Em 2004, a Universidade da Terceira Idade de Santarém (UTIS) nasce na sequência de um estágio curricular de uma aluna da Escola Superior de Educação de Santarém, realizado no Centro Social da Freguesia de Moçarria. Maria António Lourenço integra a Divisão de Acção Social e Saúde da Câmara Municipal de Santarém, e foi no exercício das suas funções que esteve ligada à criação da UTIS.
Como nasceu esta Universidade? A UTIS nasce na sequência de um estágio curricular de uma aluna da Escola Superior de Educação de Santarém, realizado no Centro Social da Freguesia de Moçarria. A directora técnica da altura era a orientadora de estágio. Para garantir a viabilidade do projecto foi criado um grupo de trabalho composto pela Câmara Municipal de Santarém, Junta de Freguesia de Marvila, Santa Casa da Misericórdia de Santarém e pelo Centro Social da Freguesia de Moçarria que mais tarde viria a desistir da parceria, já que a direcção da altura não chegou a assinar o protocolo. Recordo-me que no primeiro regulamento, a admissão à UTIS era feita a partir dos 55 anos. Mais tarde, com a alteração desse regulamento, foi considerado os 50 anos. Aquando da criação da UTIS já existiam, a nível nacional, 33 Universidades e Academias Seniores. A UTIS iniciou a sua actividade em Março (Ano Lectivo 2003/2004) com 11 disciplinas, 18 professores e 43 alunos. No Ano Lectivo 2004/2005 matricularam-se 110 alunos, existiam 20 disciplinas e 41 professores. Acompanhámos o estágio curricular de uma aluna que se propôs criar uma Universidade da Terceira Idade. Foi criado um grupo de trabalho composto pela Câmara de Santarém, onde eu estava, a Santa Casa da Misericórdia de Santarém, com a Irmã Aracely, a então Junta de Freguesia de Marvila, com o presidente Mário Santos, e o Centro de Bem-Estar Social da Freguesia da Moçarria, com a directora técnica da altura, entidade que abandonou esta parceria por razões logísticas.
Nos primeiros meses, quais foram as principais dificuldades encontradas na implementação da Universidade? Primeiro, as questões logísticas, nomeadamente o espaço, porque precisávamos de salas de aula, de um espaço que pudesse responder às exigências que não eram muitas, reconheço. As primeiras salas foram no Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Depois, outra dificuldade foi arranjar professores. Quando os projectos estão implementados, funcionam, têm visibilidade, são apetecíveis, as pessoas sentem-se atraídas, no entanto, como era a primeira experiência, tivemos pela frente esse trabalho de angariação. Conseguiu-se uma bolsa, ainda pequena, de professores que foi aumentando ao longo dos anos, mas suficiente para a quantidade de alunos que tínhamos, não éramos 400 como hoje, éramos 43.
O que a motivou a ligar-se a este projecto? Já tinha contactado outras universidades e já me tinha apercebido do potencial destes projectos, porque são respostas fora da caixa no sentido de que não são aquelas respostas tipificadas como as de um centro de dia, ou de um centro de convívio. Era um projecto com grande potencial e fiz tudo o que era possível para que avançasse, com a cooperação e o alvará das nossas entidades patronais, no meu caso a Câmara Municipal de Santarém, que sempre abraçou o projecto e quis que o mesmo se desenvolvesse, assim como a Junta de Marvila e a Santa Casa.
Houve algum indicador que motivasse o surgimento da Universidade Sénior em Santarém? A população do Concelho de Santarém tem uma tendência de envelhecimento que acompanha a tendência nacional. Na altura, os perfiss das pessoas com mais idade eram diferentes dos de hoje. Hoje, a diversidade desta população é imensa e, portanto, as respostas que temos de ter também têm de ser diversificadas para satisfazerem os diferentes perfis. Este projecto veio de encontro a um perfil de pessoas com mais idade que necessitava de uma resposta como esta.
E porquê a partir dos 50 anos? Isso foi uma decisão política da altura, quando se alterou o regulamento. Achou-se que poderíamos partir dos 50 anos porque havia pessoas que poderiam querer participar, por terem alguma disponibilidade. Lembro-me que houve uma série de pessoas reformadas muito cedo, nomeadamente, vindas de entidades bancárias e para possibilitar o acesso das pessoas domésticas. Isto deu-nos a percepção de que podíamos receber alunos a partir dos 50 anos. Como se trata de um projecto inclusivo, de cultura, de estimulação, de ocupação, também fazia sentido quem tivesse menos idade e o quisesse integrar que o pudesse fazer, porque também é um projecto intergeracional. Não são só pessoas com mais idade que aqui estão, a começar pelos próprios professores, são pessoas ainda jovens que vêm e que querem leccionar na UTIS. Isto não é só um projecto de idoso para idoso, pessoa mais velha para pessoa mais velha. O convívio entre os mais novos e os mais velhos também aqui se faz.
Vendo a grandeza que a UTIS tem hoje, sente que o seu esforço valeu a pena? Sim, foi importante estas pessoas terem aderido, porque por vezes não há facilidade em aderir a coisas novas. No meu caso, já conhecia uma Universidade de Terceira Idade. Aqui foi uma “bola de neve”, uns chamavam outros e o grupo foi aumentando. A UTIS ter este elevado número de alunos podia ser apenas um indicador numérico, mas é igualmente um indicador em termos de qualidade do serviço que se presta e da diversidade desse serviço, porque dentro da UTIS dá-se resposta aos vários interesses dos alunos. Sendo esta uma comunidade numerosa, a qualidade não advém apenas do número, mas também da procura em responder às expectativas e aos interesses dos alunos.
(Excerto da entrevista executada pela Turma de Jornalismo e Comunicação, em contexto de sala de aula, para o ‘Jornal da UTIS’, de Fevereiro de 2019).