João Vieira, 43 anos de idade, sagrou-se recentemente vice-campeão mundial dos 50 kms marcha nos campeonatos mundiais de Doha, Qatar. É natural de Portimão, mas vive em Rio Maior desde os dois anos de idade, cidade que já o viu conquistar 54 títulos de campeão de Portugal, vários recordes nacionais nas distâncias 10, 20 e 50 kms Marcha, uma medalha de bronze nos 20 kms no Europeu de Gotemburgo em 2006 e a medalha de prata nos 20 kms no Europeu de Barcelona, em 2010. O Correio do Ribatejo foi conhecer um pouco melhor o atleta que representa o Sporting Clube de Portugal desde 2010.

Como consegue vencer uma medalha de prata nos 50 kms marcha aos 43 anos e obter o melhor resultado de sempre? A conquista da medalha de prata aos 43 anos deve-se principalmente ao muito trabalho, profissionalismo e resiliência da minha parte em ano após ano, continuar a traçar objectivos e a obter o melhor resultado. Toda esta conquista deve-se a um planeamento traçado para esta competição com a ajuda da minha treinadora, do meu psicólogo, de um fisiologista de esforço para o processo de aclimatação, fisioterapeutas e massagistas.

O que se sente quando se corta uma meta? No fim de cortar a meta sinto-me satisfeito por ter concluído a competição e a conquista de uma medalha é a realização de qualquer atleta. Para mim, principalmente, com 43 anos, é uma alegria enorme e para as pessoas que trabalham comigo.

Que objectivos tem daqui para a frente na modalidade? Os objectivos passam por preparar os Jogos Olímpicos no próximo ano e toda a época desportiva que tenho pela frente, vários campeonatos de Portugal, Campeonato do Mundo de Marcha de Nações e outras competições.

Gostaria de terminar a carreira nos próximos Jogos Olímpicos? Neste momento, não penso terminar a minha carreira desportiva nos próximos Jogos Olímpicos. Eu e a minha treinadora já definimos, se não acontecer nenhum percalço, queremos ir até ao Mundial de 2021.

Como se prepara uma competição deste nível? Uma competição deste nível prepara-se com planeamento. Por vezes passamos vários meses fora de casa em estágios, em altitude, ao nível do mar e para esta competição fizemos um planeamento de aclimatação na Universidade de Coimbra dentro de uma sala térmica, e treinos nocturnos para adaptação ao horário da competição.

Como é o dia de um atleta de alta competição? Um dia de um atleta de alta competição, passa por treinarmos de manhã, almoçamos e dormimos uma sesta. À tarde efectuamos fisioterapia ou recuperação e voltamos a treinar ao final da tarde e por norma deitamo-nos cedo.

Como surge o atletismo na sua vida e porquê a Marcha? O atletismo surge por volta dos 11 anos de idade, a convite do treinador do Clube de Natação de Rio Maior, clube que representei durante 23 anos até ingressar no Sporting Clube de Portugal. Tudo nasce de um sonho a partir do momento que Carlos Lopes conquista a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984. A marcha atlética surge quando o distrito de Santarém necessitava de um marchador para representar o distrito na competição do “DN Jovem”, e eu e o meu irmão disputámos ambos esse lugar, e nesse momento começámos os dois a fazer treinos de marcha e competições.

Quais foram os melhores e os piores momentos que teve neste mundo do atletismo? Os melhores momentos foram todos aqueles em que conquistei medalhas para o meu país e o pior momento foi nos Jogos Olímpicos de Sydney, no ano 2000, por não poder competir por estar doente.

Já competiu várias vezes a nível nacional e internacional. Qual foi o momento que mais o marcou? Certamente esta medalha de prata no Mundial de Doha vai ficar para sempre na minha memória pela forma como a conquistei, pela dureza da competição e pela forma como me preparei para esta competição.

Tem um irmão gémeo, o Sérgio Vieira, que também competiu na mesma modalidade. Como é que se vive uma relação com um irmão que foi ao mesmo tempo rival? A rivalidade com o meu irmão teve fases diferentes ao longo da nossa carreira desportiva. A primeira foi aquela em que éramos companheiros de treino e de competições, onde repartimos as vitórias. A segunda fase, pelos clubes que representamos: eu o Sporting e ele o Benfica, e onde eu queria conquistar todas as competições. Neste momento, não existe rivalidade entre nós.

É treinado pela mulher com quem é casado. Como se vive uma relação a este nível? A nossa relação é saudável, fruto da qual temos uma filha de 18 meses. Respiramos os dois atletismo, queremos ter sucesso, ela entende o que é ser atleta de alto rendimento e conhece-me muito bem e por isso sabe o que preciso na minha caminhada para o sucesso.

Apesar de ter nascido no Algarve, vive em Rio Maior desde os dois anos de idade e foi recentemente agraciado com a Medalha de Honra do Município. Que importância tem para si esta homenagem? Para mim é um orgulho receber a Medalha de Honra do Município de Rio Maior, depois de todas as medalhas conquistadas para o meu país, sendo eu atleta de Rio Maior.

Considera que Rio Maior tem as melhores condições para os atletas? A cidade de Rio Maior tem boas condições de treino, tem as instalações todas concentradas e algumas instalações de nível elevado, agora há que manter esse nível e isso passa pela sua manutenção.

Que conselhos dá a quem quer seguir a carreira de atleta de alta competição? Os conselhos são simples: passam pelo atleta e o seu treinador traçarem um plano a longo prazo e objectivos e nunca se desviarem desse planeamento.

Leia também...

“No Reino Unido consegui em três anos o que não consegui em Portugal em 20”

João Hipólito é enfermeiro há quase três décadas, duas delas foram passadas…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…

O Homem antes do Herói: “uma pessoa alegre, bem-disposta, franca e com um enorme sentido de humor”

Natércia recorda Fernando Salgueiro Maia.

“É suposto querermos voltar para Portugal para vivermos assim?”

Nídia Pereira, 27 anos, natural de Alpiarça, é designer gráfica há seis…