António Luiz Pacheco, “um caçador que trabalha para poder caçar”, tem a paixão pelos livros e foi escrevendo, ao longo dos anos, artigos de viagens, sobre pesca submarina e caça.

Largueza (dois volumes) foi o seu primeiro romance, de fundo histórico e aventuras, exploração e costumes.

Aos 55 anos, rumou de vez a África, “por força, mas não vítima da crise económica e social”, revela.

Dez anos mais tarde assegura não ter ainda terminado de escrever a sua história.

Parte dela está espelhada neste novo romance, “Não tem Domingo na Equimina”, editado pela ‘Primeiro Capítulo’, em breve nas livrarias e disponível para encomenda pelo site da editora: https://www.livrariaatlantico.com/ficcao/nao-tem-domingo-na-equimina.

“Não tem Domingo na Equimina” leva-nos em viagem ao longo de 16 anos por uma Angola que poucos conhecem. Que Angola é essa?

É a das pessoas, das pessoas com quem lido diariamente de cujas vidas não se fala e de que nem se suspeita existirem. As pessoas que neste caso fazem as suas vidas nas praias. No meu trabalho e andanças de pesca ou caça, tenho percorrido todo o país, no mato sobretudo pelo Planalto e até Cabinda. A costa, pelo Centro e Sul de Angola, contactando nas praias uma realidade desconhecida, nas pescarias, onde se sobrevive a custo e de uma forma que diria oculta pois parece que só há vida em Luanda.

Que mensagem procura lançar com este livro?

Tento mostrar que existem formas de viver, diferentes dos nossos cânones europeus, coisa que é esquecida. A diversidade é a maior riqueza da Humanidade. É preciso percebê-lo para podermos aceitar quer as diferenças quer para podermos entrar nessas formas de vida. Nós portugueses sempre fomos bons em nos misturar com outros povos, passando a gostar doutras terras que passam a ser a nossa, e nossas, essas outras gentes. No caso presente, procuro explicar porque tantos gostamos de África. Parece ser o nosso fado!

Este é o seu segundo romance, depois de ‘Largueza’ que editou em dois volumes, também com uma passagem por África. Há denominadores comuns nas duas obras?

São dois romances diferentes, sendo aquele uma epopeia de fundo histórico, passada no século IXX – uma época que me fascina. Este agora, é passado na actualidade e usa factos bem fáceis de reconhecer na trama desenvolvida. Como denominador comum existe a humanidade e o bem-fazer aos outros. Acredito profundamente em que andamos cá na Terra, pelo menos para não prejudicarmos outros!

Assim, ambos falam de bons sentimentos, humanidade, solidariedade e tolerância. Se o personagem principal deste é trineto daquele do outro, todavia não há continuidade, apenas usei a genética para justificar e dar seguimento aos bons sentimentos e à generosidade.

Tem a paixão pelos livros e foi escrevendo, ao longo dos anos, artigos de viagens, sobre pesca submarina e caça. São temas que o apaixonam. Porquê?

É sabido que os livros são uma forma de viajar, seja pelo Mundo seja em nós mesmos, pois eles nos dão horizonte e todas as respostas. Sem livros somos seres incompletos e meros peões de um jogo que nem percebemos estar a ser jogado, ou peças inconscientes de uma máquina. No resto, nasci caçador e fiz-me pescador submarino, como podia ter nascido músico, arquitecto, cozinheiro, jornalista… aquilo que sinto e colho nessas actividades, nas suas múltiplas vertentes, preenche-me e dá-me a razão para viver. Calhou ser assim e sinto-me grato por isso, vivo-as como um todo na sua cultura diversificada, compondo uma cadeia com muitos elos, também humanos, profundamente ligado à Terra, ao Mar e á Natureza de que faço parte justamente porque sou caçador. Daí receber essa felicidade.

O que é isso de se intitular um “escritor desalinhado”?

Uma ironia que partilho com alguns companheiros de aventura da escrita: Não pertencemos a nenhuma editora, não temos padrinhos e viajamos livremente, por nossa conta e risco.

Que leitura faz da Angola de hoje e que futuro perspectiva para o país?

Angola de hoje é algo que ainda não existe… quero dizer que é um país que só agora se está a construir a si mesmo.

Tem um potencial imenso e fruto disso há tantas hipóteses, que não se conseguiu marcar objectivos. Tem faltado visão de conjunto e de estado, aos políticos e governantes, justamente pelas riquezas de que dispõem, porém não têm sabido usar no bem comum. O futuro, que me parece estar a ser preparado agora e finalmente, não conhecerá limites, se forem dados os passos certos, que tudo indica estarem a ser dados. Já se perderam gerações, tal não pode acontecer, dado que a primeira riqueza de um país é justamente o seu povo e nele se tem de investir antes de tudo. Na saúde, educação e no desenvolvimento da pequena economia que vai criar emprego e melhorar as vidas das pessoas, depois vai alimentar a média e então atrair a grande economia. Entretanto, evolui-se! Advogo que a solução para Portugal e Angola está na sua união, porque existe facilidade em nos entendermos e não apenas na língua.

Assim se saiba olhar para a frente, que é o caminho, e, não para trás. Escrever é sempre uma história inacabada.

Podemos esperar novo romance para breve?

Certamente, embora o “breve” seja algo indefinido, mas há ideias!

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