A investigadora Romina Henriques, natural de Almeirim e docente na Universidade de Pretória, recebeu em 2025 o UP Exceptional Young Achiever Award, distinção que reconhece jovens cientistas pelo contributo para o avanço da investigação. Especialista em biologia marinha e evolução de peixes, conduz estudos sobre a forma como as espécies se adaptam às alterações ambientais num dos maiores “laboratórios naturais” do mundo: a confluência de correntes oceânicas da costa sul-africana.
O que significou para si receber o UP Exceptional Young Achiever Award 2025 e de que forma este reconhecimento valoriza o trabalho que tem vindo a desenvolver na área da biologia marinha?
Este Prémio, atribuído pela Universidade de Pretória a investigadores que recentemente começaram a trabalhar nessa Universidade, tem como objectivo distinguir e reconhecer o trabalho científico por eles desenvolvido. Para mim significou um reconhecimento não só do meu trabalho, mas também do esforço do meu grupo para desenvolver uma linha de investigação que não estava presente na Universidade até então: genómica populacional de espécies marinhas num contexto de alterações climáticas. O grupo de 14 elementos conta com uma diversidade de membros: investigadores pós-doutorais e alunos de doutoramento, mestrado e estágio.
O seu percurso académico e científico levou-a de Almeirim até à Universidade de Pretória. Como se constroi uma carreira científica fora de Portugal e que desafios e oportunidades tem encontrado na África do Sul?
Com muita perseverança, paciência e apoio de família, amigos e colaboradores. Construir uma carreira académica e científica é cada vez mais difícil, dado o desinvestimento crescente em ciência. A África do Sul, apesar de todos os seus problemas, é um dos poucos locais que ainda tem um forte investimento em ciências naturais, uma vez que há um reconhecimento das vantagens socioeconómicas em preservar biodiversidade e recursos naturais. Acresce a isso, a sua posição geográfica que a torna num laboratório natural para investigar processo de evolução, não só no contexto marinho, mas também terrestre.
A sua investigação centra-se na forma como as espécies marinhas se adaptam às alterações ambientais. Que descobertas mais relevantes têm resultado do seu trabalho e que impacto podem ter na compreensão das mudanças climáticas globais?
As alterações climáticas estão a contribuir para uma redistribuição de biodiversidade de forma acelerada. Espécies que usualmente se encontram nas regiões temperadas tendem a deslocar-se para os pólos (ou em altitude/profundidade) para continuarem nos ambientes que lhes são favoráveis. Mas este movimento não é uniforme dentro de uma espécie. Existem indivíduos que estarão melhor adaptados no novo ambiente, enquanto outros irão desaparecer. Neste momento, o meu trabalho foca-se em perceber quantas populações de peixes marinhos existem e se exibem adaptações específicas a condições ambientais (por exemplo, temperatura e salinidade); também procuramos perceber como essa informação pode ser usada para modelar deslocações à medida que o ambiente marinho muda. Nalguns casos, estamos a perceber que as expansões para os polos não resultam necessariamente de deslocações de populações temperadas, mas sim da expansão de pequenas populações locais. Dado o meu foco no uso sustentável de recursos marinhos, este tipo de conhecimento pode ajudar a estabelecer políticas de gestão que serão mais resilientes às alterações climáticas.
A ciência exige persistência e curiosidade constantes. O que a motiva diariamente a continuar a investigar e quais os temas que considera mais urgentes para o futuro da biologia marinha?
Há um sentido de urgência nas ciências biológicas e da biodiversidade: urge compreender as várias consequências que as alterações climáticas terão não apenas nos ecossistemas, mas também nos recursos socioeconómicos, como as pescas. As pescas continuam a ser uma das formas mais importantes de acesso a proteína (vital pra a humanidade) e a sua gestão é complexa e difícil. Quanto mais conhecimento pudermos gerar para ajudar a estabelecer políticas de gestão resilientes e sustentáveis, melhor.
A ciência é como um jogo: de cada vez que respondemos a uma pergunta, aparecem mais cinco. É necessário gostar de viver no limite do conhecimento (e saber lidar com a frustração).
Mantém uma ligação próxima a Portugal e, em particular, a Almeirim? De que modo as suas origens influenciaram o seu percurso e a forma como encara a ciência e a vida?
Sempre. Os meus pais e amigos continuam em Almeirim, a maior parte da minha família continua em Portugal. Volto com frequência e saio com saudade (como qualquer emigrante). Foi a minha professora de ciências e biologia da escola secundária da Marquesa de Alorna, Professora Cristina Heitor, que fomentou a minha curiosidade por Biologia. E Almeirim tem uma certa maneira de ver a vida que ajuda bastante a lidar com as vicissitudes de uma vida na ciência.
Um título para o livro da sua vida?
Ui! Demasiados livros da minha vida. Não dá para escolher.
Viagem?
Sul de Angola 2008: primeira viagem de trabalho de campo do meu Doutoramento.
Quais os seus hobbies preferidos?
Ler, nadar, viajar, caminhar.
Se pudesse alterar um facto da História, qual escolheria?
A não reeleição de Jimmy Carter nos EUA nos anos 70s. Perdemos um apoiante forte das questões ambientais.
Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Documentário sobre vida animal.
O que mais aprecia nas pessoas?
Honestidade.
O que mais detesta nelas?
Hipocrisia.
