As alterações climáticas estão a gerar “condições ideais” para várias doenças infecciosas, mas apenas 0,3% do financiamento global para combater as mudanças do clima são destinados à adaptação dos sistemas de saúde.

“As mudanças climáticas estão a criar as condições ideais para a transmissão de doenças infecciosas, potencialmente desfazendo décadas de progresso para controlar doenças como dengue, zika, malária e cólera”, alerta o relatório de 2021 da revista científica The Lancet sobre a saúde e alterações climáticas.

O estudo, que acompanha 44 indicadores de impactos na saúde directamente ligados às mudanças climáticas, avança que, a nível geral, os sistemas de saúde nacionais estão mal preparados para choques actuais e futuros induzidos pelo clima, já que apenas 45 de um conjunto de 91 países (49%) avaliaram as respectivas vulnerabilidades nesta matéria.

“O potencial de surtos de dengue, de chikungunya e de zika está a aumentar mais rapidamente em países com um índice de desenvolvimento humano muito alto, incluindo países europeus”, adianta ainda o “Lancet Countdown”, que congrega as conclusões de 38 instituições académicas e agências da ONU.

Além disso, a adequação das condições para infecções por malária está a crescer em regiões consideradas mais frias de países com baixo índice de desenvolvimento humano, refere a pesquisa, ao considerar também que as zonas costeiras do norte da Europa e dos EUA estão a tornar-se “mais propícias” ao desenvolvimento de bactérias que produzem gastroenterite e infecções graves.

“Este é o nosso sexto relatório que acompanha o progresso em saúde e alterações climáticas e, infelizmente, ainda não estamos a ver a mudança acelerada de que precisamos. Este ano vimos mais pessoas a sofrer de ondas de calor intensas, inundações mortais e incêndios florestais. Estes são avisos severos de que cada dia que atrasamos resposta às mudanças climáticas a situação fica mais crítica”, adiantou Maria Romanello, uma das autoras do estudo.

O documento refere ainda que “muitos planos de recuperação da covid-19 não são compatíveis com o Acordo de Paris (sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa) e, portanto, terão implicações para a saúde a longo prazo”.

Perante isso, o relatório defende que menos de um dólar em cada cinco gastos na recuperação da pandemia seja direccionado para o objectivo de reduzir as emissões.

De acordo com a The Lancet, mais de 569 milhões de pessoas vivem a menos de cinco metros acima do nível actual do mar, correndo riscos de inundações e de `salinização´ do solo e da água, o que poderá obrigar a uma migração para regiões do interior a prazo.

Os dados do estudo indicam também que cerca de 19% da superfície terrestre foi afectada por seca extrema num determinado mês em 2020, um fenómeno que não tinha ultrapassado os 13% entre 1930 e 1999.

“As alterações climáticas estão a impulsionar um aumento na frequência, intensidade e duração dos eventos de seca, ameaçando a segurança hídrica, saneamento e produtividade de alimentos, e aumentando o risco de incêndios florestais e exposição a poluentes”, alerta o relatório, ao avançar que os cinco anos com mais áreas afectadas pela seca extrema ocorreram desde 2015.

O documento preconiza ainda que os líderes globais aproveitem a fase pós-pandemia para implementarem planos de recuperação económicos e ambientalmente sustentáveis.

“À medida que os governos passam de gastos de emergência para a recuperação pós-pandemia de longo prazo, é vital que mais fundos sejam investidos para minimizar as mudanças climáticas”, refere o relatório.

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