O escritor Telmo Mendes, residente em Constância, lançou recentemente o livro “Antes que a Luz Apague a Escuridão”, a sua segunda obra e o seu primeiro romance. Iniciou a sua carreira a escrever canções, até perceber que as histórias que o habitavam não cabiam na cercadura dos sons. Em 2015, criou a página “Pelo Peito Adentro”, hoje com aproximadamente 60 mil seguidores. O acolhimento e a identificação dos leitores com a sua prosa, impeliram-no, ainda no mesmo ano, a lançar o livro homólogo.

Lançou o livro “Antes que a Luz apague a Escuridão”. Com que objectivo decidiu editar esta obra e porquê um romance?
Sou declaradamente apaixonado por escrever e é algo que faço com emoção sincera. Porém, após ter lançado em 2015 o meu primeiro livro, admito ter sentido uma profunda agitação interior para fazer algo mais amplo. O direccionar-me para o romance, surgiu naturalmente. Comecei a explorar outras liberdades criativas. O facto de narrar histórias com personagens, em sucessão temporal, com lugares ficcionados e escrever em prosa poética, instalam o “Antes que a luz apague a escuridão” nesse género literário.

O que o inspirou e o que é que retrata o livro?
Inspirou-me uma certa candura do Portugal antigo. O deslumbre do mar e da terra. E depois a retratação do que nos é íntimo e muitas vezes intransmissível. A fragilidade perante a idade, a beleza das coisas simples, o afecto, as origens. O momento em que passamos a ter mais passado que futuro. “Antes que a luz apague a escuridão” é inevitavelmente uma viagem ao amor, em todas as suas formas, mas também à solidão, à morte, ao álcool, à generosidade, à infância e à resiliência.
A acção desenrola-se em torno de uma vila instalada à beira-mar, habitada por gente solitária, marinheiros, padres, músicos, mulheres desamparadas, crianças que buscam fixar o mundo dos adultos, e amantes que, aos poucos, recomeçam ou desistem. No fundo, gente como nós, figuras comuns e imperfeitas que, pelas circunstâncias do coração, ocasionalmente se entrelaçam arriscando a felicidade.

O que representa para si a escrita?
O meu propósito. A ferramenta perfeita para encontrar respostas e alongar o pensamento. Serve-me para atingir a claridade e a poesia dos homens.

Em que altura da sua vida descobriu essa vocação?
Senti o chamamento criativo aos 13/14 anos. Ofereceram-me uma guitarra e comecei a escrever as minhas próprias canções. Mais crescido, percebi que o que pretendia contar não cabia na cercadura dos sons. Mas o facto de começar a escrever através da música foi-me fundamental.

Como é o seu processo criativo?
Começo sempre pela observação. A tal busca dos afectos e da poesia nos gestos mais simples das pessoas. Anoto tudo em blocos de folhas, telefone, guardanapos. E depois exploro essa ideias, moldo-as, escuto a voz a chegar à mão, vou-me aproximando do fascínio.

Tem algum tema predominante que queria transmitir na sua escrita?
A ternura e a vulnerabilidade são predominantes no que escrevo.

Que livros é que o influenciaram como escritor?
Ainda muito novo, “O Velho e o Mar”, “Diário de Anne Frank”, o “Lobo do Mar” e “O Perfume”. Pelos 18 anos comecei a interessar-me por Pessoa, Saramago, Herberto Hélder, Agustina…

Tem outros projectos em carteira que gostaria de dar à estampa?
Neste momento estou já a trabalhar no meu próximo livro. Também um romance. Deixei de saber afastar-me da escrita e sinto a ansiedade de criar e buscar coisas mais dentro.

Um título para o livro da sua vida?
“Um chão onde Começar”

Viagem?
Tenho tido privilégio de, ao longo da minha vida, conseguir viajar. Mas escrever o “Antes que a luz apague a escuridão” foi até hoje a mais bela e gratificante de todas.

Música?
O silêncio! O inicio e o fim de todas as músicas. A mais perfeita forma de música.

Quais os seus hobbies preferidos?
Conviver com a realidade a espaços! Jogar pool (bola 8), ler, estar com amigos, esplanar enquanto tiro notas.

Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?
Daria a pílula do dia seguinte à mãe do Putin.

Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Uma comédia dramática talvez. Um filme que me obrigasse à queda e ao recomeço. A sorrir com as pedras no caminho.

O que mais aprecia nas pessoas?
A extraordinária capacidade de se transcenderem quando é necessário ajudar. A bondade genuína.

O que mais detesta nelas?
O egoísmo, a falta de respeito e de valores. Lobos com pele de cordeiro.

Acordo ortográfico. Sim ou não?
Sim, porém… não exageremos. Acordo ortográfico é uma coisa, trapalhada ortográfica é outra. Deve ser aperfeiçoado porque “para” não é “pára”, “facto” não é “fato” e quando digo que passo horas a olhar para o “teto”, o que quero mesmo dizer é olhar para o “tecto”.

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