Almeirim, 19 de Setembro – 22 horas. Corrida à Portuguesa – Corrida das Vindimas. Cavaleiros: João Moura, Ana Batista, Francisco Palha, João Salgueiro da Costa, Luís Rouxinol Jr. e António Ribeiro Telles (Filho); Grupos de Forcados Amadores de Coruche e da Chamusca; Ganadaria: Passanha (580, 576, 590, 546, 570 e 584 kgs); Director de Corrida: Marco Cardoso; Médico Veterinário: Dr. José Luís da Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: ¾ fortes.
A Arena de Almeirim engalanou-se para receber a última corrida da temporada que rapidamente se aproxima do seu termo, com um cartel interessante, mas pouco inovador, cujo aliciante maior até terá sido o seu carácter de beneficência – o que, em minha modesta opinião, até é um argumento redundante, posto que sendo a praça de toiros propriedade da Santa Casa de Misericórdia de Almeirim, sob gestão competente e dedicada do empresário Rui Bento – pressupõe-se que os lucros obtidos em todos os espectáculos revertam a favor da Instituição, constituindo-se, assim, como uma receita directa e assaz relevante. Mas, este aspecto pouco importa, pois, o mais importante é que o dinheirinho entre nos cofres da Misericórdia para lhe permitir cumprir o seu desígnio social. E, nesta noite tão agradável, e com tão bom ambiente taurino, arrecadaram-se 42.292,60 euros, o que não é nada despiciendo.
A Corrida das Vindimas já está consolidada no calendário do tauródromo almeirinense e o público já se habituou a marcar presença nesta data, o que é meio caminho andado para o seu sucesso, a parte restante fê-lo muito bem o empresário com uma estratégia de marketing bem montada e eficaz.
João Moura, figura maior da tauromaquia mundial, está em fase descendente da sua carreira, pois se é verdade que continua a evidenciar os seus bastos conhecimentos e apurada técnica, já se lhe notam fragilidades que deslustram a figura do toureiro que foi. Os jovens aficionados que não tiveram a sorte de o apreciar nos seus tempos áureos nunca poderão render-lhe o devido tributo, posto que aquilo que actualmente vêem é uma sombra do passado. Ainda assim, registaram-se alguns bons detalhes na colocação da ferragem e no remate das sortes, com um perfume mourista. Mas, claro, coisa pouca para a figura que é e para o tão importante que lhe vimos fazer.
Ana Batista, a celebrar esta temporada o 25.º aniversário da sua alternativa, continua em boa forma, dentro do estilo, clássico e sóbrio, que a caracteriza, e nesta noite em que foi distinguida por essa efeméride, não defraudou as expectativas dos seus apoiantes. Depois de cumprir com os compridos, veio a menos com as bandarilhas, que ficaram algo descaídas, o que sempre deslustra a função da toureira. Recuperou desse início menos bom e acabou por desenvolver uma lide mais consentânea com o seu valor, que o público aplaudiu.
Francisco Palha esteve igual a si próprio. Cultor de um estilo próprio, entre o clássico e o irreverente, Palha desenhou vistosa lide, dando sempre as vantagens ao seu oponente e colocando a ferragem em sortes frontais plenas de emoção e de risco. É esta dimensão do toureio que o verdadeiro aficionado aprecia, pois, sente-se que o toureiro nunca se acomoda e não se poupa a riscos para cumprir aquilo que dele se espera. E de Francisco Palha todos esperamos sempre muito, no que nos sentimos honrados.
João Salgueiro da Costa é um dos mais auspiciosos cavaleiros da actualidade, contando por triunfos a maioria das suas actuações, e nesta noite, a jogar em casa, não defraudou as melhores expectativas. O seu oponente saiu à medida, emprestando muita emoção à lide que o marialva almeirinense soube rubricar com classe e alegria. Citando de frente, deixando-se ver e a carregar a sorte no centro da reunião proporcionou momentos extraordinários de poder e de valor. Muito bem.
Luís Rouxinol Jr. não sabe perder um desafio, e nesta noite, entalado entre alguns dos melhores toureiros da sua geração, não virou a cara à luta, começando logo por receber o hastado numa emocionante sorte de gaiola, culminada com a colocação de vistoso comprido. Prosseguiu com o mesmo afã e logrou rubricar uma excelente lide, pautada pela vivacidade que transmitiu ao conclave, que nunca se cansou de aplaudir as valorosas sortes que ia realizando para colocar meritória ferragem, destacando-se um dos curtos e os dois palmitos com que rematou esta sua boa actuação.
O mais jovem do cartel, mas já toureiro muito seguro de si, foi António Ribeiro Telles (Filho), que, outrossim, não veio a Almeirim para passar tempo, mas sim para evidenciar uma vez mais os seus excelentes atributos de calção e de toureiro. Enfrentando um toiro que tinha os seus problemas, o mais jovem dos marialvas da Torrinha desenvolveu uma boa lide, pautada pela colocação de vistosa ferragem, em sortes frontais superiormente definidas e rematadas. Uma ou outra passagem em falso deveu-se ao facto de o toiro nem sempre investir com o ânimo desejado.
Os toiros de Passanha, irrepreensivelmente apresentados, tiveram um bom comportamento no geral, o que muito contribuiu para o sucesso do espectáculo, justificando a chamada do ganadeiro à arena, após a lide do quarto toiro da noite, tal como os dois Grupos de Forcados em presença que lograram consumar todas as pegas ao primeiro intento. Pelos Amadores de Coruche foram solistas Afonso Freitas, António Tomaz e José Prates e pelos Amadores da Chamusca, cujo Cabo se despedia esta noite do tauródromo da sua terra natal, foram solistas Bernardo Galinha, Francisco Rocha e Miguel Santos, todos muito bem ajudados pelos respectivos Grupos.
O Delegado Técnico da IGAC, Marco Cardoso, dirigiu esta corrida com acerto e ponderação, sendo apoiado tecnicamente pelo médico veterinário Dr. José Luís da Cruz, e os peões de brega coadjuvaram com competência as lides dos cavaleiros a cujas ordens se apresentaram, dignificando as suas funções tão relevantes, e nem sempre compreendidas pelo respeitável.
Enfim, a temporada almeirinense fechou com um bom espectáculo, com muito satisfatória presença de público e a percepção de que está conquistado o público que há-de garantir um bom futuro para a tauromaquia na nossa região. Um cumprimento ao Empresário Rui Bento que uma vez mais valorizou esta dimensão da nossa cultura e das nossas tradições.