Há uns meses descobri um fado fantástico, magistralmente cantado pelo Camané, por sugestão de um amigo. A música é de Alain Oulman e a letra de Manuela de Freitas. Trata-se de um fado do álbum “Infinito Presente” e o fado tem simplesmente o nome “A Correr”.

Deixo-vos a letra:

“Corre a gente decidida
P’ra ter a vida que querem
Sem repararmos que a vida
Passa por nós a correr

Às vezes até esquecemos
Nessa louca correria
Por que motivo corremos
E para onde se corria

Buscando novos sabores
Corre-se atrás de petiscos
Quem corre atrás de valores
Corre sempre grandes riscos

E dá pra ser escorraçado
Correr de forma diferentre
Há quem seja acorrentado
Por correr contra-corrente

Num constante corropio
Já nem sequer nos ocorre
Que a correr até o rio
Chegando ao mar também morre

Ou atrás do prejuízo
Vou à frente da ameaça
Corremos sem ser preciso
E a correr a vida passa

Percorrendo o seu caminho
Correndo atrás do sentido
Há quem dance o corridinho
Eu canto o fado corrido
E o que me ocorre agora
Pra não correr qualquer perigo
É correr daqui pra fora
Antes que corram comigo

Vou correr daqui pra fora
Antes que corram comigo”

Esta sugestão musical veio a propósito da forma como vivemos os nossos dias, sempre a correr e porque naquele momento, eu e esse meu amigo, tínhamos perdido, do mundo dos vivos, dois amigos. Quando este infortúnio invade as nossas vidas, falecimento de familiar, de amigo, doença de alguém que nos é querido, temos uma tendência natural para refletir sobre as nossas vidas, as nossas correrias, as nossas agitações, as nossas preocupações e fazemos um esforço para acalmar o ritmo.

Infelizmente, no meu caso e julgo que da larga maioria das pessoas, esses tempos de alguma calmaria duram pouco e rapidamente voltamos ao rebuliço dos dias.
Nesta altura do ano, no Natal, e com o apelo consumista em que a nossa sociedade vive e se inebria, a correria é generalizada, estonteante e alucinante.

E esquecemos muitas vezes aquele que deveria ser o grande presente que a quadra nos oferece: festejar a vida, celebrar em família, com amigos e aqueles de quem gostamos, e sentir tão simplesmente as melodias, o paladar da comida, os aromas do que bebemos, os cheiros característicos e sabores do Natal.

Celebrar o amor da vida e daqueles de quem gostamos.
E aproveitar sem ser “a correr”…
Feliz Natal!

Inato ou Adquirido – Ricardo Segurado

Leia também...

Isabel de Aragão, rainha de Portugal, Rainha Santa Isabel

No reino de Aragão nasceu no século XIII uma princesa que viria…

‘Apreensivo!’, por Pedro J. E. Santos

Imagine-se, caro leitor, sentado calmamente num barco em águas calmas e, de…

Correio do Ribatejo – 129 Anos: “Todos temos de fazer a nossa parte e a vossa é feita!”

Até há pouco tempo, o mundo global, estava formatado nas nossas percepções…

Opinião: O Cemitério, o Crematório, as Salas Mortuárias

“Vale de Ossos”, nem de propósito, assim se chamava a propriedade adquirida,…