Moita do Ribatejo – Sábado, 24 de Maio, às 17 horas – Corrida de Gala à Antiga Portuguesa comemorativa do 50.º aniversário do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita. Cavaleiros: Rui Fernandes, Francisco Palha e Tristão Telles Queiroz; Forcados do Aposento da Moita (antigos e actuais); Concurso de Ganadarias: Murteira Grave (505 Kgs), Conde de Murça (510 Kgs), Herdeiros de Varela Crujo (560 Kgs), Mata-o-Demo (470 Kgs), Veiga Teixeira (530 Kgs), e Conde de la Corte (455 Kgs); Director de Corrida: Tiago Tavares, assessorado pelo Médico Veterinário, Jorge Moreira da Silva; Tempo: Quente; Entrada de Público: 2/3 da lotação.
O valoroso Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita do Ribatejo assinalou no passado sábado, dia 24 de Maio, meio século de existência e de ininterrupta e qualificada actividade prestigiando a arte de pegar toiros.
Para maior fausto, a corrida foi precedida de um cortejo de gala à antiga portuguesa, o que sempre empresta maior brilhantismo ao evento, porém, não parece ter atraído muita gente, pois esperava-se maior presença de público, tanto mais que o cartel era interessante, ainda mais valorizado pelo concurso de ganadarias e pela efeméride que se comemorava. Enfim, o sol quente terá aliciado muito boa gente para uma primeira jornada balnear.
A corrida saiu terciada, não havendo grande homogeneidade nem em termos de comportamento nem de apresentação dos toiros, tendo conquistado o Prémio de Bravura o toiro de Murteira Grave e de apresentação o exemplar de Veiga Teixeira. Nada a dizer.
Rui Fernandes abriu praça lidando correctamente o bravo toiro de Murteira Grave, citando de largo e a aproveitar as nobres investidas do cornúpeto que lhe permitiu colocar a ferragem em sortes muito emotivas. Este é o tipo de toiro que todos os cavaleiros desejam, pois investem de todos os terrenos, com alegria, e reúnem sem apertar o que dá azo a que o marialva se recreie no centro da reunião. No seu segundo toiro o desempenho foi de menor qualidade posto que também o seu oponente não tinha as mesmas características. Toiro pouco volumoso, transmitia pouca emoção, e não empolgou nem público nem toureiro. Ainda assim Rui Fernandes andou em plano de dignidade.
Francisco Palha assume com pleno risco todas as suas lides, nunca cedendo a facilidades nem comodismos. Assenta a sua tauromaquia num toureio de verdade, cedendo todas as vantagens aos seus oponentes, indo recto à cara dos toiros e colocando a ferragem em sortes do maior compromisso. Quando os toiros lhe permitem esta abordagem o resultado é magnífico, mas mesmo quando tal não sucede o aficionado nunca sai defraudado pois o marialva dá tudo o que é possível para sacar o tão desejado triunfo. Uma vez mais a Praça Daniel do Nascimento foi palco de duas grandes actuações de Francisco Palha, especialmente a segunda frente a um bonito toiro de Teixeira.
O mais jovem cavaleiro da terna, Tristão Telles Queiroz, não deixou os seus créditos em mãos alheias e muito porfiou para estar ao nível dos seus alternantes. Lidando com verdade e determinação, esmerando-se em respeitar a ortodoxia peculiar da linha “Ribeiro Telles”, Tristão andou em muito bom plano exibindo as reconhecidas faculdades técnicas e artísticas que o hão-de catapultar a uma posição cimeira no respectivo escalafón, sobretudo no primeiro do seu lote, toiro incómodo, mas frente ao qual o jovem marialva evidenciou muito valor e bastos recursos técnicos, tendo vindo um pouco a menos no que encerrou a corrida, mas ainda assim em muito bom nível.
O prestigiado Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita do Ribatejo celebrava nesta corrida o cinquentenário da sua fundação, e fardou quase todos os Cabos desde o fundador, Dr. José Manuel Pires da Costa, até ao que nesta tarde passava o testemunho ao jovem Luís Canto Moniz, Leonardo Mathias. Pelo meio, e sempre com inexcedível empenho e notável competência, passaram Manuel Vieira Duque, João Simões, Hélder Queiroz, Tiago Ribeiro e José Pedro Pires da Costa, apenas não tendo estado presente, por razões profissionais, José Maria Bettencourt.
O Grupo fardou cerca de cem forcados, de todas as gerações, e os mais veteranos tiveram a oportunidade de satisfazer o gosto e matar saudades, intervindo em quase todas as pegas, mesmo como caras.
Nesta gloriosa tarde, em que cinco das seis pegas foram consumadas ao primeiro intento, foram solistas João Freitas, que esteve brilhante, exibindo o grande poderio que sempre lhe foi reconhecido, João Camejo, que esteve irrepreensível numa sorte que bem poderia constituir um hino de exaltação à arte de pegar toiros, na qual tudo roçou a perfeição; o Cabo cessante, Leonardo Mathias, que rubricou uma sorte extraordinária, brindada a todo o Grupo, na qual revelou a sua elevada técnica e um pleno domínio em todos os momentos; o novo Cabo, Luís Canto Moniz, que esteve enorme, pujante de faculdades técnicas e artísticas, como é seu timbre; André Silva, que esteve também muito eficaz a dobrar o veterano forcado Fernando Parente, que foi derrotado com muita violência na sua única tentativa, tendo ficado inanimado, recolhendo à enfermaria da praça, vindo a restabelecer-se posteriormente, sem evidência de lesões preocupantes; e a última pega da corrida foi concretizada com imenso brilhantismo por António Ramalho, que se despediu nesta tarde e brindou esta sua última intervenção ao companheiro Nuno Mata.
Cumpre sublinhar que todos os forcados que pisaram a arena da “Daniel do Nascimento” estiveram sempre em elevado plano, destacando-se o antigo Cabo Tiago Ribeiro que rabejou com tremenda qualidade quatro toiros. O Grupo saiu apoteoticamente pela Porta Grande. Justíssimo!
Os peões de brega dos três marialvas andaram diligentes e oportunos nas suas intervenções, com conta, peso e medida, como convém e a direcção da corrida foi competente e ponderada.