A Escola Superior Agrária de Santarém (ESAS) assinala a 11 de Novembro 135 anos de serviço à região. Com um ensino e uma investigação baseados numa abordagem científica, fortemente orientada para a aplicação prática, na qual os estudantes são incentivados desde muito cedo a integrarem os projectos de investigação, a ESAS está a olhar mais além, agregando conhecimento em diferentes áreas de especialização, incluindo as ciências agrárias e veterinárias, a biologia e biotecnologia, a tecnologia alimentar e a digitalização, permitindo uma abordagem abrangente de temas reais da sociedade.
Nesta entrevista, a propósito do Aniversário de uma escola com um vasto legado no ensino agrícola no País, a directora, Margarida Oliveira, olha para o futuro com optimismo: “Vale a pena estudar aqui, na Escola Superior Agrária de Santarém, e cá estaremos mais 135 anos!”
Quais são, na actualidade, os principais desafios que a Escola enfrenta?
São bastantes. Sobretudo numa altura em que o sector agrícola ainda é visto como um sector muito tradicional, quando, na realidade já não o é.
Estamos a falar de uma área profissional altamente tecnológica e é preciso desmistificar isto junto das camadas mais jovens. Para perceberem que o sector agro-alimentar e agro-pecuário mudou total e radicalmente. Estamos a falar de uma profissão que necessita de técnicos altamente especializados, com competências ao nível da digitalização, tratamento de dados e tecnologia.
Outros desafios que temos, enquanto Instituto Politécnico, passam pela nossa afirmação enquanto entidade de investigação. Faceta que, muitas vezes, não é vista ou reconhecida pela sociedade. E, para nós, enquanto politécnico inserido num território agrícola, é crucial passar esta mensagem, junto do território, que somos parceiros no âmbito da investigação, da inovação e da transferência de tecnologia.
Foi recentemente aprovado um doutoramento em Sustentabilidade Agro-alimentar e Ambiental, no qual a Agrária terá um papel. É um doutoramento em consórcio na área da sustentabilidade. Esse é um passo importante?
Estamos, precisamente, a ultimar a candidatura: é um doutoramento em consórcio, no âmbito do CERNAS – Centro de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade, uma unidade de investigação reconhecida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Trata-se de um Centro de Investigação relativamente recente aqui na instituição. Estamos, neste momento, a criar um polo com os nossos investigadores, e é no âmbito
deste Centro que estamos a definir todo este plano, em consórcio com Coimbra, Viseu, Castelo Branco.
As instituições têm de ter robustez ao nível da investigação. Precisamos de mais investigadores. Precisamos de formar mais pessoas altamente capacitadas, não só para o território, mas para as próprias instituições.
Temos um corpo docente que está muito próximo da aposentação. É necessário fazer a renovação destes quadros, e a aposta nos doutoramentos, naquilo que são as áreas fundamentais dos ciclos de estudo das nossas instituições é um passo estratégico e premente.
Quais são as grandes forças da Escola Superior Agrária de Santarém e quais os aspectos que diferenciam o ensino na ESA das suas congéneres?
O que nos diferencia é o facto de termos quintas experimentais e núcleos de produção de animais. Temos, como missão, o ensino baseado em projectos e na experimentação.
“Aprender fazendo” é a chave para o nosso sucesso pedagógico. Já não se pode ensinar como se ensinava há 20 anos atrás.
O perfil dos estudantes é diferente e isso obriga a que os professores também tenham perfis diferentes e estejam em permanente inovação pedagógica: isso tem sido aposta da nossa instituição nos últimos anos. E tem sido, creio, factor diferenciador e a chave do sucesso dos nossos cursos.
A Agrária é também uma escola que produz: há produção de queijos, azeites, vinhos. Essa é uma componente importante ao nível da formação? Qual a filosofia subjacente a este posicionamento?
Nós temos campos de demonstração e isso permite que os estudantes possam desenvolver a sua actividade ao nível das quintas, mas também oficinas tecnológicas.
As oficinas permitem, à escala real, o desenvolvimento de produtos de excelência como azeites, queijos, enchidos, que são desenvolvidos aqui na escola e colocados no mercado. Por outro lado, este espaço que temos, também está disponível para os nossos estudantes. Um aluno que pretenda iniciar a sua actividade de empreendedorismo, que é difícil, se tiver que adquirir equipamento e espaço, poderá iniciar-se aqui, connosco, na escola, e lançar uma ‘start up’. Temos vários exemplos disso. Iniciamos aqui uma actividade um pouco diferente ao nível dos insectos, com antigos estudantes nossos que estavam a trabalhar a produção de grilos para alimentação humana. Isso é o espelho e permite que outros estudantes olhem para nós como suporte quando terminam o curso.
Que linhas programáticas definiu e que prioridades estão estabelecidas para este mandato? Que marca quer deixar na Escola durante a sua presidência?
O nosso grande objectivo é focarmo-nos nas pessoas. A nossa instituição é de pessoas para pessoas. A nossa grande preocupação é com o bem-estar, tanto ao nível dos funcionários, mas também por parte dos estudantes, para que eles sintam, efectivamente, que esta é a casa deles, que podem ter aqui todo o suporte necessário, não só do ponto de vista académico, pedagógico, mas, também, quando terminam o curso, poderem instalar-se e ficar por cá.
Outra área estratégica é, sem dúvida, a investigação: este é um trabalho já iniciado no mandato anterior e, agora, conseguimos consolidar a fixação do Centro de Investigação. Isto não se faz em quatro meses, é trabalho que vem de trás.
O objectivo é trazer os colegas que estavam em Centros de Investigação fora do Instituto para “dentro de casa”. É muito importante ter a marca da investigação na Escola Superior Agrária de Santarém.
Temos, por outro lado, o objectivo de conseguir agregar todo o conhecimento aqui, com a marca Escola Superior Agrária de Santarém. O doutoramento é um segundo passo ao nível da investigação e, depois, é trabalhar junto das empresas.
Só faz sentido fazer investigação se for investigação aplicada para resolução de problemas do nosso território. Esta ligação às empresas como parceiros na identificação de problemas, na procura de soluções, é seguramente aquilo que pretendemos.
Numa altura em que a escola faz 135 anos, como será o futuro da Escola? Onde é que gostava de ver a ESA daqui a 10 anos?
A escola vai mudar: os tempos de mudança são grandes. Hoje, o ensino superior já não tem o perfil tradicional dos jovens de 18 anos… há uma grande necessidade de capacitar quem já está no mercado de trabalho. Isso exige mudanças ao nível institucional. Trabalhar outros públicos
para capacitar, numa perspetiva mais profissional.
A investigação, que é um trabalho continuado, tem que ser potenciado e a questão de aproximação ao território é, sem dúvida, um desafio.
Que mensagem quer deixar à comunidade escolar?
Esta é uma escola com um legado: foram 135 anos de desafios que a Escola enfrentou. Vale a pena estudar aqui, na Escola Superior Agrária de Santarém, e cá estaremos mais 135 anos!