarém, com apenas 17 anos. Começámos a liderar esta Companhia e isso é tão marcante pelo facto de termos vindo a crescer e pelo facto de termos, neste momento, o dobro de guias que tínhamos há seis anos. É a parte mais gratificante do nosso trabalho.
Sente que se tornou uma mulher mais forte desde que assumiu este papel de liderança?
Tenho a certeza. Com as guias, desenvolvi as minhas capacidades de criatividade, de liderança, de autonomia, de confiança, de espírito de equipa, de pontualidade, de brio na farda que é bastante importante.
Eu sei muito melhor o que é trabalhar em equipa, liderá-la, viver ao ar livre. Não é todos os dias e em todos os sítios, que se pode construir uma casa durante sete dias, do nada. Nós chegamos a um campo e não temos nada. Temos apenas relva e árvores e, de repente, estamos sete dias em campo a viver numa tenda, com mesas construídas por nós, espacinhos de higiene construídos por nós, despensas, frigoríficos e isso é muito giro de se ver.
Que projectos pretendem continuar a desenvolver para atrair cada vez mais jovens?
No próximo dia 18 de Outubro vamos ter uma noite de fados, constituída por fadistas de Santarém bastante importantes e deixo o convite a todos para estarem presentes. Será no clube, ao pé da igreja do Milagre.
No dia 20 de Setembro vamos ter o início do nosso ano guidista. Ainda não temos um sítio definitivo, mas convido todas as jovens raparigas, que tenham mais de seis anos, a juntarem-se a nós. Vai ser um dia inteiro, a viverem e a experienciarem este dia connosco.
Iremos ter também o nosso jantar de Natal. Todos os anos costumamos organizá-lo para celebrar e promover o guidismo, com as pessoas que queiram participar, mas também como forma de agradecimento aos nossos guias que estão connosco todo o ano.
Que expectativas tem para o início de um novo ano?
Estou bastante expectante com tudo o que vai acontecer este ano. Estamos todas bastante entusiasmadas com esta mudança de sede.
Para além disso, também estamos expectantes com o Conselho Nacional, que é uma reunião entre todas as chefes de Portugal, na ilha da Madeira no próximo dia 15 de Março. Este também é um momento marcante para nós.
“O melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros”, disse Baden Powell. Acredita que as guias de Santarém o têm conseguido?
Acredito muito. Nós, nas guias, temos o método de aprender fazendo e eu acho que as nossas guias vêem em nós, chefes, uns exemplos a seguir. Acho que temos feito um trabalho excepcional em Santarém e queremos continuar a fazer.
Nós tentamos sempre transmitir o melhor que sabemos, esses quatro princípios, às nossas guias e através do método de Baden Powell, poder ensinar e poder desenvolver inúmeros projectos com elas e esperar que sejam felizes. RP