O performer italiano Alessandro Sciarroni apresenta sábado, 5 de Outubro, na praça de touros do Cartaxo, uma versão solo do seu projecto “Turning”, baseado no movimento giratório do corpo sobre o seu eixo.

“É uma peça que foi inspirada pelo movimento da migração de alguns animais e é uma jornada que quero partilhar com os espectadores e penso que vai ser uma apresentação especial porque vai acontecer numa arena, aqui no Cartaxo”, disse à Lusa.

A escolha da praça de touros para apresentar a mais recente peça do criador que este ano recebeu o Leão de Ouro da Bienal de Dança de Veneza pela sua carreira foi uma ideia de Elisabete Paiva, directora artística do Festival Materiais Diversos (FMD), que este ano celebra a sua décima edição.

Para Alessandro Sciarroni, actuar num espaço que é “bastante controverso” é para si “também um desafio”.

“Não sei se já foi feito antes. Ontem por exemplo fomos ver o espaço e consegues sentir esta estranha energia. É um lugar onde animais são mortos e as pessoas vão lá celebrar uma espécie de actividade muito específica. De certo modo, gosto de pensar que é uma maneira de requalificar um espaço, mostrando algo diferente nesse espaço”, disse.

O espectáculo vai acontecer no centro da arena, onde vai ser colocado o tapete de dança, com os espectadores a ficarem próximos de si, para que não se perca a empatia que gosta de sentir nos seus espectáculos, servindo o edifício de cenário.

Alessandro Sciarroni (que há 20 anos fez Erasmus em Portugal) está a participar na Escola de Verão “Na Prática” que o Centro de Estudos de Teatro (CET) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) está a realizar em parceria com a Materiais Diversos.

Numa conversa com os dramaturgistas Rui Pina Coelho e Gustavo Vicente, responsáveis pela escola de verão, que decorreu na quarta-feira ao final do dia no Centro Cultural do Cartaxo, Alessandro Sciarroni definiu-se não como um coreógrafo, mas como um actor que estudou história de arte e que faz espectáculos de dança baseados no movimento do corpo humano.

“Don’t be Frightened of Turning the Page”, cuja versão solo Alessandro Sciarroni apresenta sábado, nasceu depois da sua participação num projecto europeu sobre as migrações e de uma visita ao Canadá onde ficou fascinado com a misteriosa história dos salmões que depois de andarem pelos oceanos regressam ao lugar onde nasceram para se reproduzirem e morrerem.

A peça em torno de um único movimento, inspirada igualmente na dança folclórica, em particular sufi, pega igualmente no sentido de mudança que o termo “turning” pode assumir, referiu.

Sciarroni explicou que cada apresentação deste espectáculo tem acontecido com diferentes performers e diferentes músicas, sendo sua preocupação que os corpos que rodam encontrem prazer nesse movimento e o partilhem com os outros, criando empatia com a audiência.

Gustavo Vicente salientou a “poética de afectos” com que Alessandro Sciarroni se move no espectáculo, usando o corpo “como um ponto de partida”, havendo uma “activação interior”, mas em que o girar se faz “para fora, no sentido da esfera pública”.

Rui Pina Coelho referiu que a segunda edição da escola de verão do CET da FLUL está centrada no “pensar a condição de espectador”, visto como um “cúmplice”.

Esta é a segunda vez que Alessandro Sciarroni se apresenta no FMD, onde, em 2017, esteve com a peça “Folk-S”, da trilogia “Will you still love me tomorrow?”, prática performativa criada a partir de antigas danças folclóricas e do questionamento do tempo.

A décima edição do FMD arrancou no fim-de-semana passado em Minde e em Alcanena, estando esta semana a decorrer no Cartaxo.

Depois da inauguração da bioinstalação do Teatro do Frio “Selva Coragem” e do arranque do Projeto Pergunta, do colectivo chileno Mil m2, hoje à noite, no Centro Cultural do Cartaxo, Victor Hugo Pontes apresenta “Margem”, espectáculo inspirado nos “Capitães de Areia”, de Jorge Amado.

Na sexta-feira, Marta Cerqueira leva “Sublinhar” à Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense, durante o dia, e, à noite, no Centro Cultural do Cartaxo, acontece a estreia nacional de “Pleasant Island”, de Silke Huysmans e Hannes Dereere, e a inauguração da exposição “Para uma Timeline a Haver – Genealogias da dança enquanto prática artística em Portugal”.

Sábado, último dia do festival (para que no domingo não haja pretexto para não ir votar, como frisa Elisabete Paiva), além do espectáculo de Sciarroni, o Teatro do Silêncio apresenta a performance “Caminhar para Unir Territórios” e, à noite, Ana Rita Teodoro estreia em Portugal o espectáculo “FoFo”, sendo o encerramento feito, no Mercado Municipal, pelo Dj Maboku, numa festa organizada pelo festival Bons Sons, responsável pela programação musical do FMD.

Leia também...

‘Normal’ dia 24 de Setembro no Centro Cultural do Cartaxo

‘Normal’, uma co-criação, interpretação e concepção plástica de Ana Valente, Bruno Bernardo,…

Coro de 55 jovens japoneses enche Sé Catedral de Santarém

O coro de jovens japoneses «Gloria Boys Choir» deu um concerto na…

Tagus Big Band estreiam-se em concerto na Chamusca

O Cineteatro da Chamusca recebe, no próximo dia 20 de Dezembro, o…

Antiga Central Eléctrica vai acolher associações do concelho do Cartaxo

O presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, Pedro Magalhães Ribeiro, assinou, no…