Entre os dias 7 e 9 de junho, foram observadas crias de zarro-comum (Aythya ferina) acompanhadas pelos progenitores na ETAR de Almeirim/Alpiarça, uma espécie com estatuto reprodutor ameaçado, em Portugal.

As crias foram detetadas pelo observador Filipe Galante, membro da Associação dos Amigos da Natureza de Alpiarça, uma associação que tem vindo a desenvolver atividades que promovem a proteção e divulgação do património natural do concelho.

Fêmea de Tadorna ou Pato-branco (Tadorna tadorna) a acompanhar crias, na Etar de Almeirim/Alpiarça (07-06-2024). Foto: Filipe Galante
Fêmea de Tadorna ou Pato-branco (Tadorna tadorna) a acompanhar crias, na Etar de Almeirim/Alpiarça (07-06-2024). Foto: Filipe Galante

O zarro-comum (Aythya ferina) é uma espécie principalmente invernante em Portugal, sendo até localmente comum nessa época. No entanto, como ave reprodutora, é muito rara, estando essa pequena população classificada como “em perigo (EN)” pela Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental 2022. Segundo o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, existem apenas entre 30 e 100 casais que escolhem o nosso país para fazerem os seus ninhos. 

A estação de tratamento de águas residuais de Almeirim/Alpiarça (pertencente à “Águas do Ribatejo”) é uma zona húmida artificial que está situada no concelho de Alpiarça, próximo da Reserva Natural local do Paul da Gouxa. É paragem muito importante para diversas espécies de aves nas suas migrações, e local preferencial para a nidificação de outras. É um dos melhores locais para observar aves no Concelho de Alpiarça e, além do zarro-comum, já foram vistas por lá mais 58 espécies aquáticas. 

Uma dessas espécies é a Tadorna (Tadorna tadorna), também conhecida como Pato-branco. Esta espécie encontra-se associada a zonas húmidas do litoral e é, raramente, observada no interior. No entanto, um casal escolheu a ETAR de Almeirim/Alpiarça para se reproduzir durante esta Primavera, o que é pouco frequente dada a localização geográfica deste local. Esta espécie possui estatuto reprodutor classificado como “Quase ameaçado”. Porém, a população desta espécie, em Portugal, parece estar a aumentar, segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental 2022 e o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal.

Fêmea de Zarro-comum (Aythya ferina) a acompanhar crias, na Etar de Almeirim/Alpiarça (09-06-2024). Foto: Filipe Galante
Fêmea de Zarro-comum (Aythya ferina) a acompanhar crias, na Etar de Almeirim/Alpiarça (09-06-2024). Foto: Filipe Galante

Mas que condições tem esta estação de tratamento para albergar tanta diversidade e quantidade de espécies? Trata-se de um local sossegado, sem acesso ao cidadão comum, o que é determinante para a escolha do local da nidificação. Acresce o facto de não terem ocorrido cortes de vegetação nos “combros”, pelo que se criaram as condições ideais para as aves se poderem esconder e construir os seus ninhos. Por fim, é importante referir que é um local bem posicionado geograficamente, nas imediações de diversas reservas naturais muito importantes para avifauna, como a Reserva Natural do Paul do Boquilobo ou o Estuário do Tejo.

Apesar de, na maioria dos casos, a atividade humana prejudicar o meio ambiente, há exemplos onde isso não se verifica, como o caso desta ETAR. Por vezes, onde menos esperamos, há ecossistemas extremamente complexos com grande diversidade e importância para os seres vivos. Devemos, sobretudo, protegê-los, pois correspondem, em alguns dos casos, a pilares importantes na sobrevivência de espécies ameaçadas. É importante que os gestores destes espaços mantenham as condições para que estas aves os possam utilizar nas diversas fases do seu ciclo de vida.

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