Com 43 anos de serviço público e duas décadas dedicadas à Assembleia Municipal de Almeirim, Rui Louraço é um dos rostos mais discretos, mas essenciais, da comunicação institucional no concelho. Recentemente distinguido com um Voto de Louvor, reconhecido pela competência, integridade e sentido de missão, partilha nesta entrevista o que o move: o serviço público, o amor por Almeirim e uma paixão antiga pela fotografia, onde cada imagem é um acto de pertença.
Recebeu recentemente um voto de louvor da Assembleia Municipal de Almeirim, uma distinção rara e muito significativa. Que significado pessoal e profissional atribui a este reconhecimento?
Foi um momento profundamente marcante, talvez um dos mais simbólicos da minha vida profissional. Depois de mais de 43 anos de serviço público e duas décadas de dedicação à Assembleia Municipal de Almeirim, este voto de louvor representa muito mais do que uma distinção institucional, é um gesto humano, de reconhecimento e afecto, vindo de um órgão e de pessoas com quem partilhei tantos anos de trabalho, de desafios e de cumplicidades.
Senti-o como uma homenagem não apenas ao meu percurso, mas também a todos os que acreditam no valor do serviço público como missão. É um gesto que me tocou de forma muito pessoal, porque vem de uma casa que considero minha, e de uma comunidade à qual sempre procurei servir com lealdade, dedicação e respeito.
Tem estado ligado há vários anos à comunicação do Município de Almeirim. Que balanço faz desse percurso e quais considera ter sido os momentos mais marcantes deste trajecto?
O balanço só pode ser profundamente positivo. Iniciei funções na autarquia em 1983 e, desde então, vivi de perto a evolução do Município e das suas gentes. Passei por várias carreiras e funções, desde operário a técnico superior, sempre com o mesmo espírito de entrega e de aprendizagem constante. Cada etapa trouxe novos desafios e responsabilidades, mas também uma enorme satisfação pessoal.
Os últimos 20 anos dedicados à Assembleia Municipal foram, sem dúvida, um tempo de grande crescimento. Acompanhei de perto o funcionamento de um órgão essencial da democracia local, aprendi a valorizar o diálogo, a escuta e o equilíbrio que a comunicação exige neste contexto. Momentos marcantes foram muitos, desde a modernização da imagem institucional até à construção de uma relação de confiança com todos os eleitos e com o público. O reconhecimento deste percurso, através do voto de louvor, é a prova de que valeu a pena cada dia de dedicação.
A comunicação institucional em contexto autárquico exige equilíbrio entre rigor, sensibilidade e sentido de missão. Quais têm sido os maiores desafios que encontrou ao longo do tempo?
A comunicação pública é, talvez, uma das áreas mais desafiantes do serviço autárquico, porque exige estar sempre entre dois mundos: o da proximidade humana e o da responsabilidade institucional. O maior desafio tem sido precisamente esse, conseguir traduzir, com clareza e empatia, aquilo que a autarquia faz em nome das pessoas, sem nunca perder o rigor, a verdade e o respeito pelos princípios do serviço público.
Foram muitos anos de adaptação, de evolução tecnológica e de transformação social. Hoje, comunicar já não é apenas informar, é criar ligação, é gerar confiança, é dar rosto e voz àquilo que o Município constrói diariamente. E é essa missão que me tem guiado ao longo destes 43 anos de serviço público, 20 dos quais dedicados à Assembleia Municipal de Almeirim. Esse percurso só foi possível com o apoio e o respeito de todos os que comigo têm partilhado esta caminhada.
Além da vertente institucional, tem desenvolvido trabalhos de fotografia e vídeo que revelam uma dimensão artística e pessoal. O que o inspira quando está atrás da câmara?
A fotografia e o vídeo são, para mim, uma extensão natural daquilo que sempre procurei fazer: observar, registar e comunicar. Quando estou atrás da câmara, não vejo apenas imagens, vejo histórias, pessoas, gestos e emoções. Cada enquadramento é uma forma de eternizar o que muitas vezes passa despercebido no quotidiano.
A inspiração vem, quase sempre, das pessoas. Do olhar de quem participa, da emoção de um momento simples, da luz de uma tarde sobre Almeirim. É através da imagem que consigo juntar o meu lado profissional ao pessoal, o técnico de comunicação e o homem que ama a sua terra e as suas gentes. E talvez por isso, mesmo nos trabalhos mais artísticos, exista sempre um fio invisível que liga tudo ao mesmo propósito: valorizar a comunidade a que pertenço.
Depois de tantos anos dedicados à comunicação pública, que projectos ou ambições tem para o futuro?
Mais do que projectos, o que me move agora é a vontade de continuar a servir, com a mesma paixão e sentido de dever que sempre me acompanharam. Este voto de louvor que recebi da Assembleia Municipal de Almeirim, aprovado por unanimidade, representa para mim não apenas o reconhecimento de um percurso profissional, mas também um gesto de profunda humanidade. É a confirmação de que valeu a pena cada hora, cada esforço e cada desafio superado ao longo destes 43 anos.
No futuro, espero poder continuar a partilhar experiência, apoiar quem chega, e deixar, de alguma forma, um legado positivo, de rigor, de respeito e de amor pelo serviço público. Se conseguir inspirar alguém a seguir este caminho com a mesma dedicação, sentirei que cumpri a minha missão.
Um título para o livro da sua vida?
A Terra Que Me Pensa – A Imagem Inspirada em Almeirim.
Seria um livro sobre pertença, sobre o modo como Almeirim se tornou muito mais do que o meu local de trabalho: é o território onde construí a minha vida, a minha ética e o meu olhar sobre o mundo. Acredito que Almeirim é uma entidade viva, que pensa e inspira quem nela vive. A fotografia e o vídeo foram, para mim, formas de eternizar esse vínculo, retratando rostos, tradições e quotidianos que formam a alma desta terra. Porque, no fundo, o país começa onde a terra é amada.
Viagem de sonho?
Visitar exaustivamente o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, para observar as suas transformações diárias, sentir a vida selvagem e mergulhar nos sons, cheiros e cores de uma biosfera única que se estende por Wyoming, Montana e Idaho.
Mas também a Escócia, com os seus castelos, lendas e paisagens envoltas em neblina, talvez inspirada pelas leituras da Trilogia Irmãos McCabe, de Maya Banks, passada nas Terras Altas. Dois destinos em continentes opostos, mas com o mesmo fascínio pela natureza e pela força da história.
Música preferida?
“Hotel California” – Eagles.
É também a música preferida da minha filha, embora as suas escolhas passem mais por Taylor Swift ou Harry Styles. Essa partilha musical entre gerações cria uma ponte curiosa entre o clássico e o contemporâneo e, é bonito ver como a música continua a ser um elo afectivo entre pais e filhos.